ARACAJU/SE, 3 de maio de 2025 , 1:06:33

De Simão a Pedro; de Saulo a Paulo

A Ressurreição do Senhor foi um divisor de águas na vida da Igreja, e, consequentemente, na vida dos Apóstolos, sem exceção de ninguém. A luz do Ressuscitado mudou para sempre a compreensão de vida que aqueles homens tinham, alargando horizontes e certezas de que não mais se pertenciam, de que urgia a missão porque ardente e irrecusável foi o chamado do Senhor: “Segue-me” (Jo 21,19).

Foi justamente isto que se deu na vida de Pedro, outrora Simão. Após a Sua ressurreição, numa de Suas manifestações, o Cristo atribuiu ao pescador galileu, agora não somente pescador de homens, como também pastor: “‘Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais moço, cingias-te, e ias aonde querias; mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levarás para onde tu não queres’. E disse isto, indicando com que gênero de morte (Pedro) havia de dar glória a Deus. E, depois de ter assim falado, disse-lhe: ‘Segue-me'” (Jo 21,18-19).

Percebemos uma mudança de responsabilidade e de foco: de Simão (cujo nome significa ‘ouvinte’) para Pedro (Cefas: Pedra). Mas, o que Pedro ouvia? Antes, ouvia o seu coração atormentado pelo medo, pelo seu temperamento tempestivo; porém, passa a outra audição, abandonando a primeira: ouve o Senhor. E é justamente nesta nova escuta, que lhe pede um total comprometimento da vida, que escuta Cristo, o verdadeiro – e, portanto, único – sentido de vida pelo qual nada importa perder e somente no qual tudo se ganha. Assim, a mutação de nome é mudança de destino e da realidade de uma pessoa. Dar nome a alguém, ou mesmo mudar-lhe, na Sagrada Escritura, é apropriar-se daquele de quem o nome foi mudado. A partir da mudança de nome, Pedro é inteiramente do Senhor. Neste sentido, o Cardeal Gianfranco Ravasi dizer: “Simão torna-se agora a rocha na qual Jesus lança as bases daquele edifício que é a Igreja, de que Ele será sempre ‘pedra angular’ insubstituível”.

Também na vida de Paulo não foi diferente. De perseguidor a perseguido por ser Discípulo e Apóstolo; de obstáculo da Igreja a seu maior missionário; de Saulo a Paulo. Sim, o nome também mudou. E aquele que se converteu quando caiu por terra a sua própria ilusão de perseguir Deus, vê que o seu futuro precisa de um recomeço, de um novo norte em Cristo, já não sendo mais ele quem vive, mas o Cristo quem vive nele (cf. Gl 2,20). E de Saulo, que em hebraico significa “aquele que foi muito desejado”, passa a Paulo, “aquele que é pequeno”. Sim, Saulo era inflamado de zelo no judaísmo, por isso perseguia a ferro e sangue os seguidores do Cristo. Tal ódio fazia dele o desejado pelos judeus para acabar com aquilo que consideravam blasfêmia, porém enchia os olhos de Deus, pois, tal virtude determinada, bem aplicada, seria utilíssima ao Evangelho, bastando derrubar Saulo do pedestal de seu erro, de sua arrogância, de sua sanguinolência. Deus quis Saulo, e fez Paulo; Deus o quis e o fez pequeno para dependê-lo da sua graça (cf. 2Cor 12,9). Saulo, cujo nome na cultura grega significa efeminado, tornou-se Paulo, um grande homem da Santa Igreja de Cristo, sendo, juntamente com Pedro, uma das doze colunas apostólicas. Que mudança!

Pelo Batismo, recebemos a fé da Igreja Apostólica. O Senhor mudou-nos o nome para cristãos. O nome é a missão. Não nos eximamos dela, continuando o labor iniciado pelos operários da primeira hora (cf. Mt 20,1-6), no mesmo zelo, na mesma coragem, no mesmo desprendimento da própria vida. Zelemos e valorizemos a fé que recebemos, bem infinitamente mais precioso do que o existir. Se assim não fosse, não estaríamos a celebrar o sangue derramado dos ilustres baluartes Pedro e Paulo, que seguiram o Senhor em tal perfeição, que imitaram o Senhor com os seus martírios, um pela cruz e outro pela espada. E nós, de que forma imitaremos o Senhor?