ARACAJU/SE, 24 de abril de 2024 , 5:33:13

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Luz e conversão

Lendo os primeiros capítulos do Evangelho segundo São Mateus, logo após a infância e a vida oculta do Senhor, temos, inaugurado pelo batismo no Jordão, o início do ministério público de Jesus (cf. Mt 4,12-23).

Interessante é que Mateus, afirmando que o Cristo, deixando Nazaré – Sua cidade – e estabelecendo-Se em Cafarnaum, é identificado como luz. E, para tanto, o Evangelista faz memória do que o Profeta Isaías, séculos antes, afirma deste novo tempo em que Deus aparece como homem aos homens: “Terra de Zabulon e Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos pagãos! O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz, e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz” (Mt 4,15-16; cf. Is 8,23b-9,1).

Cafarnaum, cidade marítima e portuária do norte de Israel, era – já naquela época – a cidade mais importante da Galileia. E esta região – a Galileia – era a mais pobre e a que sofria mais preconceito no País. Realidades paradoxais: é bem verdade! Vejamos que a florescente Cafarnaum, por ser uma localidade portuária, era passagem de uma movimentada rota comercial. Ali, o Senhor pôde ter contato com muita gente. Cafarnaum era uma cidade estratégica para que muitos pudessem ter contato com a “luz do Evangelho”. Já a Galileia, encarada pelos judeus de maneira atravessada, por ser um tanto afastada da Judeia (centro do poder político e religioso de Israel), padecia mais facilmente a influência dos pagãos e dos samaritanos.

O Senhor, muito embora nascesse em Belém da Judeia, era conhecido como ‘Galileu’. Inclusive, tal ideia será imortalizada no escrito de Pilatos que encimou a Cruz Salvadora: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus” (Jo 19,19). Na cabeça de um judeu (muito embora conhecesse as Escrituras e, naturalmente, esta profecia de Isaías), seria inaceitável pensar que o Messias viria de uma região tão menosprezável.

Mas, por que a Galileia foi a escolhida por Jesus? Além da posição geograficamente estratégica de Cafarnaum, recordemo-nos do que o Senhor, ao ir à casa do publicano Mateus, naquela mesma cidade, dirá: “Não são os sadios que precisam de médicos; mas os doentes. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mc 2,17; Lc 5,31-32; cf. Mt 9,12). É por isso que o Senhor, nossa luz e salvação, proteção de nossa vida (cf. Sl 26,1a.1c), ao viver naquele meio tão conturbado, outra pregação não utiliza senão a da conversão, a da mudança de vida: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo!” (Mt 4,17).

Qual a sua natureza da conversão? Converter-se é deparar-se com a luz do próprio Deus, que é o Cristo, e deixar-se transformar totalmente por Ele, porque “Ele é a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, a todos ilumina” (Jo 1,9). Diante desta luz coruscante e transformadora, temos um novo horizonte de vida. Daí é que Jesus, ao olhar para Pedro e André, João e Tiago, inquiri-los, dizendo-lhes: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4,19). Converter-se é permitir-se a um novo sentido de viver, segundo a vontade de Deus. Não é à toa que conversão em grego é ‘metanóia’, no sentido de uma drástica mudança essencial de pensamento ou de caráter, avassaladora transformação. Converter-se é querer transparecer a luminosa vida de Cristo em nossa pobre existência, outrora obscura pelo pecado. Logo, converter-se é um desafio de constante de vencimento de si para alcançar a vida do Senhor, não se privando, inclusive, da cruz de Cristo e da sua força própria (cf. 1Cor 1,17).

A claridade de Cristo e a Sua proposta de vida iluminada em Si mesmo não ficaram adscritas apenas em Cafarnaum, porque imensa é graça que Deus quer nos presentear. Por isso, também lemos a informação do Evangelista: “Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo” (Mt 4,23). Sim, Jesus continua curando em todos os lugares do mundo, porque a Sua salvação é universal, como universal, Católica, é a Sua Igreja. Curando quem e de quê? Jesus veio para salvar o homem todo e todos os homens com a Sua luz, refratada pela vida e ações de Sua Igreja, continuadora desta mesma missão salvífica no mundo inaugurada pelo Senhor. Basta que nos abramos e que experimentemos o Seu fulgor.