Ir ao hospital não é das experiências mais agradáveis para as crianças. Principalmente quando precisam se separar dos pais, os filhos podem ficar com medo e começar a chorar. Para tornar este momento menos estressante para todos, o otorrino Leandro Brandão Guimarães, 38, de Divinópolis, Minas Gerais, criou uma técnica infalível para acalmar os pequenos pacientes. Em vídeo que viralizou nas redes sociais, o médico aparece levando crianças para o centro cirúrgico usando capas e máscaras de diferentes personagens, desde o Batman até a Mulher Maravilha.
Alguns preferem ir correndo, outros andando e tem até aqueles que Leandro pega no colo para entrarem “voando”. O clipe fez muito sucesso, alcançando mais de 6,6 milhões de visualizações e 14 mil comentários no perfil de Instagram do otorrino. “Vou estar sempre ao lado de vocês! Tentando fazer com que esse momento tenso seja o mais leve possível…Contem comigo”, escreveu na legenda.
Leandro conta que opera crianças há 12 anos, mas há cerca de 7 anos já começou a fazer essa brincadeira com os pequenos. “A ideia surgiu da angústia de ter que levar as crianças ao centro cirúrgico. Elas têm medo de entrar no hospital, porque sabem que vem algo ruim, é sempre vacina, exame…não é fácil para elas”, diz o médico, em entrevista exclusiva à CRESCER.
A pior parte é o momento de levá-las sozinhas para a sala de cirurgia, tendo que separá-las dos pais. “As crianças ficam desesperadas, choram, grudam na mãe, gritam, sempre me deixou muito angustiado. Tenho uma relação boa com as crianças do consultório, mesmo assim, na hora sempre dá um medo nelas. Há uns anos, teve uma paciente em específico, a Alana, que atendo até hoje, que fiquei traumatizado de arrancá-la do colo da mãe e jurei que não ia fazer mais isso”, conta o especialista, que é pai da Clara, 7, e do Murilo, 3.
Um dia, ele viu um vídeo de um hospital de San Diego, na Califórnia, em que os médicos levavam as crianças em um carrinho divertido, que o deixou inspirado, mas ele ainda queria fazer algo mais animado. “Queria uma bagunça, criança gosta de bagunça, de correr, de gritar, então, tive a ideia das fantasias. Procurei na internet e consegui uma pessoa que faz as capas e as máscaras e me envia com uma periodicidade. Assim, comecei a oferecer para as crianças quando chegam no hospital”, lembra Leandro.
Para ele, foi fácil introduzir a brincadeira com os pequenos, toda a atuação veio com naturalidade. “Antes, eu já tinha trabalhado com uma organização como a Doutores da Alegria. Na faculdade, eu também tive aula de teatro para ter mais essa carta na manga. Eu trouxe muito dessas aprendizagens da palhaçaria para usar nos atendimentos”, afirma.
Um ambiente mais leve
A chegada das crianças no hospital já é difícil para os pequenos. “Primeiro, as crianças ficam na parte externa, onde esperam com os pais e, vira e mexe, eu ouço elas chorando, porque têm que colocar a bata de cirurgia, que elas odeiam, mas isso é padrão de hospital. Elas estão de jejum, são seis da manhã, é um acúmulo de coisas ruins para elas”, explica.
Para amenizar a situação, o otorrino prefere fazer algumas adaptações. “Normalmente, vou até ela e falo que tudo bem ficar de roupinha para não deixar a criança mais estressada. Faço de tudo para acalmá-las”, conta. Nessa hora, ele também já começa a falar das fantasias e pergunta qual ela vai querer. “Dá para ver o olhinho brilhar e tudo muda, ela já para de chorar. Uma coisa tão simples faz toda a diferença”, afirma.
O otorrino gosta de explicar com calma todo o procedimento para os pequenos pacientes antes e, quando eles ficam prontos, se prepara para a grande entrada no centro cirúrgico. “Eu dou opções, pergunto se prefere entrar voando, andando ou correndo, para a criança sentir que está no comando. A criança nem vê que está sendo separada da mãe. Sem choro e sem trauma”, diz Leandro.
Até a equipe do bloco cirúrgico entra na brincadeira. “Mudou o ambiente do hospital. Tem um aquário em que dá para ver as crianças passando fantasiadas e a equipe fica lá para filmar. Todo mundo se diverte e fica muito mais leve para os pequenos, para as famílias e para os médicos também”, destaca.
Repercussão e engajamento
Leandro nunca imaginava que o seu vídeo teria a repercussão que teve, mas foi uma ótima surpresa! “Recebi muitas mensagens que me fizeram chorar, tinham muitos comentários de pessoas que faço atendimento. Chegou até a pessoas de vários países da América Latina, da Europa, dos Estados Unidos, do mundo inteiro”, afirma.
O médico ficou muito feliz em saber que sua ideia de tornar o processo cirúrgico mais tranquilo está chegando a tanta gente e espera fazer a diferença. “É uma forma de mostrar que tem outro jeito de fazer e é uma coisa muito simples. Já tiveram colegas meus que me disseram que vão aderir também. Quero mesmo que todo mundo faça, porque é para o benefício da família, da criança e de todos”, finaliza.
Fonte: Revista Crescer