ARACAJU/SE, 26 de julho de 2024 , 21:02:55

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Número de acidentes provocados por animais nas BR’s cai em dois anos, diz PRF-SE; contudo, fauna selvagem continua sendo dizimada nas estradas, afirma CBEE  

Da redação, Joangelo Custódio

Dirigir em autoestradas, aquelas construídas especialmente para altas velocidades, sejam elas estaduais ou federais, requer o máximo de cuidado e de atenção não só consigo, mas com a vida de outras pessoas e, não menos importante, dos animais domésticos ou selvagens que cortam as rodovias todos os dias. Um simples piscar de olhos pode ocasionar um acidente fatal.

Segundo estimativas do Centro Brasileiro de Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras (MG), todos os anos, 475 milhões de animais silvestres morrem nas estradas brasileiras vítimas de atropelamento. Além de colocar em risco a existência de centenas de espécies, os acidentes causados pelos atropelamentos de animais nas estradas são responsáveis por ferimentos graves e vítimas fatais entre motoristas e passageiros.

Em Sergipe, de acordo com informações repassadas com exclusividade ao portal AJN1 pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2019, na BR-101 foram 23 acidentes causados por atropelamentos de animais, e na BR-235 foram 20. Em 2020, na BR-101 foram 18 e na BR-235 foram 7. E em 2021, até o dia 26 de outubro, na BR-101 foram 11 e na BR-235 foram 5, totalizando, nos últimos dois anos, 84 acidentes, sendo que, desses, 11 pessoas ficaram feridas gravemente em 2020 e um ferido gravemente em 2021. No período analisado, não houve registro de mortes de pessoas após acidentes com animais nas estradas federais de Sergipe.

Esta reportagem não conseguiu contato com o Batalhão de Polícia Rodoviária Estadual para fazer o balanço de acidentes nas vias de domínio do Estado.

“É perceptível uma tendência de queda, consequência de ações operacionais da PRF/SE, com o emprego de caminhão e laçadores para recolhimento de animais soltos e responsabilização dos proprietários identificados. Quando o recolhimento não pode ser feito, os animais são afastados da via pelas equipes policiais em serviço de plantão”, destaca o inspetor Garcez, que coordena a comunicação social da PRF.

De acordo com Garcez, a natureza dos acidentes (se leves ou graves) dependerá de diversos fatores, como tipo do animal e do veículo, velocidade no momento da colisão, envolvimento de outros veículos (colisões secundárias), etc. “O risco de animais soltos, sobretudo à noite, e outras características do trecho são objeto de orientação tanto nas fiscalizações rotineiras, quanto nos comandos e ações educativas da PRF, a exemplo de palestras e do Cinema Rodoviário”.

O inspetor afirma que a PRF-SE faz o seu papel como órgão fiscalizador das estradas. “Recomendações também são objeto de entrevistas e postagens nas mídias sociais, principalmente em situações que impliquem em aumento de fluxo nas rodovias federais. Há tratativas com o Ministério Público e com a Universidade Federal de Sergipe no tocante ao atendimento de animais feridos”, observa.

Ainda segundo Garcez, quando acontece atropelamentos de animais, o recolhimento dos corpos, seja de pequeno ou grande porte, “ocorre pelas prefeituras municipais”.

Viu animal na pista? Ligue 191

Qualquer pessoa que aviste animais soltos nas BRs, destaca Garcez, deve ligar imediatamente para o número de emergência 191 da PRF, descrevendo a situação e o local. “A participação popular por meio da denúncia rápida é essencial para que a ação das equipes ocorra antes do acidente acontecer, e os donos de animais devem fazer a guarda adequada dos bichos para evitar dissabor”, sublinha.

Espécies mais atropeladas

O coordenador do CBEE, Alex Bager,  realizou, entre agosto de 2018 e junho de 2019, uma expedição por 30 mil km de rodovias pelo Brasil para fazer sua tese de doutorado e constatou que, em média, 475 milhões de animais silvestres, de várias espécies e tamanhos, são mortos todos os anos no Brasil. A base do cálculo veio de um primeiro levantamento feito em 2014 no Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, da Universidade Federal de Lavras, também em Minas Gerais.

Ele diz que a maioria dos atropelamentos é de aves. Em segundo lugar, estão os mamíferos, cujas mortes geram mais comoção entre os seres humanos. O dado não inclui bichos domésticos, portanto, o número pode ser ainda maior.

Para garantir o monitoramento, o especialista criou o Sistema Urubu, no qual as pessoas que encontram animais atropelados colaboram com os registros, enviando fotos e coordenadas.

Para mitigar o atropelamento da fauna, o ecólogo diz que seria muito importante que os governos federal e estaduais discutissem as questões ambientais durante o planejamento das estradas. “A própria manutenção delas ficaria muito menor se houvesse esse planejamento. O que acontece é que se cria o problema e depois tem que resolver. Isso deveria estar no projeto inicial”, disse ele ao portal CBEE.

Mamíferos mais atingidos:

Arte: Portal CBEE

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