Na escrita do Apóstolo São Paulo aos coríntios, a sua primeira carta, temos a narrativa mais antiga acerca da Eucaristia presente na Sagrada Escritura (cf. 1Cor 11,23-25). Não obstante este dado cronológico, temos, como preparatório à catequese que faz acerca da caridade e da vida carismática da Igreja, a fórmula de como, desde o princípio, obedientes à ordem do Senhor, a Igreja-menina sempre celebrou os Divinos Mistérios do Santo Altar, a nossa Missa. Mas ao lado de todo este panorama, nota-se um aceno acerca da vinda gloriosa do Senhor feito pelo Apóstolo dos Gentios: “Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26).
Neste sentido, com esta reflexão, apontando para a realidade eucarística celebrada cotidianamente pela Santa Igreja, desejo incutir-te, estimado fiel, a relação da Eucaristia com a Escatologia, que é a parte da teologia que trata dos últimos eventos na história do mundo ou do destino final do gênero humano, bem como da realidade da Vida Eterna e dos Novíssimos (Céu, Inferno e Purgatório). Assim como os sacramentos são realidades temporais que, pertencentes à Igreja, nos remetem à plena manifestação da vitória do Senhor ressuscitado, igualmente isto acontece na Liturgia Eucarística, só que maneira sobrelevada. Nela somos felizardos por saborearmos antecipadamente a consumação das realidades últimas, escatológicas para qual todo homem e a criação rumam.
Somente Deus pode dar ao homem a felicidade eterna e autêntica, pois para isto fomos criados. No entanto, quando do pecado, a nossa humanidade foi ferida em tudo, inclusive no referente à liberdade. O mesmo Jesus, que nos abriu uma torrencial porta de esperança quando da Encarnação, é a meta para qual rumamos, como que uma necessidade inerente ao nosso ser maculado, concupiscente ao pecado. Este ‘Cristo-meta’, vitorioso sobre o pecado e a morte, torna-Se presente para nós de maneira especialíssima na Eucaristia. Neste sentido, o Papa Bento XVI frisa: “embora sejamos ainda ‘estrangeiros e peregrinos’ (1Pd 2, 11) neste mundo, pela fé já participamos da plenitude da vida ressuscitada. O banquete eucarístico, ao revelar a sua dimensão intensamente escatológica, vem em ajuda da nossa liberdade” (Sacramentum Caritatis, 30).
Cristo, com a Sua vinda, é dádiva trinitária para nós. O próprio Filho Jesus inaugura objetivamente o tempo escatológico. Em Si mesmo, veio convidar o povo de Deus disperso à unidade. Esta não é um simples ajuntamento, mas uma congregação inédita sob o selo de uma Aliança eterna e indissolúvel, tal como o próprio Deus havia, outrora, prometido. Misteriosamente, a realidade da Igreja, reunida para celebrar, já é participação do que, na eternidade, é algo pleno, tal como, no Apocalipse, São João nos apresenta em todo aquele escrito.
Jesus, ao cear com os Doze – número especialíssimo na Escritura pois evoca as doze tribos de Israel –, expede um mandato para estes: o de celebrarem a Sua memória. Com esta ordem, o Senhor deixa claro, que a Igreja, comunidade por Ele fundada, tem a missão de ser, dentro das características temporais (“aqui e agora”), uma antecipação real daquilo que virá, mas que já está conosco pela comunhão. Assim, dentre outras tantas realidades experimentadas na Liturgia da Missa de maneira sacramental, temos uma de imensa importância: a unificação escatológica do Povo de Deus. A Mesa Divinal chamada Altar é uma antecipação real daquilo que já é prenunciado no Antigo Testamento desde os profetas e narrado pelo Novo (cf. Is 25,6-9 e Ap 19,7-9). Nestas “núpcias do Cordeiro” que denominamos Missa, de fato e sobremaneiramente, temos a “comunhão dos santos”.
A celebração da Eucaristia é garantia da glória celeste, quando os nossos corpos serão glorificados. Quando celebramos o memorial da nossa salvação, “reforça-se em nós a esperança da ressurreição da carne juntamente com a possibilidade de encontrarmos de novo, face a face, aqueles que nos precederam com o sinal da fé” (Sacramentum Caritatis, 32). Por isso, aproveito para recordar-te da importância de rezar pelos nossos falecidos. Esta prece de sufrágio encontra maior eficácia dentro da Celebração Eucarística, para que, purificados pela misericórdia de Deus, os nossos defuntos possam alcançá-Lo na visão beatífica, no céu. Esta é a nossa esperança, a nós que estamos vivos, a de que, quando da nossa morte, outros rezem por nós para alcançarmos, refinadamente, a glória dos eleitos, dos santos.
“Aos mortais dando comida, dais também o pão da vida; que a família assim unida seja um dia reunida aos convivas lá do céu!”. Com esta última estrofe da Sequência Pange língua gloriosa, desejo, por fim, afirmar que a recepção dos adoráveis Corpo e Sangue do Senhor nos preparam para uma santa morte, no vislumbre de uma eternidade feliz. O fruto do Altar é o viático, o alimento de uma alma que anseia o Céu. Misteriosamente, recebemos da eternidade na temporalidade, de forma que, quanto mais recebo o Senhor Sacramentado na Sagrada Comunhão, mais desejo possuí-Lo; mais permito que Ele me possua, antecipando a felizarda experiência do Paraíso. Por isso, quem comunga, fiel e dignamente, não teme a morte que lhe advém.
Acorre, ó alma ansiosa, sedenta e devota ao Altar! Comunga do Alimento doador da verdadeira vida! E, nos momentos mais diversos, refugia-te nos umbrais do sacrário para sentires o Céu que, por alto preço de cruz, foi aberto para ti pelo Deus que te espera! Se te refugias no Cristo Sacramentado não temerás. Se a Ele te unes pelo Sacramento eucarístico não O abjurarás. Antes, fortificado, seguirás o longo caminho (cf. 1Rs 19,7) que ainda te resta para, plenamente, possuir o que te é, desde agora, reservado como garantia.