ARACAJU/SE, 27 de abril de 2024 , 17:31:33

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Com apenas 6,02% de vegetação intacta, caatinga sergipana ‘grita’ por socorro

Da redação, Joângelo Custódio

Nessa quinta-feira, 28 de abril, foi celebrado o Dia Nacional da Caatinga, bioma genuinamente nordestino que ocupa cerca de 844 mil quilômetros quadrados, o equivalente a 11% do território do País, e engloba os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o Norte de Minas Gerais. Mas ao que parece, não há muito o que se comemorar.

Isso porque em Sergipe, assim como nos demais Estados citados, esse bioma, exclusivamente brasileiro e com um patrimônio biológico único no planeta, passa por um violento processo de desflorestamento, que pode não ter volta.

Conforme o Inventário Florestal do Estado, publicado em 2018, são 28 municípios recortados por caatinga em Sergipe, dividida em caatingas Xerófitas e Hiper-Xerófitas.

Para facilitar a compreensão do leitor, se dividirmos o mapa do Estado em dois, teremos, do lado direito ou parte Leste, a mata atlântica, com apenas 6,8% do que resta de vegetação nativa; e do lado esquerdo, principalmente no recorte Noroeste, a caatinga, com apenas 6,2% de cobertura vegetal, totalizando 13% de área verde remanescente, o que leva a reflexão: Sergipe é um estado ‘careca’ e forte candidato a apresentar áreas desertificadas, num futuro não muito distante.

Francisco Honorato, presidente da Associação Sergipana dos Vaqueiros, teme que, com o processo de desertificação, a tradicional vaquejada – onde o vaqueiro, vestido de gibão e montado num cavalo, se embrenha no meio da caatinga cercada por cactos, mandacarus e xiquexiques, num solo árido e pedregoso, em busca de um garrote solto no mato – também se perca no tempo.

“A região já é difícil de se viver, se a gente não preservar o resto que tem, não teremos nada, vai faltar comida. Eu, como vaqueiro tradicional, vejo a vaquejada como uma forma de preservação da caatinga, porque é lá que nós fazemos a nossa vida, a nossa brincadeira. Se a caatinga acabar, a vaquejada, o pega boi vai embora também. Desde criança que meu pai criava gado e a gente se apegou a essa cultura. É uma paixão que todos nós temos. Eu encareço, pela amor de Deus, não desmatem a caatinga, pra ver se a chuva vem e alivia o nosso coração”, suplica o vaqueiro.

CAUSAS

O desflorestamento, o uso intensivo de terras para a agricultura, a pecuária, a retirada de lenha para fins energéticos e de mineração estão entre os fatores que originaram o processo de desertificação da caatinga sergipana, especialmente entre os municípios de Poço Redondo, Canindé de São Francisco e Porto da Folha.

De acordo com o engenheiro florestal Elísio Marinho, ao desmatar a caatinga, os solos ficam completamente expostos a todas as intempéries. “Além do desmatamento, a irregularidade das chuvas contribui para que a degradação seja ainda mais acentuada em algumas regiões. Ela vem sofrendo, ao longo dos anos, esse processo de desmatamento. Isso acontece, na minha opinião, porque não existe uma legislação específica para a caatinga, como existe para a mata atlântica, e isso fragiliza o bioma. O outro fator é o avanço da mecanização nessa área, ou seja, os grandes proprietários estão destruindo a caatinga, iniciando uma agricultura de precisão. Há também o processo de desmatamento por subsistência ou extrativismo, mas esse não acaba efetivamente com a caatinga. O que está acabando é a invasão da agricultura de forma descontrolada”, diz o engenheiro.

ÁREA DE PRESERVAÇÃO

Para conter o avanço do desmatamento, o Governo administra o Monumento Natural (Mona) Grota do Angico, localizado entre os municípios de Canindé de São Francisco e Poço Redondo, o qual teve sua sede revitalizada, e entregue no mesmo dia em que se celebra o Dia Nacional da Caatinga, contando com uma programação especial com palestras, apresentação cultural e rodas de conversas com especialistas.

Os recursos investidos na reforma são oriundos de compensação ambiental das Centrais Elétricas de Sergipe S.A. (Celse).

O gestor da Superintendência Especial de Recursos Hídricos e Meio Ambiente (Serhma), vinculada à Sedurbs, Ailton Rocha, falou sobre a importância da revitalização deste importante equipamento de preservação do Meio Ambiente.

“Este é um bioma exclusivamente brasileiro, que abrange 10 estados, com mais de 4,5 mil espécies vegetais. Esta unidade de conservação representa isso tudo. Este Governo está preservando, enquanto em outros lugares está se destruindo. Nenhum Governo fez tanto quanto este na questão de políticas ambientais. Somos uma referência nacional, deixando um grande patrimônio. Esta unidade foi criada em 2007 e a sede em 2010 e, agora, é feita mais que uma reforma, é uma restauração. Esta técnica estava desativada, hoje a criação e manutenção da unidade de conservação não onera os cofres públicos do Estado e é um modelo de PPP, que associa a gestão ao fortalecimento da governança”, explicou o superintendente.

MONA GROTA DO ANGICO 

O Monumento Natural Grota do Angico foi criado através do Decreto Estadual Nº 24.922, de 21 de dezembro de 2007, na região do Alto Sertão sergipano. O local abriga remanescentes florestais da caatinga, com uma área total de 2.248 hectares, e tem o propósito de preservar o sítio natural Grota do Angico e elementos culturais associados. A unidade busca manter a integridade dos ecossistemas, para o desenvolvimento de pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo e visitação pública, preservando a cultura local do Cangaço.

A Grota de Angico é conhecida nacionalmente por ter sido o local da morte de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita) e integrantes do seu bando, em 1938.

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