ARACAJU/SE, 23 de abril de 2024 , 10:24:43

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Inseridos na Trindade

Após Pentecostes, a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade, refletindo acerca da essência trinitária de Deus: uma Única e Suprema divindade em Três Pessoas, convidando-nos à contemplação de um “céu aberto”, depois de uma revelação paulatina, mas profunda, de cada uma das Pessoas Trinitárias, inserindo-nos, com o olhar da fé, no mistério de um Deus, Uno na substância e Trino nas Pessoas.

O Pai envia em missão o Filho e o Espírito com a finalidade de revelar ao mundo o seu inefável mistério. Mas, por que o Pai tem esta atitude? O Evangelho segundo São João é uma chave de resposta: “Deus tanto amou o mundo, que deu seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). É porque nos ama, é para que nos salvemos, que Deus Se revela. Porém, ao revelar a Sua glória Trinitária e Unidade onipotente, Deus nos vocaciona para o seio desta “Comunidade de Amor”, onde o Pai ama eternamente o Filho, o Amante Divino ao Eterno Amado (cf. Mt 3,17; 17,4; Mc 1,11; 9,7; Lc 9,35; Jo 5 20; Cl 1,13; 2Pd 1,17), ao tempo em que o Eterno Amado corresponde ao sentimento do Pai amando-O, fazendo inteiramente a Sua vontade. Deste inesgotável intercâmbio, eis o Espírito Santo, o Amor, promotor desta relação misteriosa, porque é divina. É ainda vontade do Pai que a criatura humana seja inserida pelo Filho nesta “Comunidade”, embora pelo que, por nós mesmos, não tenhamos nada a acrescentar nesta sublime relação intratrinitária. Somos filhos pelo Filho, como assevera São Paulo (cf. Rm 8,14-17). A salvação nada mais é do que este habitar eternamente no seio de Deus, Uno e Trino, porque aí se encontra a plenitude da vida.

Na economia das Pessoas Trinitárias, ou seja, nas Suas manifestações ao longo da História da Salvação, Deus se revela. E, na plenitude dos tempos, encarna-Se. Pela encarnação do Verbo Jesus Cristo no seio da Virgem Santíssima não somos mais prejudicados pela visão da glória da divindade, ao contrário do que exclamou Moisés: “Existe, porventura, algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando-lhe do meio do fogo, como tu ouviste, e tenha permanecido vivo?” (Dt 4,33). Muito pelo contrário: Ele Se abaixa à nossa condição, faz-Se um de nós: o que, na Teologia denominamos Kénosis. Somente assim, contemplamos o Seu rosto. Jesus é o rosto humano de Deus, como bem afirmou São João Paulo II. É pelo conjunto kenótico (Encarnação, Vida, Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão) de Jesus, Deus Encarnado, que o homem é divinizado. Logo, o ser humano passa a ver Deus, herda a Sua glória, coabitando na Trindade. Mais do que Moisés, que vê o Senhor apenas pelas costas (cf. Ex 33,23), pela vinda do Filho, vemos Deus por inteiro, e mais: tornamo-nos herdeiros Seus.

Que o Amor trinitário, o Espírito Divino, nos invada e nos conduza à comunhão perfeita e íntima com a Trindade Santíssima, para que, desde já, nesta terra de exílio rumo à Pátria Definitiva, nos irmanemos na comunidade cristã, imitando, com afinco, a doçura e harmonia das Pessoas Trinitárias.