ARACAJU/SE, 20 de maio de 2024 , 6:20:04

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Sonhos submersos: do jovem Kaique à família Rocha, histórias de uma tragédia que já fez 100 vítimas no Sul

 

A tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul atingiu ontem o número de 100 mortes confirmadas pela Defesa Civil em todo o estado. Neste que é considerado o maior desastre natural da história gaúcha pelas autoridades, há ainda 130 pessoas desaparecidas, além de mais de 1,4 milhão de moradores afetados diretamente pelo temporal.

São casos de deslizamentos de terra, enxurradas violentas que arrastaram imóveis, carros e o que mais havia pela frente, afogamentos, descargas elétricas. Esses eventos deixaram a população em alerta para evacuação de regiões tidas como perigosas para a população. Levantamento do Globo mostra que mais de meio milhão de brasileiros, ou 520,7 mil, moram nessas localidades, e revela o impacto das fortes chuvas que tiveram início há pouco mais de uma semana no estado gaúcho.

No entanto, o rastro de destruição fica na memória de entes queridos que viram famílias inteiras perdendo suas vidas em suas próprias casas. Em outros casos, restou o trauma a maridos, mulheres, pais, mães, filhos e irmãos que viram de perto a morte daqueles que amavam. Com o resgate prejudicado, muitos idosos também não conseguiram se salvar.

Estas são algumas das histórias que ditam a dimensão da catástrofe:

