ARACAJU/SE, 19 de abril de 2024 , 11:10:50

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A pedra na margem do rio

A pedra está na margem do rio. Não é no meio do caminho.  Não atrapalha os poucos pescadores que por lá transitam portando suas redes de pescar. Maré alta, maré baixa, não lhe move um centímetro para frente nem para trás. Mas, a minha dúvida persiste, por não haver, entre nós, o eterno, o eterno não, o permanente vigilante das praias, que tenha anotado o surgimento da pedra em algum caderno. Nos museus e arquivos locais não há  registro. O certo é que, um dia, a pedra me chamou a atenção. Acredito que deva medir, de altura e comprimento, quase um metro e um pouco mais de um, respectivamente. É suficiente para, nela encostada, a pessoa ficar completamente isenta da curiosidade de todos. De quando em quadro, em dia de sábado, pela manhã, vi um casal dela se utilizou para  ali deixar a roupa enquanto dava mergulhos, mesmo não sendo recomendável ao banho.

Nenhuma onda a trouxe, nem o homem teria força para sustentá-la em sua cabeça ou nas costas. Guindaste, ali, pois, pois, não tem acesso. Fora de cogitação. Quem a colocou na margem do rio? Não sei. Desconfiar de um ser alienígena, que a tenha transportado numa nave, é façanha que apenas dignifica minha imaginação. Tivesse ela sido vista por Drumond, o poema seria mais amplo: Na beira do rio havia uma pedra, e assim por diante, sem força para se eternizar como o verso no meio do caminho havia (ou tinha?) uma pedra. Aliás, não se ensina o pai-nosso a padre velho. Drumond sabia a fórmula correta do verso que ganharia vida. Não era qualquer um. Na da pedra no meio do caminho era aquele mesmo, A pedra na margem do rio é outra, e, essa não é foi a eleita pelo poeta, nem é local onde barco atraque.

Deixemos os fatos com a argila da sua construção. A pedra, no meio do caminho de Drumond, não é a mesma da beira do rio. Esta, estivesse no meio do caminho, seria retirada no explosivo ou levada para fora da estrada por trator. Todo cuidado é pouco, para não se mexer na história, não trasladando para um caminho, que se ignora aonde fica, uma pedra que ninguém, com um empurrão, a tira do lugar. Algum leitor de Drumond vai protestar. Alterar o cenário do seu poema?  Não pode! Insistência doentia! Vote!