ARACAJU/SE, 28 de abril de 2024 , 2:16:28

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Aracaju: “Vaquinhas” Imobiliárias e a Devastação Ambiental

A capital sergipana, Aracaju, vive um momento de crescimento urbano acelerado. Empreendimentos imobiliários surgem a cada esquina, impulsionados por um modelo de negócio que coloca em risco o futuro da cidade: as famigeradas “associações pró-construção”.

Em tese, essas associações se apresentam como uma alternativa para viabilizar o sonho da casa própria, reunindo recursos de um grupo de pessoas para a construção de um condomínio ou edifício. No entanto, por trás da fachada aparentemente inocente, esconde-se um sistema que privilegia o lucro desenfreado em detrimento da preservação ambiental e da qualidade de vida da população. A margem de 20% de taxa de administração é uma excelente fonte de lucro alto. 

As associações pró-construção operam em uma zona cinzenta da legislação, driblando as regras urbanísticas e ambientais. Frequentemente, ignoram a necessidade de estudos de impacto ambiental, desmatam áreas verdes, ocupam áreas de preservação permanente e colocam em risco a segurança dos próprios moradores. É importante destacar que as associações pró-construção, muitas vezes, funcionam como “vaquinhas” entre os associados para viabilizar empreendimentos, inclusive com casos comprovados de investimentos em pirâmides financeiras. Ou já esqueceram do caso dos 7 milhões que desapareceram na pirâmide da JR Investimentos? 

Um exemplo recente da devastação causada por esse modelo é o caso de um condomínio em construção no Mosqueiro. A obra, impulsionada por uma associação pró-construção, avança sobre a vegetação ciliar do rio, comprometendo o equilíbrio ecológico da região e a segurança das pessoas que vivem no entorno. O que mostra de forma clarividente que a preocupação com o meio ambiente não é contemplada nessa iniciativa.

O bairro Coroa do Meio serve como um exemplo preocupante. Localizado na zona costeira, a região enfrenta a ameaça de construções próximas ao molhe de pedras, estrutura vital para conter o avanço do mar. A construção de edifícios altos nessa área pode comprometer a segurança dos moradores e fragilizar ainda mais a proteção contra a erosão marítima.

Empreendimentos sem a devida regularidade estão surgindo na cidade, no formato de associações. Um centro médico-empresarial que está sendo construído no bairro Jardins, está com um problema sério de ter iniciado seu processo de construção, sem o Relatório de Impacto de Vizinhança, documento obrigatório para o erguimento de qualquer construção. Com isso, foi pedida na justiça a cassação das licenças e aprovações do empreendimento, já que não foi feita toda a tramitação necessária para sua construção. Os associados poderão ter mais uma conta para pagar em breve, devido à falta de transparência da administradora da associação. 

A proliferação desenfreada de empreendimentos sem planejamento coloca em risco o futuro de Aracaju. A cidade corre o risco de perder suas áreas verdes, sofrer com o aumento da impermeabilização do solo, intensificar as inundações e comprometer a qualidade de vida da população.

A sociedade aracajuana precisa se mobilizar contra esse modelo predatório de desenvolvimento urbano. É urgente que as autoridades tomem medidas para coibir as irregularidades, fortalecer a fiscalização e garantir que o crescimento da cidade seja feito de forma sustentável e responsável.

Há uma necessidade urgente de revisão e atualização do Plano Diretor Urbano, com foco na preservação ambiental e na qualidade de vida da população, além de uma fiscalização rigorosa das obras em andamento, com punição exemplar para os casos de irregularidades. O Plano Diretor de Aracaju precisa necessariamente de implementação de medidas que incentivem a construção sustentável e a recuperação de áreas degradadas. Para que assim possamos fazer a ampliação do debate público sobre o futuro de Aracaju, com a participação da sociedade civil organizada.

Aracaju não pode se tornar refém de um modelo de desenvolvimento que sacrifica o meio ambiente em nome do lucro. É hora de construirmos uma cidade mais verde, mais justa e mais sustentável para as presentes e futuras gerações.