ARACAJU/SE, 2 de dezembro de 2024 , 5:34:42

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Igreja: Cidade, Esposa e amor de Deus

Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru)

Na semana passada, aludia brevemente no nosso artigo acerca do significado de Igreja, do grego ekklesía, com “a ideia de um povo que se reúne em torno de Alguém, de um Pastor”. Nesta ocasião, desejo continuar acerca desta mesma tratativa eclesiológica.

São João, no Apocalipse, vai confessar o que viu dentre outras coisas: “Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, vestida qual esposa enfeitada para o seu marido” (Ap 21,2). Logo, aqui neste versículo, temos duas informações importantíssimas: a primeira: a Igreja, chamada por São João de “a cidade santa, a nova Jerusalém”, é uma realidade que nasce do coração do próprio Deus, uma instituição divina sobre esta terra. Esta mesma ideia de que a Santa Igreja Católica é uma realidade divina é apresentada por São Paulo, numa de suas cartas: “A Jerusalém do alto é livre, e ela é nossa mãe” (Gl 4, 26).

Santo Agostinho, numa de suas obras, Civitate Dei, chamará a Igreja de ‘Cidade de Deus’ e de ‘Sociedade dos santos’. Mas, como somos associados a esta realidade divina? Pelo Batismo, que nos abriu a “porta da fé” (At 14,27). Pela riqueza do Seu amor, Deus escancarou para nós o ingresso a realidade do Seu Céu, já aqui, já agora, pela Igreja, de maneira que nos tornamos membros de Sua família e concidadãos dos Santos, não mais estrangeiros e nem imigrantes (cf. Ef 2,19).

Segundo: São João viu a Igreja engalanada “qual esposa enfeitada para o seu marido”. A Igreja é a Esposa de Cristo. É nesta imagem esponsal que o Catecismo da Igreja Católica vai relacionar a Igreja e cada alma nesta intimidade com o Cristo- Esposo: “O apóstolo apresenta a Igreja e cada fiel, membro de seu Corpo, como uma Esposa ‘desposada’ com Cristo Senhor, para ser com ele um só Espírito (cf. 1Cor 6,15-17; 2Cor 11,2). Ela é a Esposa do Cordeiro imaculado, Cristo ‘se entregou por ela, a fim de santificar pela palavra aquela que ele purifica’ (Ef 5,26), a associou a si por uma Aliança eterna e dela não cessa de cuidar como de seu próprio corpo” (n. 796).

Como Esposa preocupada e comprometida com o Esposo e com o que é Dele, zelando, a Igreja, apresentando os meios de salvação, deseja fazer desta uma nova terra, antegozo do sempre novo Céu (cf. Ap 21,1). E, desde os seus primórdios, encoraja-nos e exorta-nos, ao tempo em que reza pelos seus filhos, para que permaneçamos firmes na fé. Nesta firmeza confiante, a nossa esperança é constantemente renovada. Porém, não descuida de, na vivência do amor legado pelo Divino Esposo a si e aos seus filhos, ser identificada. Por isso, na noite da Sua despedida, após Judas ter deixado o caminho do amor, saindo da sua comunhão com Cristo, o Senhor dizer: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13,35).

A comunhão pelo amor: eis a identidade dos cristãos, do filhos da Esposa de Cristo. Não uma comunhão pontual em dados ou esporádicos momentos, mas numa solidariedade que toca a todos os que desejam ser como Jesus; todos os que desejam amar como Jesus. Neste sentido, trago mais um esclarecimento de Santo Agostinho: “Os membros desta esposa sentem uma solicitude mútua. Se um membro sofre, todos sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele. Pois ouvem e praticam a palavra do Senhor: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Não como se amam aqueles que vivem na corrupção da carne; nem como se amam os seres humanos apenas como seres humanos; mas como se amam aqueles que são deuses e filhos do Altíssimo” (Dos Tratados sobre o Evangelho de São João, 65,1-3).

Que seja, portanto, a Igreja – em nós e por nós – manifestação do Céu, do esponsalício com Cristo e do amor deste mesmo Senhor entre nós!