ARACAJU/SE, 18 de abril de 2024 , 14:41:32

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As nossas mãos erguidas

No Evangelho de São Lucas, o Senhor faz uma séria catequese acerca “da necessidade de rezar sempre, e nunca desistir” (Lc 18,1. Mas o que é oração? Como rezar? Para que fazê-lo?

Os Padres da Igreja, exatamente São João Damasceno e Santo Agostinho, conceituam o ato de orar como elevação da alma para Deus, numa aspiração amorosa. Definem-na, ainda, como petição de coisas convenientes, estabelecendo entre o orante e o próprio Deus uma conversa. Assim, a oração é uma ascensão do nosso espírito a Deus para louvá-Lo e pedir-Lhe graças para sermos melhores para a Sua glória.

Sim, a oração é um ato de elevação. No livro do Êxodo, vemos Moisés, de braços erguidos, orante, a fim de que Israel, na sua batalha contra os amalecitas, vencesse (cf. 17,8-13). Esta gestualística do grande Patriarca Moisés é sinal da oração como súplica a Deus, que faz “justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele” (Lc 18,7). E esta deve ser a postura do cristão: rezar, suplicar. A importância da oração constante, diária, é inegável. Porém, aproveito a oportunidade para incitar os fiéis à valorização da maior oração da vida da Igreja, que é aquela que perpetua o Sacrifício de Cristo ao Pai, no Espírito Santo, séculos afora: a Santa Missa.

Percebam – e não por um acaso – que é gesto comum à Liturgia da Missa o sacerdote elevar, frequentemente, os braços em direção ao céu, em prece, exprimindo as quatro finalidades do Sacrifício celebrado, as quatro finalidades da oração: 1) adoração: o sacrifício do Filho único de Deus é o único dom verdadeiramente digno que podemos oferecer-Lhe em honra e adoração; 2) propiciação: pelo Sacrifício da Missa, aplicamos o Sangue de Cristo ao perdão de nossos pecados; 3) ação de graças: por Cristo, oferecemos, de maneira mais que eficiente, nosso agradecimento e louvor por todos os muitos benefícios que recebemos; 4) petição: pela intercessão de Cristo, esperamos obter a assistência da graça de Deus para as nossas intenções. Como súplica não há graça alguma que Deus nos negue se a pedimos na Missa.

O jesuíta bávaro-brasileiro Padre João Batista Reus, no seu Curso de Liturgia, assim se exprimirá sobre a atitude sacerdotal de elevar as mãos na Missa: este gesto de oração “é expressão de uma alma aflita ou necessitada ou jubilosa, que se dirige a Deus, para pedir alguma coisa, confiar n’Ele, agradecer-Lhe. Por isso também os cristãos o conservaram” (p. 70). E quanto ao seu uso na ação litúrgica, o sacerdote representa a imagem de Jesus Cristo crucificado (cf. Ibidem).

Enquanto Moisés estendia-se para que os inimigos visíveis de Israel fossem derrotados, o “Novo Moisés e Verdadeiro Libertador”, Jesus Cristo, estendeu os braços na Cruz para vencer o grande inimigo de Deus, maligno à nossa alma, Satanás. E, enquanto Moisés se cansa de sua oração, sendo amparado por Aarão e Ur, Jesus Cristo, a partir da Cruz, não cessa de oferecer-Se como oração perfeita ao Pai no Sacrifício da Missa, amparando-nos em nossa fraqueza na luta contra o diabo e os seus sequazes.

São Paulo, recordando a infância de Timóteo, de como este, desde a tenra idade, conhecia as Sagradas Escrituras, dir-lhe-á: as Sagradas Escrituras “têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra” (2Tm 3,15-16). Engana-se, portanto, quem pensa que a Santa Igreja, pelos seus sacerdotes de braços estendidos no único Sacrifício de Cristo, não proclama a Palavra de Deus, evangelizando, ensinando, exortando e corrigindo corações. Toda a Missa é Palavra de Deus anunciada, celebrada, vivida. E, quando tocado pela Santa Missa, o ex-pastor protestante calvinista Scott Hahn, no despertar de sua conversão ao catolicismo, estupefato, confessará: “[…] à medida que a missa prosseguia, alguma coisa me tocou. A Bíblia não estava só ao meu lado. Estava diante de mim – nas palavras da missa! […] A experiência era prodigiosa. Eu queria interromper tudo e gritar: ‘Ei! Posso explicar o que está acontecendo a partir das Escrituras? Isso é maravilhoso!'” (In: O Banquete do Cordeiro, p.22).

E ainda nesta relação existente entre o Altar e a Palavra, intrinsecamente, apenas na Missa, o clássico “Imitação de Cristo” inspira-nos: “Sem estas duas coisas não poderia viver bem, por ser a Palavra de Deus a luz da alma e o vosso Sacramento o pão da vida. Podem ser consideradas duas mesas, dispostas de um e de outro lado no tesouro da Santa Igreja. Uma, a do Altar sagrado, contém o pão santo, isto é o precioso Corpo de Cristo. A outra, a da Lei divina, encerra a santa doutrina, que ensina a verdadeira fé e conduz, com segurança, até o interior do santuário, onde está o Santo dos Santos” (Livro quarto, capítulo XI).

Que, unidos à Igreja, por sermos os seus filhos, não cessemos de, assistidos pela Palavra de vida e de salvação, elevarmos as nossas mãos, através do sacerdote, e dos nossos inimigos espirituais e corporais seremos livrados, nesta súplica filial ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, chamada Santa Missa.