ARACAJU/SE, 10 de maio de 2024 , 23:35:22

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A alegria da libertação

Em toda a História da Salvação, a misericórdia de Deus é conhecida por sua constância. Apesar da infidelidade do povo, Deus é fiel e misericordioso. Com uma atitude paciente, porém ativa, Deus sempre lhes ia ao encontro através de mensageiros, ou seja, os profetas e os sinais que cada tempo lhes oferecia. Mas, por que o Senhor fazia isso? Diz-nos a Escritura Sagrada: “Porque tinha compaixão do seu povo e da sua própria casa” (2Cr 36,15). Constatamos, então, que Deus está sempre próximo aos seus, não está logrado distante de Israel; Israel é a casa do Senhor; Ele habita aí. Em meio aos amores de um Deus extremamente apaixonado pelo seu povo, correspondiam-no com contrariedades já que “eles zombavam dos enviados de Deus, desprezavam as suas palavras até que o furor do Senhor se levantou contra o seu povo e não houve mais remédio” (2Cr 36,18). Quem são estes mensageiros de Deus, rejeitados pelo povo? Os profetas até Jesus, Plenitude da Revelação Divina.

A invasão de Israel pelos babilônios não significava a impotência do Senhor. Não. Muito pelo contrário! Diante da miséria e tragédias implantadas no seu país, na sua amada Jerusalém e no seu já profanado Templo, presenciando tanta cena de destruição, morte de muitos entes queridos e de cativeiro, o povo de Israel é chamado à uma pedagogia: Deus nos ama; somos-lhe ingratos; por causa do nosso pecado nos veio o castigo, a desolação merecida. No entanto, não é somente esta a certeza que Israel deve tirar; Deus quer dar um feliz complemento a esta situação histórica, mas, acima de tudo, teológica: o povo arrepende-se, converte-se e o Senhor lhes salva.

É por Ciro que a libertação vem? Não. O Rei Ciro, dos persas, será apenas um instrumento escolhido por Deus dentro de um contexto político-histórico que é enxertado de um pano de fundo teológico, inclusive, tal certeza é colocada na boca e punho de Ciro, um pagão, como proclamação da liberdade de Israel (cf. 2Cr 36,23). Na figuração do Antigo Testamento, a destruição do Templo significava dizer a destruição de todo Israel; a sua reconstrução, a vivificação do país. Assim sendo, a profanação do Templo simbolizava que o povo estava imerso no pecado, já que o Templo é tido como centro do mundo judaico-israelita.

Para nós fica o convite de sempre reconhecermo-nos, diante de nossas inúmeras infidelidades e misérias, pecadores. Ao tempo em que somos chamados a reconhecer o dedo amoroso de Deus na nossa história, até mesmo onde parecer absurdo. Quantas vezes estamos afastados do Templo, Deus, e somente quando encontramos-nos no exílio do vazio trazido pelo pecado lembramo-nos do Senhor, da distância que nos impusemos em relação a Ele?

No diálogo de Jesus com Nicodemos, justamente na parte em que o próprio Senhor prediz a Sua Paixão e Morte que, neste texto é simbolizada pela serpente de bronze (Jo 3, 14; Nm 21, 8-9), temos a afirmativa de que,  somente em Cristo, o homem adquire a vida, nasce para a imortalidade, incorruptibilidade, ou seja, para a Vida Eterna. Esta doação de vida por parte de Deus Pai, no Filho pelo Espírito Santo é a máxima expressão de Seu amor e da fidelidade de Sua misericórdia e Aliança inextinguíveis. Para termos acesso à Graça da Salvação oferecida a todo o gênero humano faz-se necessário que creiamos naquele que, “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens” (Fl 2,7). Quem crê em Jesus é da luz e todo o seu ser igualmente torna-se transparência dessa luz que é o mesmo Cristo, inclusive nas ações cotidianas que, tantas e tantas vezes, nos aparentam ser banais e não-influentes no processo de fé no Senhor, mas que são capazes de levar à luz de cuja magnificência desejamos: a convivência com o próprio Deus. Quem crê em Jesus é luz na terra e alcança a Luz do Céu, o próprio Senhor, a contemplação de sua face.

É pela morte de Cristo pendurado na Cruz, tal como a serpente na haste o prefigurava, que alcançamos a Vida verdadeira, a Luz Beatífica. Neste sentido, Santo Agostinho nos diz: “Existe uma diferença entre a figura e a realidade: é que aqueles eram curados somente da morte temporal, voltando a uma vida material, mas estes obtêm a vida eterna” (In Ioannem tract., 12).

Que nestes dias da Santa Quaresma, preparação eminente e iminente para a Páscoa do Senhor, maior festa da cristandade, possamos nutrir em nós a certeza da salvação e o anseio de, quanto mais breve, tornarmo-nos, em sentido pleno, filhos da luz, inseridos na visão da Glória dos Eleitos, nossa páscoa eterna, para, juntos e com o Ressuscitado, reinarmos para sempre. Amém