ARACAJU/SE, 20 de abril de 2024 , 4:19:51

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A raposa e o gavião

Tivéssemos restaurantes destinados também a raposos e raposas, acredito, e até aposto, que o prato predileto seria o de galinha. E, ademais, galinha viva, escolhida na hora na vitrina pela própria raposa, e devorada no prato, sem necessidade do cozinheiro, tirar suas penas,  prepará-la, tarefa que faz parte do ritual do sacrifício da galinha, do qual a raposa não abre mão. Talvez até o preço fosse suave, porque o prato era servido sem acompanhamento, nem entrada nem saída, e, sem precisar ser preparada, dispensaria a passagem da ave morta pela cozinha. O apetite da raposa se concentra na galinha, acentuando o cuidado artesanal com que a dispensa, as penas ficando unidas, podendo ser aproveitada até para enfeite do índio.

O gavião é igual e é diferente. Explico o conflito de assertos. É igual por colocar a galinha no caderno de suas preferências. Diferente porque da galinha só se serve da cabeça. Exato. Talvez carregue no sangue um certo ranço dos tempos da guilhotina que o francês tanto usou para cortar cabeças e se considere, ainda, um revolucionário retardatário que encara a galinha como se fosse um nobre que deva ser eliminado. Não vou brigar pela vitória de meu entendimento. O que quero deixar bem claro é que o gavião, da galinha, só aprecia a cabeça. Do pescoço para baixo, nada lhe apetece uma beliscada sequer, nem as partes carnudas das coxas o atraem.

Da raposa, já sabia. Do gavião tomei conhecimento, recentemente, na feira, na banca de frutas, onde o casal de feirantes também vende ovos, e de capoeira, colhidos no galinheiro do sítio, em município do interior, me informou da grande tragédia vivida, o galinheiro atacado por gavião, que se vale da ausência do dono por perto, e, ataca as galinhas, sacrificando três, sempre três, deixando as outras vivas. Sem ter uma espingarda para emprestar, indiquei o caminho a ser tomado, o de dar queixa à polícia, para que tomasse as providências devidas. Não sei se a prestou. O que soube, na feira seguinte, é que o gavião desapareceu, o galinheiro não perdeu nenhuma galinha mais, e tudo voltou a ser como antes. Penso que o gavião desconfiou de minha orientação, e, asas para que te quero, voou para outro galinheiro. Se meter com a polícia, nada feito. Parada dura. Acho, mas, também, não me arrisco a apostar.