ARACAJU/SE, 27 de abril de 2024 , 7:30:26

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I Domingo do Advento: No aguardo do Senhor

 

Entramos no tempo do Advento. Adventus, palavra latina que, com justeza, poderíamos traduzir como “chegada”, “presença”, “vinda”. O Senhor está para chegar. A sua chegada insere o mundo temporal (chronos) no tempo de Deus (kairós = tempo de graça). Ao assumir a nossa natureza, tomando um corpo na Encarnação, o Senhor dos tempos e da eternidade se sujeita à nossa condição. No mundo antigo e pagão, o termo Advento era uma palavra técnica que designava a chegada de um funcionário, ou mesmo a visita de reis e imperadores aos seus domínios, ou ainda a chegada de um deus que saía da sua divinal mansão oculta para manifestar o seu poder. Cristianizamos todas essas práticas, pois o “Esperado das nações” se coloca, em suas parábolas, não como um funcionário, mas como patrão, como rei que dominará a terra. Ele, que é Deus e veio manifestar a sua onipotência através da sua misericórdia e do seu poder salvador a toda humanidade.

Ao celebrarmos este tempo forte na espiritualidade litúrgica da Igreja, constantemente diremos: “Vem, Senhor Jesus!”. Assim, recordamos a primeira vinda do Senhor, “revestido da nossa fragilidade […] para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação” (Prefácio do Advento I), ao tempo em que esperamos a sua volta, quando, “revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos” (Ibidem).

 

Outra palavra que, a partir do Evangelho de hoje (cf. Mc 13,33-37), de sobremaneira nos norteará é “Vigiai!”. Ao se dirigir aos seus discípulos e recomendar-lhes cautela e vigilância, Jesus se dirige a toda a sua Igreja. Desde quando o Senhor ascendeu, a Igreja espera a sua volta gloriosa. Não sabemos quando será. Por isso, a Igreja-Esposa espera fielmente, ao tempo em que implora: “Vinde, não tardeis!”.

 

A Igreja é consciente de que ela é serva, não senhora, embora seja Esposa que anseia fortemente pelo seu Amado. Jesus, ao contar esta parábola que ouvimos no Evangelho, figura esta realidade. Ele é um homem (logicamente, um patrão) que confia a sua casa à responsabilidade de empregados, dando-lhes incumbências determinadas. Se ele é este patrão, nós, Igreja, somos esses empregados porque participamos do Corpo Místico do Senhor. Cada um de nós temos a nossa tarefa, pois a Igreja, Casa de Deus, possui inúmeros postos vagos.

“E mandou o porteiro ficar vigiando” (Mc 13,34). Quem é este porteiro senão o múnus profético da Igreja nos seus pregadores? Assim como o porteiro deve estar atento aos mínimos sinais em sua guarita, os pregadores devem estar atentos aos possíveis sinais da vinda do Senhor.

O Senhor virá. Quando? “Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai”. (Mt 24,36). Por isso, estejamos na mais acurada atenção, para não nos encontrarmos dormindo no maldito “relaxamento” do pecado. Por isso, este tempo de Advento é um convite a um despertar contínuo. Se estivermos na madorna do pecado, levantemo-nos! Despertemo-nos! Estas atitudes são sinais palpáveis de um assaz vigilante. Daí, a Oração de Coleta suplicar: “Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro de Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos”. As nossas obras identificam o nosso torpor ou a nossa altiva vigilância.

Na Primeira Leitura, temos o profeta Isaías que coloca na boca do povo um clamor ao Senhor, bem como um grito de esperança: Deus vai salvar-nos! Ora, esta passagem do profeta se relaciona ao Exílio da Babilônia. O povo de Israel estava escravo. Porém, antes mesmo de ser servil com o seu corpo, Israel já o era interiormente, pelo pecado. Isaías escreve o exame de consciência de Israel (cf. Is 64,3.4). O povo espera pela libertação integral que somente Deus pode dar, pois o rosto do Salvador de Israel é o de um pai terno e misericordioso (cf. 63,16b). Assim, como o Antigo Israel também aconteceu conosco: éramos escravos do pecado; gemíamos sob o seu jugo; estávamos mortos. Paternalmente, Deus Se compadeceu de nós e, na Pessoa do Filho, quebrou as nossas algemas, não com manifestações violentas de seu poder, mas com a ternura de uma criança, sujeito às limitações de criatura, porque assim o quis. Não porque merecêssemos, mas vem ao nosso encontro por livre iniciativa. Redimiu-nos, desmanchando as montanhas do pecado, derretendo-o completamente. Calcou o opressor que nos oprimia. Tudo isso iniciou quando Deus nos mostrou a Sua face (cf. Sl 79,4).

Que a vivência do duplo Advento do Senhor (a espera litúrgica do Filho de Deus Humanado e do Senhor da Glória que nos virá nos fins dos tempos) nos auxilie, a fim de que, dispostos ao seu plano de amor, estejamos atentos ao Cristo que nos vem em suas diversas formas, inclusive nos irmãos.