ARACAJU/SE, 2 de dezembro de 2024 , 5:34:24

logoajn1

O Pagamento de uma promessa e as (duras) lições aprendidas – parte 3

Caros leitores, mais uma vez agradeço às inúmeras manifestações de apoio, conselhos, sugestões e críticas que recebi após a publicação da segunda coluna no sábado 14/5, no jornal Correio de Sergipe e no Portal Ajn1.
Retomando a história, e ajudado pelo diário que Roberta escreveu, no terceiro dia da peregrinação pelo caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, saímos de Sárria e fomos a Portomarín, a 22 km de distância.
Novamente paisagens lindas, montanhas, campos floridos de um amarelo cor de Sol que nunca vi, e com cercas vivas de árvores frondosas e altas separando as plantações e as diferentes propriedades. Não deparamos com nenhuma cerca de arame farpado; apenas cercas vivas ou de pedras medievais que lembravam os filmes de Rei Arthur.
Continuei com o mesmo erro que machucou meu joelho, usando botas inadequadas para longas distâncias e com a mochila pesada demais. Porém, já usando os cajados, e mancando.
Lá pela metade do trajeto, aproximou-se de nós um casal de Portugal e puxou conversa. E então o homem, um professor universitário, me disse, sem que eu perguntasse: “Você precisa trocar essa botas por um tênis e esvaziar essa mochila”.
Ele nos contou que já havia feito várias vezes o caminho de Santiago, em suas muitas opções (tem o caminho português, o espanhol, o francês e outros) e falava com autoridade.
Entretanto, apegado às minhas botas, troquei-as por um tênis (sim, eu levava um na mochila), e amarrei-as nas minhas costas, porque não cabiam na mochila. A partir daí, a cada passo, o balançar das botas me machucava e irritava. Até que, ao passar por uma loja, larguei-as na frente, na rua mesmo, e segui adiante.
Cheguei à cidade de Portomarín em um estado deprimente: Lábios rachados, sangrando, olhos vermelhos e com olheiras profundas, torrado pelo sol, mancando, prestes a sentar e não conseguir levantar.
A cidade era linda, subindo por uma montanha, com um rio embaixo e com uma floresta em frente, e os habitantes falaram conosco em galego, língua muita parecida com o português, porque a Galícia, no passado, já fez parte do então reino de Portugal e ambos foram partes da mesma província romana, a Galécia.
O primeiro hotel a que chegamos estava lotado. O recepcionista telefonou para outros hotéis e pousadas e não encontrou nenhum quarto disponível. E então, em uma atitude de empatia que tantas vezes encontramos no caminho, ele ficou tão tocado pelo meu estado (Roberta estava melhor) que nos pôs no carro dele, sem cobrar nada, e saiu pela cidade conosco até descobrir uma pousada para nós, a Pensión Arenas, em frente à praça central da cidade.
Ao deitar, relembrando os fatos do dia, percebi a terceira lição do caminho: “Ouvir a Deus através das pessoas – ouvir a todos e meditar”.
Como não entendi a lição no primeiro dia (calçados errados e mochila pesada demais), o Espírito Santo (assim eu creio firmemente) me enviou um homem para dizer claramente. Exatamente como está escrito no livro de SALMOS 32:8, “Vou ensinar-te e mostrar-te o caminho que deves seguir; guiar-te-ei sem te perder de vista”.
Quantos bons conselhos ouvimos e não damos importância? Muitas vezes, é o próprio Deus nos falando; outras não. Por isso, devemos meditar e, com a sabedoria que também vem DELE, decidir quais seguir.
Então me levantei e cumpri o segundo conselho do português: tirei da mochila tudo que não era totalmente essencial, pronto para o quarto dia, para Palas Del Rei, a 25 km de distância.
Curiosidade 1: Como eu disse na coluna anterior, Roberta também recebeu suas lições. Uma delas: por várias vezes, no caminho, ela rezou pedindo alguma coisa e quase imediatamente a resposta veio. E no diário dela consta que o português que me aconselhou foi uma resposta às orações dela que já não aguentava mais a minha teimosia.
Curiosidade 2: Vocês podem estranhar o fato de não termos reservado hotéis em cada cidade. A maioria dos peregrinos faz isso, porque não sabe o tempo que levará para cumprir o caminho, se não terá que parar para se recuperar de algum machucado. Aliás, nunca vi tantas clínicas de fisioterapia; eram dezenas, logo nas entradas das cidades, uma prova que muita gente se machuca.
No quarto dia, tema da próxima coluna, eu e Roberta assistimos a uma demonstração de persistência inesquecível. Mas isso vocês só vão saber daqui a duas semanas…
Até lá!