ARACAJU/SE, 19 de abril de 2024 , 4:42:00

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A única Porta

Quando lemos o profundíssimo discurso de Jesus junto à chamada Porta das Ovelhas, no Templo de Jerusalém (cf. Jo 10), vemos, já nos primeiros versículos, a identificação que o Cristo faz de Si mesmo: “Eu sou a porta das ovelhas. […] Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem” (Jo 10,7.9). Nesta assimilação, temos uma introdução para a afirmativa culminante da ternura misericordiosa do Senhor: “Eu Sou o Bom Pastor, conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem […]; eu dou a vida pelas ovelhas” (Jo 10,14.15). Mas, como entender a imagem da porta, presente neste trecho do Evangelho?

No ano de 2012, para conclamar toda a Igreja para o Ano da Fé, o Santo Padre Bento XVI escreveu um documento, um Motu Proprio, denominado Porta Fidei, ou seja, Porta da Fé. E nos dizia: “A porta da fé (cf. At 14,27), que introduz na vida da comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar aquela porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem início com o Batismo (cf. Rm 6,4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e é concluído com a passagem da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus Cristo, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória quantos creem n’Ele (cf. Jo 17,22).

Ao apresentar-Se como porta, o Senhor Se nos propõe como perspectiva, como programa de vida. Porta designa escolha; porta é sinal de proposta. Jesus não é, simplesmente, uma proposta dentre tantas; mas é a única doadora de vida e de felicidade porque nos faz, cada vez mais, almejar a comunhão com Deus, fora da qual nada, absolutamente, vale a pena.

Esta comunhão com Deus é expressa pela pertença ativa à vida da Igreja. E ainda que nestes dias difíceis de coronavírus este pertencimento, na prática comunitária de “sentir com a Igreja”, seja demonstrado – em muitas das vezes – de maneira virtual pelos meios sociais de comunicação e pela família que se reúne para rezar, sempre passamos pelo Cristo, pela porta da fé, à comunhão com o próprio Deus.

A porta-Cristo é também a porta-Igreja. Explico-me: chamando a Igreja de porta, reconhecemos que o Corpo Místico do Senhor é a Sua Igreja, da qual Ele é a Cabeça e nós, os membros (cf. Cl 1,18; Ef 4,15). Mas, a Igreja também é o campo onde encontramos a pastagem, o nosso alimento para o Céu, que outra realidade não é senão o próprio Ressuscitado, que nos alimenta de Si, com o Seu Corpo e o Seu Sangue, que nos devem ser a única satisfação – por ser a mais sublime – de nossa existência. Regozijo verdadeiro para uma alma não existe fora de Deus, que sana, que sacia, integralmente, o nosso ser, ao tempo em que o rebanho único do Senhor é o reunido na Santa Igreja Católica.

A porta-Cristo, a porta-Igreja, sempre está aberta para nós, para todos. É a porta admirável para a liberdade, que nos conquista pela audição atenta à Palavra de Deus que nos é anunciada como convite irrecusável, como proposta de salvação e de vida em abundância (cf. Jo 10,10). Esta porta ainda nos inspira à conversão, haja vista que o coração se deverá deixar plasmar para nela ingressar. Sim, mesmo sendo porta de liberdade para a salvação, a porta-Cristo se caracteriza pela sua estreiteza, pela sua justeza (cf. Lc 13,24), de maneira que é imprescindível o nosso constante esforço para por ela passarmos, numa adequação de vida ao próprio Cristo Bom Pastor, que nos chama. E mesmo quando das nossas dificuldades na travessia, Ele não Se descuida de nós, pois, se O permitirmos, carrega-nos aos ombros, isso porque já carregou os nossos pecados com a Sua Cruz redentora. E tudo isto para quê? Para, passando pela porta da fé, desde o Batismo, nos caminhos deste mundo, cheguemos à salvação.

Tenhamos cuidado com as situações – e quem sabe até pessoas – disfarçadas de ovelhas (ou mesmo de pastores) que nos querem desviar da vida proposta por Jesus, único e supremo Pastor, expressada pela existência, fé e moral da Igreja Católica, singular rebanho do Pastor! Aqueles que se passam como ovelhas e pastores, e que são alheios a Santa Igreja, no dizer de Jesus, são ladrões e assaltantes, que “só vem para roubar, matar e destruir” (Jo 10,10). Não os sigamos, pois nos perderemos pelos seus maus conselhos e condutas, porque perderemos a salvação!