Os dados que apresentarei neste artigo são da 7ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro da ANBIMA. De acordo com a entidade, a apuração do comportamento da população brasileira em relação aos seus investimentos é o principal objetivo da pesquisa que é realizada anualmente em parceria com o Datafolha.
Conseguir economizar e investir é muito desafiante para a maioria da população brasileira, não somente por questões culturais de preparação de administração de finanças pessoais, mas acima de tudo por conta das consequências de crises econômicas, pela alta do desemprego ou falta de melhores condições de salários, que foram influenciadas pela pandemia nos últimos anos, e agora neste ano de 2024, estamos vivenciando forma regional, as consequências das mudanças climáticas.
O estudo da ANBIMA e do Datafolha apontou um recuo no número de pessoas que conseguiram economizar em 2023. A realidade é que o estresse financeiro está fincado em muitos lares.
O estudo demonstra que uma em cada três pessoas (34% da população) teve gastos acima da sua renda nos seis meses que antecederam as entrevistas para a pesquisa (junho a novembro de 2023). Entre quem investe em produtos financeiros, o percentual é menor (23%), enquanto entre quem não investe é de 40%. Apenas dois em cada dez brasileiros (21%) gastaram menos do que a própria renda.
A pesquisa revela que a proporção de pessoas com gastos acima da renda é maior na classe D/E, com 50% de representatividade, seguida da C (32%). Em contrapartida, o maior percentual de pessoas que tiveram gastos inferiores à renda foi na classe A/B (32%).
Para fins conceituais relembramos que as classes sociais com base na faixa salarial das famílias brasileiras é a seguinte:
Classe A: mais de 15 intervalos mínimos;
Classe B: de 5 a 15 intervalos mínimos;
Classe C: de 3 a 5 intervalos mínimos;
Classe D: de 1 a 3 níveis mínimos;
Classe E: até 1 salário mínimo.
Uma notícia comemorada foi que aqueles que conseguiram poupar tiveram como principal destino o investimento. Ressaltando que conforme a pesquisa, o comportamento da população referente às aplicações segue o mesmo padrão dos últimos anos. O estudo revela que as pessoas ainda preferem produtos mais conservadores, como a caderneta de poupança, ou mesmo a compra de imóveis.
Um ponto importante do estudo foi a busca do entendimento do autocontrole financeiro da população brasileira, o resultado apontou que em mais da metade da população há um bom nível de autocontrole financeiro. O percentual se assemelha aos índices da Índia (59%) e do México (58%), países em que foram realizados estudos com o mesmo objetivo.
Os resultados geográficos para o Brasil, apontam que em todas as regiões a maioria das pessoas possuem autocontrole. No entanto, nas regiões Sul e Sudeste uma proporção significativamente maior tem autocontrole financeiro (62% e 61%, respectivamente). Já no Centro-Oeste e no Nordeste são maiores os índices de quem é imediatista (47%e 46%, nesta ordem).
A avaliação da pesquisa é importante para conhecermos como anda o brasileiro no quesito da sensação de aperto financeiro, que em muitas ocasiões gera excesso de trabalho para aumentar a renda e pagar as contas, além das preocupações com os gastos e em pedir dinheiro emprestado, a insônia devido à apreensão com a vida financeira, a incidência de brigas familiares e com amigos, entre outras situações relacionadas ao dinheiro. Este é um drama não invisível, presente em nossa sociedade.
A pesquisa apresenta conclusões que parecem óbvias, mas é importante destacarmos: o estresse financeiro tem incidência maior nas faixas mais baixas de renda. Ou seja, a renda em si é um fator determinante para essa condição. Entre as pessoas de rendas mais altas não é verificada padronização do comportamento relacionado ao estresse financeiro (para elas, outras variáveis, além da renda, influenciam no estresse financeiro).
O estudo aponta que na faixa mais baixa de renda (até R$ 1.320,00 – conforme a data base de 2023) percebe-se que quanto maior a idade é maior também o estresse financeiro que a pessoa experimenta. O mesmo ocorre para as faixas de renda até R$ 2.640,00 e até R$ 3.960,00: o estresse é maior nas faixas de idade mais altas. Um padrão geral observado é que quanto maior a renda menor o estresse em todas as idades.
Algo que merece ponto de atenção em minha opinião é o fato de que os aplicativos de apostas popularizados como bets, têm ganhado cada vez mais espaço no Brasil.
Segunda a pesquisa em 2023, cerca de 22 milhões de pessoas (14% da população) dizem ter feito pelo menos uma aposta do tipo. O índice supera os percentuais de utilização da maioria dos produtos de investimento. O uso de títulos privados, fundos de investimento, títulos públicos e planos de previdência, por exemplo, têm aderência de 5%, 4%, 2% e 2% dos brasileiros, respectivamente. Incrível que as pessoas que declararam ter apostado em 2023 indicaram as duas maiores motivações para o uso das bets: a chance de ganhar um dinheiro rápido em momento de necessidade (40%) e a possibilidade de ter um retorno alto (39%). Muitas também disseram usar as bets por diversão (26%), pela emoção de apostar (25%) ou pela oportunidade de apostar valores pequenos (20%).
A minha orientação como economista é de que as pessoas tenham muito cuidado e controle com a renda que possuem, direcionando-se para a sua efetiva capacidade e fazendo o que é efetivamente possível para tentar uma vida mais feliz!