ARACAJU/SE, 20 de abril de 2024 , 2:45:35

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“E o nome da virgem era Maria”

Prestes a celebrarmos a Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo, na preparação imediata para, misticamente, revivê-la bem, pomo-nos diante daquela que, dentre todas as criaturas, melhor preparou – e se preparou – para acolher o Salvador: a Virgem Maria.

Quando tomamos o Segundo Livro de Samuel, temos o pensamento generoso de Davi em querer preparar uma digna morada para Deus, um templo, no meio de Israel: “Vê: eu moro num palácio de cedro, e a arca de Deus está alojada numa tenda! (2Sm 7,2). Por mais que o desejo do Rei fosse reto e nobre, ainda que com a permissão do Profeta Natã, o próprio Deus impede Davi de fazê-lo. Por quê? Davi não tinha a pureza em seu coração pelas guerras que travou; tinha as mãos sujas de sangue, mesmo que tivesse um coração bom e se esforçasse para ser justo diante do Senhor não obstante os seus pecados. Aquele que é o Incontido, que nem mesmo a imensidão dos Céus pode abarcá-Lo, não Se sujeita à boa vontade do Rei Davi. Entretanto, garante-lhe que consolidará a sua casa como regente de Israel, de maneira que, da sua descendência – palavras do Senhor: “suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre” (2Sm 7,12-14). Aqui, veladamente, temos duas profecias: ao lado da estabilidade da casa real de Davi, Deus que, misteriosamente, estabelecerá a Sua casa, sendo para o descendente de Davi um pai.

Deus não fala, necessariamente, de Salomão, filho e sucessor de Davi no trono de Israel. Ainda que Salomão tenha recebido de Davi os nobres elementos para a construção do grandioso Templo de Jerusalém (cf. 1Cr 28-29); tampouco a profecia da morada divina entre os homens se realizará neste feito. A dupla profecia desta leitura do Segundo Livro de Samuel encontra o seu real cumprimento em Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus, Rei do Universo e Senhor dos senhores; por adoção, pertencente à árvore genealógica de Davi e do pai Abraão (cf. Mt 1,2.6); filho, por obra e graça do Espírito Santo, da Virgem Maria. Assim, neste apresto para o Natal, somos convidados a olhar o ventre puríssimo, imaculado de qualquer nódoa, de Maria, percebendo nela o Templo da Divina Graça.

Aquele que é o Puríssimo e Fonte de toda a Beleza, por imensurável e insuperável dignidade, não quis vir montar a Sua tenda sobre “qualquer terra”. Preservando a Virgem Santa Maria da mancha do pecado original, sempre cativou o seu coração imaculado para que não optasse por qualquer impureza ou concessão ao pecado. Quis nascer da Sua criatura mais pura, mais perfeita e mais bela, fazendo-Se carne no seio de Maria; fazendo Sua Mãe uma criatura, ainda que especial, sujeitando-Se aos seus cuidados maternais. O Infindável resume-Se a homem e monta a Sua tenda, a Sua morada nas entranhas de Maria, fazendo-a Seu sacrário digníssimo. Quanto mistério! Palavras tornam-se insuficientes para dizê-lo, quanto mais para esgotá-lo… Por isso que, há pouco, lhe dizia, ilustre leitor, que foi Maria, dentre todas as criaturas, a que melhor preparou e se preparou para acolher o Senhor.

Principalmente com a experiência inspirada pelo Tempo do Advento, Maria refulge-nos como modelo a ser seguido: a nós, que devemos purificar – inclusive pelas vias sacramentais da Confissão – o nosso interior, estendendo-o a Deus para que faça a Sua morada em nós. Não somos tão dignos quanto aquela que foi dignificada por Deus para abrigá-Lo. Porém, podemos empreender todo o nosso esforço, toda a nossa potencialidade para sermos menos indignos de acolher o Senhor pelo mistério do Seu Natal. Virginizemos, por inteiro, o nosso coração, e Deus nascerá nele e morará conosco, fazendo-nos contemplar a Sua meiga face.