ARACAJU/SE, 27 de julho de 2024 , 1:28:31

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Nubank fixa preço de US$ 9 por ação em IPO e é banco mais valioso da América Latina

 

O Nubank acaba de fixar preço de US$ 9 por ação em seu IPO na Nyse, apurou o Pipeline. O valor ficou no ponto máximo da faixa indicativa, que começava em US$ 8. O banco digital brasileiro reduziu a faixa em 20% na semana passada, em resposta à maior volatilidade dos mercados e revisão generalizada de preços no setor de tecnologia.  Ainda assim, vai estrear na quinta-feira avaliado em mais de US$ 41,5 bilhões, cravando o maior valor de mercado entre os bancos listados da América Latina.

Ao câmbio atual, o segundo banco brasileiro de maior valor é o Itaú, valendo US$ 37,7 bilhões, seguido do Bradesco, com US$ 33,3 bilhões, segundo a Economatica. O banco fundado pelo trio David Vélez, Cristina Junqueira e Ed Wible também passa outras instituições globais tradicionais, como o alemão Deustche Bank e o japonês Mizuho Financial Group.

Na oferta brasileira, cada BDR tem 1/6 do valor da ação americana, o que colocava a faixa indicativa de R$ 7,45 a R$ 8,38 ao câmbio de 26 de novembro. A operação, inteiramente primária, levanta US$ 2,6 bilhões na oferta base. Se alocados os lotes adicional e suplementar, o que está sendo definido pela companhia com os bancos neste momento, pode subir para até US$ 3,4 bilhões. Com essas alocações, o valor de mercado inicial também subiria em US$ 800 milhões, chegando a US$ 42,3 bi.

Os coordenadores globais são Morgan Stanley, Goldman Sachs e Citi. No Brasil, a NuInvest (antiga Easynvest) liderou a operação ao lado desse trio, que contou ainda com HSBC, UBS-BB e Safra.

Para o IPO, as ambições do Nubank foram se reduzindo nos últimos meses, com investidores mais ressabiados com tech e especialmente com techs brasileiras. A experiência negativa da Stone no crédito, que cortou pela metade o valor da companhia, assim como a preferência de acionistas do Inter por um resgate da ação ao invés da aposta na migração para a Nasdaq foram alguns exemplos dos ajustes no caminho.

Quando começou a contratar os bancos para coordenar a oferta, o Nubank falava num valuation de US$ 75 bilhões a US$ 100 bilhões. Três meses depois, quando efetivamente lançou a oferta, o patamar já estava na casa de US$ 50 bilhões e, com a piora de cenário, teve que ser reduzido mais uma vez.

Com ancoragem de gente grande como Sequoia, Tiger, SoftBank, Dragoneer e Baillie Gifford, o banco digital ainda conseguiu amortecer boa parte do impacto da volatilidade, com a manifestação de interesse desse grupo de investidores por quase metade da oferta. A curiosidade do mercado se volta agora para o comportamento dos papéis na estreia, amanhã na Nyse e na B3, e ao longo dos próximos dias — o que será determinante para outras startups brasileiras continuarem seus planos listagem ou colocarem na gaveta por um bom tempo.

Na oferta, o banco ousou com um programa inédito de bonificação de BDRs aos correntistas no Brasil, que era inicialmente de R$ 180 milhões e poderia chegar a R$ 225 milhões. Conforme uma fonte, o banco teve que penar para convencer os clientes de que valia a pena aderir, mas efetivou menos da metade do que pretendia — o que internamente foi atribuído à baixa educação financeira da base. Ainda assim, conseguiu atrair alguns milhares de investidores novatos para a bolsa.

Outra jogada do banco foi fazer a distribuição no Brasil exclusivamente pela NuInvest, o que significa que todo investidor que quis reservar BDRs na oferta, inclusive os mais experientes e os traders, e ainda não era cliente, teve que abrir uma conta na corretora da casa. Além de atrair novos usuários, a estratégia fechava a conta do marketing: só a comissão da NuInvest como coordenadora já era mais que suficiente para bancar o programa de bonificação local.

O banco digital tem atualmente 48 milhões de clientes no Brasil, Colômbia e México – incluindo 1,1 milhão de PMEs na recém-lançada conta PJ – a um CAC médio atual de US$ 5,00. Há três anos, eram 6 milhões de clientes ao todo. Em nove meses, a receita aumentou 108% para R$ 5,7 bilhões, mas o prejuízo também aumentou, para R$ 528 milhões no período. Ainda que a base de clientes seja extensa e cresça rápido, os múltiplos do Nubank considerando sua rentabilidade arrepiam a concorrência. Grandes bancos tradicionais são negociados entre 1,2 a 1,5x o valor patrimonial na bolsa brasileira.

Há uma pressão dos grandes bancos para que o BC coloque as fintechs em pé de igualdade regulatória, considerando o porte que muitas delas já tomaram no sistema financeiro nacional. O Nubank é notadamente um caso, no cartão de crédito. A expectativa é que o BC peça enquadramentos às exigências tradicionais já no ano que vem, conforme a atividade em que há grande volume, não de toda a instituição.

“Fintech não fala em Basileia, mas algumas delas já têm volume para chacoalhar o sistema”, diz o chefe de um grande banco de varejo. Os bancões, aliás, também aproveitaram o ensejo recente para provocar o BC sobre a conselheira Anitta que, na avaliação deles, não teria os requerimentos técnicos e de experiência prévia exigidos pelo regulador quando submetem suas aprovações de board. “É outro exemplo de como as exigências são diferentes”, diz esse executivo.

Concorrência de lado, o Nubank tem desafios no seu próprio negócio. O banco quer aumentar a receita e o lucro bruto por cliente e estima que a receita média mensal por cliente de varejo ativo dos bancos incumbentes no Brasil tenha sido 10 vezes maior que a sua no primeiro semestre do ano — e que, com produtos sem taxa, pode não chegar nessa magnitude, mas elevar o patamar em que está hoje.

Para monetizar a base, o Nubank tem entrado em novas áreas de negócio, com parcerias e aquisições, incluindo investimentos, seguros, assessoria financeira e também quer ser investidor em startups de setores distintos do seu, mas que possam provocar semelhantes quebras de paradigmas em telecomunicações, saúde e e-commerce. Cerca de 25% do capital levantado na oferta deve ir para novas aquisições e o restante para capital de giro e despesas operacionais e financeiras.

A companhia também tem falado a investidores sobre sua expansão geográfica. A operação hoje é no Brasil, Colômbia e México, mas o o banco tem participação em uma fintech indiana. O Nubank tem hubs técnicos no Uruguai, Argentina, Estados Unidos e Alemanha.

Na Nyse e na B3, os tickers serão NU e NUBR33, respectivamente. No purple day, além dos prédios das duas bolsas, o Nubank vai iluminar de roxo o Cristo Redentor, no Rio, Monumento da Revolução, na Cidade do México, e o Morro de Monserrate, em Bogotá.

Fonte: Valor Econômico

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