ARACAJU/SE, 20 de abril de 2024 , 11:13:41

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O caminho de conversão

O caminho de conversão

 

Transparência. Pautar-se pela radicalidade de uma vida de fé, que comprometa todo o nosso ser, é um forte exercício para combater em nós a dissimulação da aparência de fazer a vontade de Deus, mas que, na realidade, não passa de uma incongruência, de uma falsidade, de uma hipocrisia.

No Evangelho segundo Mateus, vemos a triste constatação de Jesus, em prejuízo dos sacerdotes e anciãos do povo: “Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele” (Mt 21,31-32). Anteriormente a esta censura, falando aos maiorais dos judeus, também o Senhor já advertira a ação dos escribas e fariseus: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. É em vão que me honram” (Mt 15,8-9).

Em relação a esta dicotomia de vida, reprovável em todos, mas principalmente naqueles que cuidam das coisas de Deus, o Profeta Isaías, séculos antes, em nome do Senhor, recriminou na atitude do povo eleito, do povo de Israel: “Esse povo vem a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto seu coração está longe de mim e o temor que ele me testemunha é convencional e rotineiro, por isso continuarei a tratar esse povo de modo tão estranho que a sabedoria dos espertalhões se perderá e a inteligência dos astutos desaparecerá” (Is 29,13-14).

Tomando os escritos de São Paulo, percebemos que o Apóstolo das nações nos exorta a que tenhamos os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (cf. Fl 2,5). Porém, esta imitação é, necessariamente, precedida de outra súplica feita por Deus pela pena e pela pregação paulina: “Deixai-vos reconciliar com Deus!” (2Cor 5,20). O exercício de reconciliação com Deus também é válido para evitar todo e qualquer escândalo que, causado pelo mau-procedimento, pode comprometer a vida daqueles que, se espelhando em nosso testemunho, querem servir a Deus pela santidade. Por isso, ainda advertiu Jesus: “Vós fechais aos homens o Reino dos céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar. […] Ai de vós! Percorreis mares e terras para fazer um convertido e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos” (Mt 23,13.15). Portanto, não sejamos, com os nossos vícios, motivo de queda para ninguém, mas sinal sincero de fé em Cristo; fé radical, fé comprometedora com o Senhor.

Pela experiência da conversão, avançando no caminho da graça, obtemos a vida, aquela que realmente conta: a do Alto; a vida de Deus em nós. Logo, as palavras de Ezequiel, já no Antigo Testamento, prefiguram-se promessa para nós, que desejamos ascender nas virtudes para alcançarmos a vida imorredoura da eternidade plena: “Quando um ímpio se arrepende da maldade que praticou e observa o direito e a justiça, conserva a própria vida. Arrependendo-se de todos os seus pecados, com certeza viverá; não morrerá” (Ez 18, 27-28).

Damos, por iniciativa do próprio Jesus, que por nós derramou o Seu Sangue redentor, o grande passo: saindo da inimizade, passamos a ser reconciliados com Deus, de maneira tal, que nos aparentamos com Ele. Daí, é necessário estarmos sempre abertos ao plano de santificação de Deus em nossa vida, percebendo que somos instrumentos da Sua misericórdia.  Neste sentido, escrevendo aos Colossenses, disse São Paulo: “Há bem pouco tempo, sendo vós alheios a Deus e inimigos pelos vossos pensamentos e obras más, eis que agora ele vos reconciliou pela morte de seu corpo humano, para que vos possais apresentar santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai. Para isto, é necessário que permaneçais fundados e firmes na fé, inabaláveis na esperança do Evangelho que ouvistes” (Cl 1,21-23); ou o que disse aos Romanos: “Se, quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida. Ainda mais: nós nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem desde agora temos recebido a reconciliação!” (Rm 5,10-11).

Tantos nomes da vida da Igreja e do Evangelho fizeram esta experiência de arrependimento e conversão, de reconciliação com o próprio Deus: Mateus, a Samaritana, a Adúltera, Zaqueu, Paulo com as suas confissões… Também nós estejamos nesta lista, sabendo que a união plena com Deus gera em nós a paz, a felicidade, a única e insuperável realização de vida. Não maquiemos a nossa vida de fé; antes, sejamos sinceros, transparentes conosco mesmos e com Deus através de uma consciência reta, iluminada pela luz do Seu Espírito Santo.