ARACAJU/SE, 27 de abril de 2024 , 5:12:33

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Tempos novos

 

Deus é o Senhor da História. Ele, na Sua onisciência, já havia nos querido e amado desde antes do nosso nascimento. Se isto aconteceu conosco, não foi diferente com João Batista, a quem confiou uma grande missão.

Como escutamos na Liturgia da Palavra deste II Domingo do Advento, o profeta João Batista já era antecedido por uma profecia, a de Isaías, como demonstra a Primeira Leitura de hoje. São Marcos faz questão de frisar este dado: “Eis que envio o meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho. Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!’” (cf. Is 40,3; Mc 1,2-3). Marcos começa o seu anúncio sobre Jesus a partir da experiência que João, o profeta prenunciado, fez.

Quando o mundo ansiava por um redentor, Deus fez-Se precisar de um mensageiro, um valoroso pregoeiro que, à frente do Senhor, preparasse os caminhos do tão esperado Salvador da humanidade, endireitando as estradas Daquele que “vem em nome do Senhor”. João batizava “no deserto, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados” (Mc 1,4). No dizer de Orígenes, “o Precursor de Cristo, ‘a voz do que clama no deserto’ prega no deserto das almas que não possuem paz” (Evang. Luc., 21, 2, 2-7).

João expectava o Cristo; era consciente de sua missão. Por este motivo, não se preparou apenas, como preparou a todo o povo, consolando-o e falando-lhes que, não olhando Deus os nossos pecados e o castigo que, por eles, merecíamos, cumular-nos-ia com uma recompensa maior. Isto vem expresso por Isaías: “Consolai o meu povo, consolai-o! – diz o vosso Deus –. Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida; ela recebeu das mãos do Senhor o dobro por todos os seus pecados” (Is 1,2). Mediante a preparação das vias do Senhor no coração do povo que este pregoeiro fará, Deus manifestará a sua glória “e todos os homens verão juntamente o que a boca do Senhor falou” (Is 1,5), ou seja, o Verbo Divino, Jesus Cristo, o “Deus Conosco”.

É missão de João, pela boca de Deus pelo profeta Isaías, trazer o alegre anúncio da vinda do Salvador: “‘Eis o vosso Deus, eis que o Senhor Deus vem com poder, seu braço tudo domina: eis, com ele, sua conquista, eis à sua frente a vitória’” (Is 40,9-10). Interessante é que o profeta Isaías traz-nos à idéia um Deus poderoso, vitorioso; consoantemente, o Batista diz: “Depois de mim virá alguém mais forte do que. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias” (Mc 1,7). E como nos vem o Messias, o ‘Esperado das nações’, senão envolto em nossa pobre condição humana? Sim, O que nos virá é forte, é grande, é majestoso, é vitorioso. Mas, por ser tudo isso, é que ele é complacente.

Deus é misericordioso. A Primeira Leitura deste domingo historicamente se insere na esperança da libertação de Israel do jugo do cativeiro da Babilônia. E, por que o povo estava cativo? Porque pecou. Deus é justo, mas é misericordioso. Por isso, pelo profeta que prenuncia a vinda de um outro que falará da libertação, é lembrado a Israel o motivo de sua redenção: a imensa misericórdia do Senhor. Se grande foi o pecado, proporcionalmente foi o castigo: a escravidão; porém, incomparavelmente superior é o beneplácito do Senhor. Por nós mesmos, nada podíamos, pois somos incapazes e grande era a dívida a ser saldada, e, a partir do Salvador prometido, alcançamos de Deus a vida divina.

Dentro do contexto do Advento, temos presente, na Segunda Leitura, o alerta dado por São Pedro acerca da segunda vinda do Senhor. Muitos tentam incutir medo nas pessoas com relação à tenacidade deste retorno, tiranizando Deus. Inclusive, alguns chegam até mesmo a datá-las, o que é absurdo! A Mãe-Igreja nunca escondeu esta verdade de fé: “O Senhor virá!”. Mas, quando isto acontecerá? Repetindo o seu Mestre, Pedro diz: “Para o Senhor, um dia é como mil anos e mil anos como um dia. O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como pensam alguns, achando que demora” (2Pd 3,8-9). Com isso, o Apóstolo está nos aconselhando à paciência. Logicamente, não devemos ficar passíveis à volta do Senhor. Também não devemos nos atemorizar com este divino evento em que seremos finalmente recolhidos no Senhor. E o pior: não devemos nunca pensar que o Senhor não virá. O Senhor virá para reunir-nos. A lembrança deste dia surpreendente é convocação para uma “vida santa e piedosa” (2Pd 3,11), pois, como bem sabemos, esta terra não é o nosso lugar definitivo, mas a partir dela, rumaremos aos “novos céus e nova terra” (2Pd 3,13).

Nesta vida que levamos de expectativa do Senhor, não percamos de vista a dimensão de Sua vinda cotidiana. Assim como nos veio e nos virá, Ele vem a nós todos os dias nos mistérios da Igreja. Estas “vindas”, igualmente imprescindíveis como a Encarnação e a Parusia, são oportunidades espetaculares de um aprimoramento de vida, conformando-a a do Senhor. Que a Virgem Maria nos auxilie com o seu perfeito exemplo e com a sua maternal intercessão.