ARACAJU/SE, 2 de dezembro de 2024 , 5:52:55

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Factus oboediens usque ad mortem

Adentramos ao mistério da Paixão do Senhor: eis o porquê deste dia receber a alcunha de Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, pois Aquele Jesus de Nazaré, que entra em Jerusalém, dela não mais sairá. Servo Obediente, sobe à Cidade de Davi, dos profetas, dos justos, dos que esperavam o Messias davídico, para, como ‘primícias’, abrir as portas da Jerusalém do alto, “a Cidade de Deus, a morada do Altíssimo” (Sl 46,5).

Nos versos do Cântico do Servo Sofredor (cf. Is 50,4-7), averiguamos a total obediência do Cristo Salvador. A vida do Filho de Deus foi uma constante oblação em obediência ao Pai para a salvação do gênero humano. Tal cântico nos recorda que, desde o momento da encarnação do Verbo, se faz, de maneira misteriosa, presente o Mistério Pascal. Basta recordarmos a fuga do Menino para o Egito quando o tirano Herodes procurava-O para matar-Lhe. Jesus vai a Jerusalém para que toda a Escritura, a Lei e os profetas se cumpram.

No sentido da obediência do Cristo, o apóstolo São Paulo discorre singularmente acerca da teologia da ‘Kénosis’ de Nosso Senhor, ou seja, a Sua descida ao encontro da nossa humanidade. “Jesus Cristo existindo em condição Divina não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,6-8). Este é o tratado da encarnação, paixão, morte e ressurreição do Senhor! Fez-se escravo, pela obediência, para que fossemos libertados da opressão do pecado. O gesto servil de Jesus, cruentamente, culmina naquela Sexta-Feira. Obediente até o Gólgota! Obediente para que muitos recebessem a salvação, por isso é-lhe sentenciada a pena mais terrível: a crucifixão. A oferta de Cristo é livre e total. “Dou a minha vida livremente!” (Jo 10,18).

Santo Agostinho afirma que “A cruz não só foi o patíbulo da morte, mas, também, a cátedra do Mestre”. Desta forma, nós somos impelidos a copiar os exemplos de obediência e paciência diante da nossa variada participação na Paixão do Senhor com as situações que a vida nos impõe, e que, consentidas pela providência de Deus, nos auxiliam no processo de nossa santificação como assentimento ao plano de salvação que Deus nos tem.

Jesus, o Inocente pregado na cruz, é a vítima de reparação por nossas inúmeras ofensas e perversões. Somente Nele é que encontramos justificação, pois o Homem-Cristo recapitulou toda a criação com a Sua obediência ao extremo. Na Sua oferta de cruz, que coaduna abandono, solidão, desprezo e aniquilamento, aponta-nos a condição injusta e desobediente da nossa humanidade. O Justo, feito injusto por nossas limitações, levou-nos à plenitude. Conduziu-nos na estrada da cruz para o horizonte da imortalidade. A Jesus, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, a glória e a imortalidade, o poder e a honra, pelos séculos infindos. Amém.