ARACAJU/SE, 27 de abril de 2024 , 8:50:38

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Dengue: mesmo com poucos casos Sergipe mantém estado de alerta

Doença que está entre as mapeadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com potencial de se tornar epidemia global, a Dengue preocupa autoridades por todo o país diante do surto em algumas regiões. País ultrapassou 1 milhão de casos prováveis (notificações) de dengue só nos dois primeiros meses deste ano, com 200 mortes. Com 783 notificações e 49 casos confirmados em 2024, Sergipe está em estado de alerta. O mosquito transmissor do vírus da dengue é o Aedes aegypti e a principal forma de prevenção da doença é conter a proliferação desse vetor, que também é o transmissor da Zika e da Chikungunya.  A vacina contra a dengue já está sendo aplicada em alguns estados, porém, ainda não chegou a Sergipe. O Jornal Correio de Sergipe e o Portal de Notícias AJN1 entrevistam o médico infectologista Marco Aurélio, da Secretaria de Estado da Saúde. Ele explica a importância da hidratação, a necessidade de buscar atendimento médico e de evitar a auto medicação. Leia a seguir:

 

Correio de Sergipe – Temos acompanhado o crescimento dos casos de dengue em muitos estados do país e isso acende um alerta em nós sergipanos. Qual a situação de Sergipe com relação as doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti?

Marco Aurélio – O estado de Sergipe está em fase de alerta. Não estamos vivenciando uma epidemia, mas na nossa contingência a gente está em alerta. Estamos observando e contando casos, para saber quais vírus estão circulando. Por isso é muito importante procurar o serviço de saúde, para que sejam realizados os exames confirmatórios, para que possamos identificar se realmente é dengue que está circulando e qual tipo, se é Dengue, ZiKa, ou Chikungunya. Estamos num momento propício à disseminação do Aedes Aegypti, então, essa é a fase de alerta.

 

CS – Sabemos que o brasileiro gosta de se automedicar. Especificamente no caso das doenças transmitidas pelo Aedes, quais os riscos dessa automedicação?

MA – Os medicamentos que são utilizados no tratamento das viroses acabam sendo contraindicados para a Dengue. Os anti-inflamatórios, que tem componentes como o ácido acetilsalicílico, e os corticoides podem adicionar um risco a mais de complicação ao paciente, como por exemplo, risco de sangramento. Por isso a pessoa tem que evitar a automedicação.

 

CS – Sabemos que um dos sintomas da Dengue é a dor de cabeça. Muitas vezes a pessoa por achar que está com enxaqueca ou outra doença acaba tomando remédio por conta própria. Há risco nisso?

MA – No quadro inicial pode ser utilizado, mas sempre como recurso inicial.  Pode sim tomar o analgésico para aliviar a dor de cabeça, isso até conseguir chegar ao serviço de saúde. O grande problema da Dengue é que tem uma persistência nessas dores e isso faz com que a pessoa comece a se automedicar a cada duas, três horas e com isso você chega a uma dose tóxica, que vai trazer efeitos adversos graves, podendo atingir o fígado, aumentar a pressão arterial, por exemplo.

 

CS – Então, quando uma pessoa suspeita que pode estar com dengue há algo que ela possa fazer em casa mesmo?

MA – Tem que começar pela hidratação, que é fundamental. Nesse início também é possível tomar um analgésico, como um dipirona ou paracetamol, mas na sequência deve-se procurar um serviço de saúde para que seja feito um diagnóstico e um ajuste de dose desse analgésico, porque mesmo esses medicamentos, quando a dose está exagerada, pode trazer complicação.

 

CS – É só tomar água, soro caseiro e/ou outros líquidos?

MA – A primeira medida a ser adotada pelo paciente é se auto hidratar, digo, aumentar o volume de ingestão de água, ou seja beber mais água que o habitual, mais sabendo que essa é uma medida inicial. Repito: deve-se procurar o serviço de saúde, que é onde vai ser calculada a dose que o paciente precisa na hidratação.

 

CS – Quando se fala em hidratação, estamos falando de líquidos em geral. Refrigerantes ou outras bebidas contam para essa hidratação?

MA –  Estamos falando de água, soro de reidratação oral. Deve-se evitar bebida alcoólica e refrigerantes, que não conseguem dar uma hidratação adequada.

CS – Muitas pessoas acabam logo procurando um hospital. Nesse caso qual o serviço de saúde mais indicado para esse tipo de atendimento?

MA – Nesses casos iniciais deve-se procurar serviço de saúde de baixa complexidade como os da atenção básica ou consultório médico, para que se tenha essa avaliação inicial.

 

CS – Como saber se é Dengue, Zica ou Chikungunya. É possível esse diagnóstico com um exame clínico?

MA – As doenças nas formas clássicas, elas são diferentes. Muitas pessoas terão sintomas semelhantes. O Zica, tem muita febre e mais manchas na pele. A Chikungunya tem mais dor de articulação do que dor muscular. Mas, a gente sabe que algumas pessoas podem apresentar  formas pouco sintomáticas, muitas vezes confundindo com doenças respiratórias, como o começo de uma gripe, quando a pessoa pode ter muita dor no corpo. Isso pode gerar problemas, porque a maior parte dos medicamentos para as viroses respiratórias possuem substâncias que não devem ser utilizadas no caso de dengue, zica, chukungunya. Há sim, um exame específico.

 

CS – Com relação aos sintomas da Dengue grave (antiga hemorrágica). Significa que há um sangramento?

MA – Nas décadas passadas, ouvíamos muito falar da Dengue e da Dengue hemorrágica, essa última que sempre trazia a ideia de sangramento abundante. Mas, o que a gente aprendeu nessas últimas décadas, foi que nem toda dengue grave tem hemorragia. As vezes a pessoa vai ter um choque, que é essa perda do líquido que está em nossos vasos para outros espaços internos, por isso que é importante a hidratação. Hoje reforçamos muito que se você começa a ter sintomas de Dengue e começa a ter dor abdominal muito forte, vômitos que não deixam o paciente se hidratar e se há tontura e sensação de desmaio e sangramentos, deve procurar atendimento médico com maior urgência, porque aí sim você pode estar passando de uma fase de dengue considerada clássica, para uma dengue grave, que pode evoluir para um choque ou um óbito.

 

CS – Qual o protocolo adotado para casos de Dengue, Zika e Chikungunya?

MA – Existe um protocolo para classificar aqueles casos que pode ir para casa só com orientação, com a coleta de exame específico; existem casos que necessitam internamento, inclusive em UTI. Houve pequena mudança, principalmente no caso do paciente internado, que não deve-se administrar tanto o  soro glicosado, e sim o fisiológico, que é o que hidrata melhor. Nos casos ambulatoriais os antitérmicos já citados aqui, e evitar o uso de anti-inflamatórios. Lembrando que a hidratação em casa é necessária no tratamento da dengue.

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