Riquíssimo é outubro: mês missionário (por ser dia 01 a memória de Santa Teresinha do Menino Jesus) e, também, mês do Santo Rosário (já que dia 07, o calendário litúrgico festeja a Virgem Maria com o título de Nossa Senhora do Rosário), e, portanto, mês mariano. Porém, neste ano em especial, o Papa Francisco conclama, para toda a Igreja, este outubro como Mês Missionário Extraordinário.
Para a reflexão de hoje, tomemos o texto em que Jesus, na Sinagoga de Nazaré, revela-se como o esperado pela profecia de Isaías (cf. Lc 4,16-30; Is 61,1-2). No início de Sua vida pública, após o Batismo de João e ter ido ao deserto, escutar, no Espírito Santo, o Pai, e permitir-Se ser tentado, o Senhor retorna a Nazaré, cidade a qual Se tinha criado, para cumprir o prenúncio profético, que dizia: “Ele será chamado nazareno” (Mt 2,23; Jz 13,5.7).
E qual o descritivo de Nazaré? O Senhor não apenas foi criado naquele vilarejo, aparentemente insignificante diante da geografia judaica. Muito mais do que criado, em Nazaré, o Verbo Se encarnou, entrando na história humana para a Sua grande missão: salvar a humanidade. E, assim, Nazaré se imortalizou como o lugar escolhido por Deus para começar a Sua primeira missão, naquela que é tipicamente a do Filho. Foi em Nazaré que o Evangelho começou a ser anunciado pela boca do próprio Deus por São Gabriel, Arcanjo, que diz a Virgem Santíssima: “Ave, Cheia de Graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28), comunicando-lhe a Boa-Nova. O Senhor será conhecido, desde a visita à Sinagoga de Nazaré, pelo Seu incansável anúncio deste mesmo Evangelho da Salvação. E pelo cognome “O Nazareno” (cf. Jo 1,45-46) será conhecido, inclusive, na estampa da Sua Cruz redentora (cf. Jo 19,19).
Entretanto, Nazaré não é somente uma cidade evangélica, no sentido de que, ali, apenas foi anunciado, por primeiro, a Boa-Nova; ela é uma cidade missionária. A primeira grande missão, como já adiantei, é a de Deus, na Sua Segunda Pessoa Trinitária, a do Filho, que, “por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem”, como sintetiza o Credo Niceno-Constantinopolitano.
Naquele lugarejo, após ter recebido a sua missão de Mãe do Salvador, Nossa Senhora empreende uma segunda missão, que não independe daquela que foi noticiada pelo Anjo: vai para a casa de Isabel, sua prima, para servir. E como ela vai? Apressadamente. Agora, é interessante ainda notarmos que Deus, pelo Anjo, a nada lhe obrigara, tampouco, a correr para servir, felizmente, a Isabel; ela que poderia ter permanecido na sua modesta casa, preparando-a e preparando-se para o nascimento de Jesus.
Porém, ela parte, põe-se a caminho, com alegre prontidão, para prestar serviços singelos à sua prima. Para dizer que a missão de Maria, a Primeira Cristã, não independe da de Jesus. Ainda que na criatividade do Espírito Santo que impulsiona Maria a cruzar montanhas com toda pressa, sentimos que isto, após o seu ‘sim’ de amor, é exercício missionário.
E mais: com São Josemaría Escrivá, contemplamos a missão mariana como participação da missão do próprio Cristo: “Se procuramos Maria, encontraremos Jesus. E aprenderemos a entender um pouco do que há no coração de um Deus que se aniquila” (In: É Cristo que passa, 144), que Se estabelece na singeleza de nossas ações cotidianas e apostólicas. Isto percebeu Santa Isabel quando, olhando a Virgem, cansada porque tinha cruzado montanhas ao vir de Nazaré, mas nem por isso pesarosa ou triste, e que lhe apresentava Jesus, exclama: “Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite?” (Lc 1,44).
Vemos Nazaré como lugar de partida da atividade missionária de Jesus: de Seus ensinamentos, curas, ressurreições, enfim, como ponto de onde se irradia, para todo o sempre, a luz da salvação. Ainda que, como nos diz São Lucas, em Nazaré também houvesse descrentes, incrédulos em Jesus, duvidosos de Sua missão. Mas, Nazaré pode mudar de nome: pode receber a alcunha de coração, de família, de sociedade… a partir do despertar da atividade missionária de cada batizado, um impulso de cada coração. E, quando da nossa partida, feliz, apressada, não iremos sozinhos, Deus irá conosco; e, com a intercessão da Virgem Santíssima, o seu modelo de cristã resplandecerá.
Sejamos, como Maria e com ela, missionários. Partamos! Porque fomos escolhidos e somos enviados com aquela criatividade peculiar do Espírito Santo de Deus, que age em nós e, também, por nós, como seus instrumentos.
Padre Everson Fontes Fonseca,
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro.