ARACAJU/SE, 25 de abril de 2024 , 10:28:39

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A arma do Rosário

 

No interior do mês mariano de outubro, celebramos, no dia sete, Nossa Senhora do Rosário, na recordação da vitória dos cristãos na batalha de Lepanto diante de numeroso exército muçulmano, que queriam invadir a Europa para subjugar a Igreja Católica e a civilização ocidental.

Era 1571, os exércitos católicos em luta, humanamente falando, não tinham chance alguma de vitória diante da belicosa legião muçulmana. De Roma, o Papa São Pio V clamava pelos valentes guerreiros através da reza do Santo Rosário. E não o fazia sozinho: conclamou toda a cristandade para que o fizesse juntamente com ele. A vitória, milagrosamente, se deu no dia sete de outubro, onde, após terem feito jejum, oração, confessado-se e comungado, os soldados perceberam que não lutavam sozinhos: antes, relegaram a vitória ao auxílio de Nossa Senhora. E o próprio Papa, há quilômetros de Lepanto, estando numa reunião, teve a visão de Nossa Senhora, que lhe comunicava a vitória definitiva dos cristãos naquela sangrenta batalha. 

Existe um bendito muito bonito que, a partir da lição de Lepanto, associa as nossas batalhas diárias ao socorro dado por Maria àqueles que rezam, fervorosamente, o Rosário: “As contas do meu rosário / São balas de artilharia: / Dão combate no inferno / Quando eu rezo Ave-Maria!”. E isto é verdade! A oração do Santo Rosário é de grande valia para a vida interior, diante das tentações. E, depois da Eucaristia (da Santa Missa, portanto), é oração sublimíssima, que toca o coração de Deus com os méritos de Maria. O Rosário, como arma de fé, foi confiado por Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão, em 1207, que lhe ensinou tão formosa oração a ser difundida contra todos os inimigos do cristianismo e também para a salvação dos fiéis. 

Na própria Escritura Sagrada, vemos algumas realidades presentes quando rezamos o Terço, o Rosário. Nas Bodas de Caná, mediante a percepção da carência daqueles noivos, em apuros, pela iminente falta do vinho, observa Nossa Senhora junto ao Seu Filho: “Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3); e junto aos serventes, que nos representam: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Nos Atos dos Apóstolos, temos Maria Santíssima no Cenáculo, em oração, com os Apóstolos. Lá, cultuam Deus, que lhes envia o Espírito Santo (cf. At 2,1-12). Rezando o Rosário, reconhecemos Maria como Mestra da oração cristã. E quando recorremos a ela (ela, de quem o próprio Deus quis buscar os cuidados), pomo-nos em seu patrocínio maternal, e a Virgem, por sua vez, nos dá o consolo, o carinho de Deus. NQuando da Anunciação, temos a origem da oração que é a “alma” do Rosário; o próprio Deus, pelo Anjo São Gabriel, saúda Nossa Senhora, chamando-a “Ave Maria, Cheia de Graça” (cf. Lc 1,28). No Terço, trazemos para os nossos lábios o louvor que o próprio Deus deu a Maria; repetimos a saudação de Deus a Virgem Beatíssima; bem como aquela outra que Isabel, regozijante do Espírito Santo, também lha dirigiu: “Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus” (cf. Lc 1,42).

O Rosário é uma oração bíblica. Antes do acréscimo feito por São João Paulo II dos mistérios luminosos, tínhamos no Rosário cento e cinquenta ave-marias. Contemplando os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos, a sua quantidade fazia referência aos cento e cinquenta salmos. E, agora, com a inserção dos mistérios da luz, passamos para duzentas ave-marias. Reforçando com a contemplação dos mistérios da vida pública do Senhor aquilo que o frade francês Lacordaire afirmava: “Para os cristãos, o Evangelho é o primeiro dos livros e o Rosário é a síntese do Evangelho”. Assim, se confirma a ideia de que para os ignorantes, ou mesmo os que não sabem ler ou não compreendem o Evangelho, o Rosário é uma leitura, sob a ótica da Virgem Maria, da vida de Jesus.

O Rosário, como o próprio nome o caracteriza, é uma coroa de rosas espirituais que concedemos a Nossa Senhora e ao seu Filho benditíssimo. “Rosas brancas e rosas vermelhas; brancas de serenidade e pureza, vermelhas de sofrimento e amor. São Bernardo diz que a própria Virgem foi uma rosa de neve e sangue. Já tentamos alguma vez desfiar as contas da sua vida, dia-a-dia, por entre os dedos de nossas mãos?” (J. M. Escartin, In: Meditación del Rosário). Se o fazemos diariamente, qual a qualidade das nossas rosas oferecidas àquela que é a “Rosa mais magnífica do jardim do Céu” pela nossa distração e oração mal-feita?

Rezemos o Terço diariamente para obter a nossa paz interior, tal como prometeu a Senhora do Rosário de Fátima aos Pastorinhos que, com a sua oração, encerraram a Primeira Guerra Mundial. E, assim, dos nossos inimigos espirituais, seremos livres com o auxílio daquela que roga “por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”.

 

Padre Everson Fontes Fonseca,

Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro.