ARACAJU/SE, 18 de maio de 2024 , 14:08:26

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Querem fuzuê

Em qualquer área da vida social, é lícita a luta pela ocupação de espaços e válida a disputa pelas esferas de poder. Na Universidade Federal de Sergipe, vem de longe o embate de segmentos diversos pela ocupação do espaço na gestão da Reitoria, dos Campi, dos Centros e até dos Departamentos. Natural. É que bom que seja assim. Processo democrático, quando, deveras, prevalece a luta pela democracia e pelo seu aprimoramento.

Em 1997, eu ingressei na UFS como professor efetivo, no curso de Direito. Acompanhei, equidistante os mandatos de José Fernandes de Lima e de Josué Modesto dos Passos Subrinho e, de perto, os mandatos de Angelo Roberto Antoniolli. Todos enfrentaram oposição de agrupamentos que, por motivos variados, não tinham laços estreitados com eles. Todavia, não se verificava um acirramento contundente e raivoso.

Com o atual reitor, Valter Joviniano de Santana Filho, há uma oposição raivosa, como se sobre ele pesasse algo estupidamente negativo, na visão caolha de alguns oposicionistas. Qual a razão? Não foi pela maneira como se deu a sua eleição, até porque ela ocorreu na forma prevista pelas normas postas, naquele momento. Tentaram subverter aquele normativo, mas não conseguiram. Os segmentos contrários à gestão e à candidatura de Valter, ainda assim, concorreram com ele na eleição realizada no Conselho Superior – CONSU, nela sendo votados quatro postulantes ao cargo de reitor. Valter venceu. Se, por acaso, o segundo colocado naquele pleito, ou um (a) dos (as) outros (as) tivesse vencido, a eleição no CONSU seria considerada pelo segmento oposicionista vencedor, como válida, como legal? Claro que sim. Porque foi legal mesmo.

Então, por que esse acirramento violento contra Valter? Por que ele é negro? O primeiro negro a ocupar o cargo de reitor? A reitoria não é lugar para negro? Ou por que ele tem um viés organizado, na gestão, planejando e executando com critérios determinantes? Outros, ao seu modo e no seu tempo, também tiveram. Por que, pois, há uma espécie de raiva declarada contra Valter? Não é à toa que isso se dá. Não é só a luta pelo poder, pura e simplesmente. Há algo maior e absurdo. Insisto: é por que ele é negro? Há, nos dias de hoje, numa Universidade pública, esse viés, essa pecha reprovável sob todos os aspectos? Ora, que ridículo, quando quiseram, inclusive, por conta da nomeação de um professor negro, imputar a Valter a pecha de racismo, quando havia regras a cumprir. Até isso! Vejam: quem escreve este texto é um negro de 69 anos de idade e quase 51 de vida pública, passando por vários cargos na gestão pública federal, estadual e municipal, direta ou indireta. Que, também, aqui ou acolá, passou por poucas e boas.

Diante do regramento da eleição para a Reitoria, por normas federais e de acordo com a Resolução nº 44/2022, do CONSU, regulamentando as eleições na UFS, Resolução esta que foi votada por unanimidade pelos membros do Conselho Superior (formado por  representantes dos professores, técnicos e estudantes), e não imposta pelo reitor, que não tem poder para tanto, criou-se a ideia estapafúrdia de, numa assembleia (a assembleia é legítima quando convocada para fins legais), na qual tentarão subverter a ordem legal estabelecida, invocando uma tal tradição, como se o processo histórico, aqui ou alhures, não fosse dinâmico, e a tradição tivesse que imperar contra os processos evolutivos, que a democracia exige e aprimora, ao longo dos tempos.

Convocaram uma assembleia a ser realizada em espaço aberto, às 14 horas do dia 13. Em espaço aberto? Quem vai estar nessa assembleia? Somente alunos, professores e técnicos-administrativos? Ou outros segmentos de fora da UFS, também serão arrebanhados, pois, como se sabe, tem elementos da vida político-partidária (e sabe-se muito bem quem está por trás disso), nos bastidores, dando suporte, a quem promove a assembleia? Enfim, uma assembleia, na sede da UFS, no Rosa Elze, sem contar com as comunidades dos demais Campi – Laranjeiras, Itabaiana, Lagarto e Glória? Uma assembleia, talvez, com algumas dezenas de participantes, treinados e instrumentalizados, quando a comunidade acadêmica da UFS soma muitos milhares, entre professores, técnicos e alunos? Chamam a isso de assembleia universitária?

Estão brincando com fogo. Ou melhor, estão querendo bagunçar. Querem ganhar no grito? Querem fazer estardalhaço. Querem fuzuê.