  • JOSEMAR EDUARDO LEMOS, ADRIANA TRINDADE DE OLIVEIRA E MIGUEL EDUARDO DE OLIVEIRA 35, 40 e 1 anos – Pai, mãe e filho foram achados mortos no interior de Itaara, no último dia 3, após dias de buscas. Eles eram tidos como desaparecidos por parentes, desde que haviam dito que estavam ilhados.
  • OLIDE PIERINA BRONDANI, 84 anos – A idosa era moradora de Silveira Martins, e acabou soterrada por um deslizamento. Seu corpo foi achado na tarde do último dia 30 de abril.
  • REJANE MARIA VIEIRA, 48 anos – Moradora de Gringuinha, em Pinhal Grande, morreu após ter a casa levada por uma enxurrada. Seu marido está desaparecido.
  • RODRIGO DE ÁVILA NUNES, 47 anos – Sua casa foi atingida por um deslizamento de terra e ele acabou soterrado, dia 30, em Salvador do Sul. Deixa a esposa e quatro filhos.
  • JOSÉ ADAIR, 47 anos – Estava junto com seu filho, que também morreu, quando aconteceu um deslizamento em São Vendelino.
  • WAGNER OLIVEIRA, 22 anos – Estava junto com seu pai, que também morreu, quando aconteceu um deslizamento em São Vendelino.
  • DELMAR WALDOMIRO SNADER, 69 anos – O idoso morreu após ter o carro arrastado por uma enxurrada em Paverama, no dia 30. Um outro homem que estava com ele no veículo também perdeu a vida.
  • MELANIA NEUMANN, 79 anos – Há pouco mais de uma década, Melania e o marido, Eli Pedro Neumann, de 78 anos, haviam decidido curtir a aposentadoria numa chácara, às margens do Rio Pardinho, em Santa Cruz do Sul. Eles estavam juntos nesta casa, no último dia 1º, quando, por volta de meio-dia, a água começou a subir. — Àquela altura, eles já estavam isolados. Eu pedi para que eles saíssem, mas eles não queriam sair, estavam com medo. — conta a filha Zenaide, de 39 anos. A família só soube da morte da dona Melania na noite do dia seguinte. Zenaide conta que o pai viu o momento em que a esposa acabou caindo na água e desapareceu. Ele chegou a procurá-la, mas o corpo só seria achado horas depois, quando o nível do rio baixou.
  • ALCEMAR FOSTER, 62 anos – Conhecido como “Chará”, o morador de Segredo teve o carro levado pela enxurrada, no último dia 30 de abril, quando tentava atravessar uma estrada alagada pela chuva.
  • DOM DIRCEU MILANI, 63 anos – Bispo da Igreja Católica Apostólica Conservadora, morava em Garibaldi e estava a caminho de Chapecó quando foi arrastado. Amigos contam que Dom Dirceu era conhecido por sua dedicação religiosa.
  • LUIZ CARLOS SCHUTKOVSKI, 71 anos – O corpo dele foi encontrado na quinta-feira (2), em Bento Gonçalves. Dormia quando um deslizamento de terra atingiu a casa onde vivia com a esposa.
  • NOELI SILVA DA SILVEIRA, 79 anos – Moradora de Canoas, a aposentada morreu após sofrer uma hipotermia e contrair pneumonia, provocadas pelas mais de 4 horas que passou em cima do telhado da própria casa, aguardando resgate. Quando o socorro chegou, no sábado, o nível da água já batia no segundo andar. A idosa chegou a ser levada ao hospital, mas acabou não resistindo três dias depois. Janaina Lima, de 51 anos, sobrinha da vítima, conta que seus pais, tios e primos perderam tudo o que tinham. — Em questão de minutos os bairros começaram a encher, foi uma situação indescritível. O medo de morrer era grande demais e a única forma de se salvar era subindo nos telhados — diz — Estamos desolados, não conseguimos dormir. Fechamos os olhos e vemos os corpos boiando na água.
  • EMILY E LIANE ULGUIN DA ROCHA, 17 e 45 anos – Mãe e filha morreram juntas em casa, em Santa Maria, no último dia 1º. O pai da família, Robson Santos da Rocha, e o outro filho do casal, de 19 anos, testemunharam tudo. — Meu cunhado abriu a porta da frente para ver de onde vinha o barulho e, quando voltou, deu aquele estouro. Uma pedra do tamanho de um carro deslizo e atingiu a casa deles — conta Catiane Ulguin, de 41 anos, irmã e tia das vítimas. — Ele se jogou para se proteger e, quando levantou, já não encontrou mais a minha irmã, nem a minha sobrinha. Catiane se emociona ao lembrar que a menina estava muito animada, pois estava às vésperas dos 18 anos. — O Robson perdeu tudo. Da casa, só sobrou o piso.
  • CAROLINA SILVEIRA LOPES, 30 anos – A fotógrafa, de Porto Alegre, visitava a Serra Gaúcha para fotografar um batizado. Assim como o bispo, ela estava em local próximo à Ponte Ernesto Dornelles, no último dia 1º, quando acabou atingida por um deslizamento de terra.
  • ELIZANE M. MILANI BUSS, 47 anos – A agricultora morreu no dia 30, em Itaara, vítima de um deslizamento que, conta o filho mais velho, Matheus, arrastou sua casa cerca de 60 metros barranco abaixo. Ela estava com o filho mais novo, a mãe idosa, e o marido, que sobreviveram.  Matheus conta que, quando chegou no local, encontrou seu irmão com o corpo soterrado. O pai, que fraturou a coluna e a perna, ainda não sabe da morte da esposa. — Voltei para procurar a minha mãe, porque ainda faltava. Mas, quando os bombeiros chegaram, havíamos acabado de encontrá-la já sem vida.
  • ELISA BUCCO TOMASI, 22 anos – Sócia de uma pousada da região, morreu na quarta junto com o companheiro Rodrigo, vítima de um deslizamento em Veranópolis. O corpo de Elisa foi achado soterrado.
  • RODRIGO CAGOL, 32 anos – Rodrigo morreu na quarta junto com sua companheira Elisa, em um deslizamento em Veranópolis. Ainda chegou a ser encontrado com vida, mas não resistiu aos ferimentos. Ele era dono de um restaurante.
  • ANDRIGO ÁVILA E PALOMA MELO DA SILVA, 31 e 25 anos – Estavam no carro, voltando para casa, no último dia 1º, em Boa Vista do Sul, quando foram atingidos por deslizamento. O casal acabou arrastado por uma enxurrada. Assustado com as chuvas, Andrigo ainda chegou a mandar uma foto da estrada alagada no grupo da família. Eles deixam dois filhos.
  • NITIELE LUDVIG, 36 anos – Foi encontrado junto com seu marido e filho, também mortos, em meio aos escombros de várias casas atingidas por um deslizamento de terra em Gramado, no dia 3. Era cozinheira e cuidadora. Também deixa ainda uma filha.
  • SILVIO PELICIOLE, 47 anos – Foi encontrado junto com sua esposa e seu filho, também mortos, em meio aos escombros de várias casas atingidas por um deslizamento de terra em Gramado, no dia 3. Era agricultor e deixa ainda uma filha.
  • KAIQUE LUDVIG, 13 anos – Foi encontrado junto com seus pais, também mortos, em meio aos escombros de várias casas atingidas por um deslizamento de terra em Gramado, no dia 3.
  • NERCIO GIOVANE S. FARIAS, 60 anos – Ele sofreu uma descarga elétrica ao tentar desligar um disjuntor em Pantano Grande, no último dia 29 de abril, durante o temporal.
  • IVONETE COBALCHINI, 62 anos – Foi achada junto com seu companheiro, ambos mortos, no último dia 3, após a casa em que viviam desmoronar, em Bento Gonçalves. Uma filha do casal, Natália Cobalchini, de 27, que também estava no imóvel, está desaparecida.
  • ARTEMIO COBALCHINI, O NECO, 72 anos – Foi achado junto com sua companheira, ambos mortos, no último dia 3, após a casa em que viviam desmoronar, em Bento Gonçalves. Uma filha do casal, Natália Cobalchini, de 27, que também estava no imóvel, está desaparecida.

Fonte: O Globo

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