ARACAJU/SE, 23 de abril de 2024 , 6:59:54

logoajn1

Ela é sempre a nossa Mãe

“Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl 4,4). De maneira diretíssima, podemos dizer que, na plenitude dos tempos, Deus enviou-nos o Seu Filho por uma Mãe, que foi constituída também nossa Mãe (cf. Jo 19,45).

Sim, Maria é verdadeiramente Mãe de Deus. Este dogma de fé deve ser sempre proclamado por nós com maior fervor. E, principalmente nestes dias tão difíceis que nos assaltam, inclusive pela ameaçadora pandemia, penso no significado da maternidade espiritual de Maria sobre toda a humanidade. O Venerável Fulton Sheen, Bispo estadunidense dos meados do século passado, num belíssimo livro “O primeiro amor do mundo”, dedicando um capítulo para a temática do senhorio de Maria sobre o universo, conceituará a maternidade de uma forma geral como “a imagem do Eterno no Tempo, a sombra do infinito no finito”.

Não apenas em nossa língua portuguesa, como em todas as culturas, o nome de ‘mãe’ e o seu ideário nos inspiram doçura e amor. Imaginemos a candura que resplandece em Maria pelo fato de ser ela a Mãe de Deus e nossa Mãe. Por ser a Mãe do Senhor, o seu papel é o de tudo preparar para Jesus. Não apenas o fez para o Seu Natal, quando deu à luz o Filho de Deus, naquele estábulo de Belém (cf. Lc 2,16-21), mas continua a preparar para o Senhor almas para a Sua vinda. A minha alma; a sua alma, cristão; as almas de todos são queridas por Maria para prepará-las para o seu bendito Filho. Olhando para Maria-Mãe, queremos que ela nos alimente com as virtudes que habitaram o seu terno e casto coração, pois assim como uma mãe que, depois de nutrir o corpo do seu filho com a sua própria substância (o leite materno), alimenta o filho da substância do seu espírito como guardiã dos valores e protetora da moralidade, queremos ser salvaguardados por Maria dos males que afligem o nosso corpo e a nossa alma; porque, como ainda escreve Fulton Sheen: “Ela é a mulher ideal. Ela é verdadeira A MÃE” (Op. Cit.).

Em nossas orações, milhares de vezes já repetimos: “Bendita sois vós entre as mulheres” (Lc 1,42). Nisto, Maria não é apenas imortalizada pela graça de Deus, de quem, de maneira privilegiada, contempla a glória, como igualmente o é pelo povo de seu Filho. Observando a história da humanidade, percebemos que muitos que se julgavam ilustres, importantes e poderosos sucumbiram ao esquecimento. “Só Maria sabe dizer que fará exceção a essa regra. Ousando predizer que a lei do esquecimento será revogada em seu favor, ela proclama a sua eterna recordação, e isso embora o Menino, mercê do qual ela será lembrada, ainda não tenha nascido. […] Só alguns meses depois ela trará o Menino em Seu ventre, e, todavia, essa mulher mergulha o seu olhar nos corredores do tempo. Vê os povos desconhecidos da África, da Ásia, da China e do Japão. Proclama, com inteira segurança: ‘Doravante, todas as gerações me chamarão a bem-aventurada’ (Lc 1,48)” (Fulton Sheen. Op. Cit.). Nós amamos Maria e a ela nos confiamos. E “quando procuramos as razões desse universal amor por Maria, mesmo entre os povos que não conhecem o seu Filho, encontramo-las nos quatro instintos profundamente ancorados no coração humano: o gosto do belo; a admiração pela pureza, o respeito que se tem por uma rainha e o amor que temos por nossa mãe. E isto se resume em Maria. […] As demais mulheres têm algumas dessas qualidades, mas não todas ao mesmo tempo. Quando o coração humano considera Maria, vê nela a realização concreta de todos os seus desejos e exclama, num êxtase de amor: ‘Eis a mulher!’” (Ibidem).

Sempre carecemos dos cuidados maternais. E mesmo em relação à nossa mãe terrena, nunca é tarde para perdê-la. Na calamidade do tempo atual, onde a nossa alma e o nosso corpo correm grandes riscos, nosso olhar se ergue para Maria, contempla-a, ergue-lhe uma filial prece… E não é somente um instinto filial que nos é conatural que se nos realça, é a certeza da fé que impera em nosso coração: temos a Mãe de Deus por nossa Mãe.

Mas, para este mundo, mais amedrontado pelo avassalar de um vírus do que pelo pecado e dos horrores que este produz, Maria não apenas se apresenta como Mãe mas também como mulher. As mulheres precisam aprender de Maria a sua feminilidade, principalmente onde subjaz a falsa teoria do empoderamento feminino e um feminismo descabido que apregoa: “Meu corpo, minhas regras”, e assim o aborto, como outros contravalores, são promulgados como leis humanas, contristando a Lei divina. Aprendei, mulheres: “somente o cristianismo demonstra que o verdadeiro princípio feminino é a Mãe de Deus” (Fulton Sheen, Op. Cit.). Ela, docilmente submissa à vontade do Senhor, é modelo para vós. Copiai-lhe em tudo, inclusive ao serdes abertas ao dom da maternidade, e, como mães, na solicitude integral dos filhos que vos foram confiados.

Erguendo os nossos olhares para a Virgem que impera abaixo de Deus, elevando aos céus o mirar da nossa alma em culto a Mãe do Senhor e nossa, reconhecendo que o mundo inteiro está sob o seu patrocínio maternal, façamos subir o nosso louvor de filhos a uma Mãe universal, que se incultura conosco em nossos diversos sofrimentos e agonias, ganhando sempre as nossas feições: “Nós te saudamos nos teus milhares de imagens,/ nós te chamamos e aclamamos nos teus milhares de tronos / talhados nas rochas de cores variadas, / que se erguem tingidos de todos os pores do Sol… / Se é verdade que entre todos esses tons e todas essas nuanças essa cor que me penetra / […] eu me ajoelho diante do teu rosto noturno de infinita misericórdia” (Gilbert K. Chesterton, The Black Virgin).