ARACAJU/SE, 26 de abril de 2024 , 17:28:07

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Itabaiana segue com atividades de turismo rural ininterruptas

Por definição, turismo rural é a atividade econômica que promove visitas a ambiente rural, com o objetivo de agregar valor aos serviços e produtos de uma região. Sergipe teve sua primeira rota oficial de turismo rural recém-inaugurada, desenvolvida pela turismóloga, pesquisadora e mestra em Tursimo, Ellen Carvalho.  As Rotas Caminhos da Serra de Itabaiana foram lançadas em novembro do ano passado, apesar da crise pandêmica, mas já vinham sendo estudadas por Ellen desde 2017. A proposta é imergir o visitante nos hábitos locais e exploração da natureza. Ellen disse que embora seja a idealizadora, fez questão de incluir a comunidade em todas as etapas do projeto, a fim de solidificar o conceito de turismo rural. Segundo ela, atualmente os moradores já estão mais engajados no empreendedorismo, porque antes a atividade era explorada sem organização ou estratégia. A turismóloga já considera as Rotas Caminhos da Serra de Itabaiana um case de sucesso, a ponto de atrair o interesse de outros municípios sergipanos.  A pesquisadora garante que é possível praticar o turismo rural sem descaracterizar o bucolismo das cidadezinhas. Confira o resultado dessa conversa:

Correio de Sergipe: Vamos começar por detalhar a proposta de turismo rural que pensou para Itabaiana.

Ellen Carvalho: As Rotas Caminhos da Serra de Itabaiana na verdade são roteiros. Tem o roteiro gastronômico, onde a gente conhece um pouco da gastronomia de Itabaiana; tem o roteiro do ouro; tem o roteiro de ecoturismo, que leva o turistas para conhecer a trilha da Serra de Itabaiana, onde tem o Poço das Moças, as cachoeiras, as trilhas que levam aos pilões e poções da Ribeira; tem os roteiros de eventos; roteiros de compras; o roteiro do turismo de base comunitária, que é um projeto desenvolvido com a comunidade do povoado Ribeira e tem a rota da castanha também.

CS: Como surgiu?
EC:
Quando comecei a pesquisar e elaborar novas formas, rotas e roteiros de turismo. A primeira rota de turismo rural sergipana foi lançada ano passado, no dia cinco de novembro. Tratam-se das Rotas Caminhos da Serra de Itabaiana.

CS: Por que Itabaiana?
EC: Eu não sou de Itabaiana, mas minha família é. Passei a infância e adolescência indo lá, vendo todo potencial turístico não sendo desenvolvido. Tem também o fato de Itabaiana já ter alguma estrutura de turismo. Isso facilitou.
CS: Que atividades são feitas nesses passeios?
EC:
Visitação ao Parque dos Falcões, que é uma experiência com aves de rapina do entorno rural do Parque da Serra de Itabaiana; visitação à Casa de Farinha, onde é possível fazer o produto na hora, num forno a lenha; visitação à feira de Itabaiana; à casa da irmã Dulce e bairro Chiara; visitação do projeto turístico de base comunitária no povoado Ribeira, que é um braço do projeto inicial Rotas Caminhos da Serra de Itabaiana. Nele [no povoado Ribeira] a própria comunidade, que já era procurada por turistas e visitantes devido ao seu potencial natural de cachoeiras e barragens, desenvolve atividades turísticas.

CS: O bairro Chiara é onde tem aquela escultura de sete metros de altura de irmã Dulce?
EC:
Isso. Ele é também uma atração à parte porque é um bairro planejado e tem vários condomínios de casas de luxo.

CS: O que seria esse roteiro do ouro? É uma visitação às minas?
EC:
Existe uma curiosidade em relação a isso, porque Itabaiana é conhecida como a cidade do ouro, mas lá não tem mina. A fama de terra do ouro é pelo seu comércio em larga escala. O roteiro do outro é a passagem pelas joalherias da cidade. Tem a curiosidade das castanhas também. Itabaiana é conhecida como a rota da castanha, especificamente no povoado Carrilho, mas não tem cajueiros por lá. Pelos menos não o suficiente para atender à demanda. Essas castanhas vêm de outros estados e a comercialização no povoado deu início a essa tradição. Mas hoje em dia várias famílias têm uma cooperativa de castanha de caju por lá.

