É passar pelo Trapiche e me lembrar do Trapichão. Vem à tona a sua inauguração, em tarde festiva. Lá estive. Não só eu. Pelé também. Pelé jogou. Era o que sabia fazer. Me lembro até de um gol, descendo pela esquerda, quase sem ângulo, chutou. Cocorote, debaixo da trave, abriu os braços. A bola passou exata e matematicamente no meio deles. Gol tão bonito que não esqueci. Se fez outros, não me lembro. O Santos venceu a Seleção Alagoana, e, eu lá, no fundo do gol, máquina fotográfica pendurada no pescoço, a honra imensa de ter fotografado Pelé. Eu não joguei, esclareço. Já tinha desistido de ser jogador de futebol, para felicidade geral da nação.
Mas, devagar com o andor. Fotografar, fotografei. Guardo até a foto, que um dia desse descobri e mostrei aos meus pimpolhos. Fotografei, com muita dificuldade. Quando apontava a máquina e conseguia a imagem ideal, um repórter aparecia em minha frente para entrevistar Pelé. Parecia urubu descobrindo carniça. A comparação é deselegante, mas ninguém deixava Pelé em paz. Só quando o Hino Nacional foi tocado, finalmente, consegui espaço para, com a Yaschica, 6 por 6, fotografar Pelé. Faz tempo que encontrei a foto. Não sei mais onde a coloquei. Da próxima vez que com ela me deparar, vou ter cuidado para guardá-la em local onde a encontre com facilidade, colocando-a em envelope, com legenda: a foto que tirei de Pelé. E a data respectiva.
Foi uma tarde inesquecível. Armando Marques apitava a peleja. Eu ouvia um fotógrafo aracajuano, meu amigo, ao meu lado, no fundo da trave, a ele referir-se com desdém. Enterrou meu projeto de tirar um retrato ao seu lado. Terminado o primeiro tempo, quando percebi, olhe o fotógrafo com a mão no ombro de Amando Marques, alguém colhendo o lance, aí criei coragem e o fotógrafo, o que dizia horrores do árbitro, foi convocado para a foto, que a tenho guardado, a testemunhar minha efêmera vida de repórter de campo, que nunca fui, mas aproveitava da carteirinha de O Serrano para ficar no gramado, algumas vezes, a máquina em punho. Verdade.
Bons tempos. Talvez ainda tenha o negativo da foto de Pelé. Da minha com Armando Marques, em tamanho maior, mantenho-a em álbum. O que me irrita é que, quando a mostro a alguém, a irritante pergunta: é você mesmo? A vontade de responder: não, é sua mãe. Me controlo…
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras