ARACAJU/SE, 26 de julho de 2024 , 21:51:33

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Quilombolas transformam área conquistada pelo Incra em “tapete verde”

Para os mais acostumados a trafegar pela região, o contraste com o cenário tradicionalmente marcado por longos períodos de estiagem chama a atenção. Em uma área de pouco mais de 210 hectares, um grande “tapete verde” se estende e apresenta o resultado inicial de um trabalho inédito em áreas quilombolas do estado Sergipe.

No quilombo Serra da Guia, no município de Poço Redondo (distante cerca de 185 Km de Aracaju), 70 famílias protagonizam uma experiência exemplar de convivência com a seca. Sob orientação e assistência de profissionais da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), os trabalhadores preparam todo o necessário para garantir produção e renda durante os duros períodos de estiagem. “O trabalho feito este ano já garante o alimento para os animais na próxima estiagem. A produção de leite está garantida”, assegura o engenheiro agrônomo Francisco Luciano Macedo Firmino, da unidade de Poço Redondo da Emdagro.

Inserido na bacia leiteira do estado de Sergipe, o quilombo Serra da Guia possui um rebanho de aproximadamente 820 cabeças de gado. Dele, sai o sustento de praticamente toda a comunidade. “As terras que o Incra conseguiu para o território permitiram que a gente expandisse a criação. Hoje a gente produz e já está preparado para o tempo de seca”, explicou José Sandro Silva Santos, líder do quilombo e presidente da Associação Quilombola Manoel Rosendo da Guia, que congrega os trabalhadores de Serra da Guia.

Processo produtivo

Com uma área de 9039 hectares identificada pelo Incra, o quilombo Serra da Guia vivencia um processo de consolidação territorial. Até o momento, 1142 hectares já foram obtidos pela autarquia federal e entregues à comunidade. “É nessa área conquistada que estamos desenvolvendo desde março de 2016 esse trabalho com as famílias quilombolas”, comentou Firmino.

Segundo o engenheiro agrônomo, o espaço vem sendo aproveitado de maneira exemplar, graças à organização e ao espírito coletivo do quilombo. “O trabalho coletivo parece estar na raiz do quilombola. As lideranças incentivam, os mais velhos influenciam e um ajuda o outro. E no caso de Serra da Guia, outro ponto forte é a organização. Eles são extremamente equilibrados, fazem um controle da produção, um controle fiscal. Não devem nada para ninguém. São um exemplo a ser seguido”, analisou o profissional da Emdagro.
Toda a palma e o milho produzidos de forma coletiva estão sendo armazenados para abastecer o rebanho no período de estiagem, mantendo a produção de leite do quilombo, que, atualmente, chega a quatro mil litros/dia.

Perspectivas

Para incrementar a renda e ampliar a produção leiteira, os agricultores de Serra da Guia trabalham em duas frentes.
Parceiros da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os quilombolas produzem de forma experimental algumas variedades de feijão. “A ideia é fazer essa multiplicação de variedades, para que, mais à frente, possamos utilizar as sementes para consolidar uma boa produção de feijão no quilombo”, explicou Firmino.

Além da aposta no feijão, as famílias quilombolas também projetam a expansão do carro chefe da economia local, a produção de leite. Com o reconhecimento pelo Incra como “público da reforma agrária”, os trabalhadores deverão começar a receber, a partir do segundo semestre de 2018, recursos do crédito Instalação, pago para suprir as necessidades básicas do agricultor. “Já estamos conversando e devemos usar pelo menos parte desse dinheiro para comprar um trator para ajudar na preparação do pasto e na produção do alimento”, contou Santos.

Com a futura inserção no Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (Sipra), mantido pelo Incra, cada família de Serra da Guia receberá no próximo ano R$ 5,2 mil.

Fonte: Ascom/Incra

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