CS: E o que são esses pilões e poções que você falou antes?
EC:
Os locais de banho. Até onde sei, [as águas da Serra] são chamadas de poções porque parecem um grande poço. E os pilões são os pequenos pilões [poços] de água. Mas não tem nenhum registros sobre isso. É tudo conhecimento popular.

CS: Fale um pouco da visita ao Parque dos Falcões.
EC:
A entrada é paga. Lá tem os monitores que te acompanham para conhecer as aves e toda a estrutura do parque. Além disso, tem um auditório que exibe vídeos institucionais sobre a história do lugar.

CS: Com tanto roteiro, dá para fazer o passeio em um dia?
EC: Dá. Assim como também pode ser feito em dois ou três. Em um dia só, você sai de Aracaju, tem a primeira parada no Parque dos Falcões, depois na Casa de Farinha, feira de Itabaiana, roteiro do ouro lá das joalherias, na casa da irmã Dulce e bairro Chiara e também em algum restaurante típico da região para o almoço. Se forem dois dias e optar por fazer a trilha da Serra de Itabaiana aí leva um dia todo para subir a Serra e tomar banho de cachoeira e nos poções. Com mais um dia, que aí no caso já serão três, dá para visitar o povoado Ribeira, onde tem as trilhas dos poções e pilões e onde também tem o projeto de turismo de base comunitária que falei. Lá o pessoal pode almoçar, fazer um lanche, enfim, abastecer.

CS: Ouvi muito sobre esse projeto do povoado Ribeira, mas como ele se insere nas Rotas?
EC:
O passeio ao povoado Ribeira é um roteiro incluído nas Rotas Caminhos da Serra de Itabaiana desenvolvido junto com a comunidade. Ou seja, sua base é comunitária. Esses moradores [do povoado Ribeira] já recebiam há muito tempo turistas e visitantes devido às trilhas e cachoeiras, mas não se atentavam em se beneficiar disso. Mostrei essa possibilidade, daí eles começaram a se organizar: abriram restaurantes, lanchonetes, camping, pousada, lojas de artesanato, loja de souvenir, loja de mudinhas de plantas. Isso faz com que eles tenham uma segunda atividade e melhorem sua qualidade de vida.

CS: Já tem definido quais serão as próximas rotas?
EC:
Temos. Todas aguardando serem definidas, planejadas e desenhadas através de circuitos. Na Região Agreste, por exemplo, alguns municípios já demonstraram interesse, como Ribeirópolis, Carira, Moita Bonita, Aparecida. Também no Baixo São Francisco há interesse, como em Propriá, Telha, Cedro de São Francisco, Muribeca. Na Região dos Tabuleiros tem Divina Pastora, Santa Luzia do Itanhy, Maruim e na Região dos Polos dos Coqueirais tem São Cristóvão, Itaporanga, Santo Amaro das Brotas e Socorro. Enfim, vários municípios estão contribuindo no projeto Caminhos do Interior Sergipano, que é justamente a criação e organização não só de rotas e roteiros, mas de um circuito turísticos que fortaleça o turismo regional.

CS: Uma turista paulista declarou em setembro passado ao CS que não voltaria a Aracaju porque achou a Orla de Atalaia abandonada. Temos estrutura no turismo rural?
EC:
Acho que esses turistas que vieram em plena pandemia não podem generalizar. Realmente tinha muita coisa fechada e a Orla ficou um pouco defasada, porque realmente não tinha muita opção de lazer, mas foi uma questão a nível mundial. As Rotas foram planejadas. Estamos sempre gerindo novas ações. Acredito que isso dificilmente vai acontecer com o nosso projeto. Os turistas que visitam as Rotas Caminhos da Serra de Itabaiana têm a opção de se hospedar tanto na capital quanto no próprio município. Itabaiana hoje é um polo de atividades de lazer.

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