ARACAJU/SE, 13 de março de 2025 , 17:35:32

Médica explica características do lipedema, que afeta 18% das mulheres

 

Uma das doenças que tem afetado muitas mulheres no Brasil passou agora a ser mais conhecida do grande público: o lipedema, muitas vezes confundido com sobrepeso ou obesidade. Trata-se de uma doença crônica e sistêmica, caracterizada pelo acúmulo anormal de tecido adiposo subcutâneo, isto é, de gordura, que se concentra principalmente nas pernas e braços, com exceção das mãos e dos pés. Apesar de seus primeiros registros científicos terem sido feitos ainda na década de 1940, a sua classificação e caracterização mais completa só aconteceu em 2022, quando o lipedema entrou para a Classificação Internacional de Doenças (CID-11).

Em fevereiro deste ano, a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) elaborou e publicou, em sua revista científica Jornal Vascular Brasileiro, o documento Consenso Brasileiro de Lipedema pela metodologia Delphi, que apresenta informações e estabelece diretrizes claras para o diagnóstico, o tratamento e o manejo da doença.

Estimativa recente, divulgada por uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, aponta que o lipedema atinge entre 10% e 18% das mulheres no mundo, incluindo pelo menos 9 milhões de mulheres no Brasil. Entre os casos mais conhecidos, está o da modelo e influenciadora Yasmin Brunet, que se queixava de inchaço e constantes dores nas pernas ao participar de um reality show e, no fim do ano passado, anunciou ter feito um tratamento com exercícios físicos e mudanças na alimentação, o que resultou em alívio das dores e perda de cerca de 15 quilos.

O lipedema é frequentemente confundido com a obesidade, em razão do aparente aumento do volume corporal. No entanto, como esclarece a professora-doutora Ingrid Cristiane Pereira Gomes, médica endocrinologista e docente do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), as duas doenças apresentam características bem diferentes. E uma das principais delas está na distribuição da gordura pelo corpo. “No lipedema, a gordura se acumula de forma simétrica nas pernas e braços, poupando mãos e pés. Já na obesidade, o acúmulo de gordura é mais generalizado. Essa condição é frequentemente acompanhada de dor, sensibilidade e tendência a hematomas, o que não é comum na obesidade”, diz ela.

Ainda de acordo com Ingrid, o distúrbio pode levar a várias complicações para o corpo e para a saúde em geral, incluindo dor crônica e sensibilidade, que pode interferir nas atividades diárias e na qualidade do sono; dificuldades de mobilidade pelo aumento do volume dos membros; e impacto psicológico, com incidência baixa autoestima, ansiedade e depressão. Em estágios avançados, pode ocorrer linfedema, que é o acúmulo de líquido linfático nos tecidos.

A endocrinologista diz que as causas exatas do lipedema ainda não são completamente compreendidas, mas acredita-se que ele seja influenciado ou motivado por fatores genéticos, hormonais e inflamatórios. “A doença é mais comum em mulheres e pode ser desencadeada por eventos hormonais como puberdade, gravidez e menopausa”, frisa ela.

Como prevenir e tratar

Também não existem ainda formas conhecidas de prevenção contra o surgimento do lipedema, mas os médicos recomendam a detecção precoce, através de exames, e o tratamento adequado para ajudar a controlar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

A doutora Ingrid Pereira cita também que o lipedema não responde bem a dietas e exercícios convencionais, ao contrário do que acontece na obesidade, o que exige a adoção de outras estratégias na mudança no estilo de vida. Elas envolvem a adoção de uma dieta balanceada, com alimentos anti-oxidantes (como carne magra, vegetais de cor escura, azeite, castanha e peixes como atum e salmão), e atividades físicas de baixo impacto, como caminhada, hidroginástica, natação, ioga, pilates e exercícios de fortalecimento muscular.

Também são recomendadas atividades de fisioterapia e terapia compressiva, com uso de bandagens e meias de compressão. “A intervenção cirúrgica, através da lipoaspiração, pode ser considerada em casos avançados, mas deve ser precedida por tratamento conservador”, ressalta a professora, frisando que as opções de tratamento da doença devem ser analisadas e aplicadas conforme o estágio de cada caso.

Fonte: Asscom Unit

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