Não raramente, nas páginas dos evangelhos, vemos uma cena belíssima: o Cristo mergulhado em oração ao Pai. Assim, vislumbramos a Trindade Santíssima: o Filho que Se dirige ao Pai; o Pai que responde ao Filho; e todo este movimento de amor é promovido pelo Espírito Santo, que une o Pai e o Filho.
“Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou aos seus discípulos” (Lc 11,1): eis o pedido que um dos discípulos faz a Jesus. E Jesus, que havia acabado de orar, como Deus, sempre nos concede muito mais do que o que pedimos, do que ousamos esperar, não nos ensina a rezar como o Batista ensinou aos seus seguidores, mas nos instrui a que nos dirijamos a Deus como Ele mesmo, chamando-O “Pai”.
João, por mais que fosse o maior dentre os nascidos de mulher (cf. Lc 7,28), por mais que fosse um profeta privilegiado, por mais que tivesse sido o Precursor do Salvador, não possuía a dita de chamar Deus com tamanha intimidade filial, tampouco de ensinar tal vocativo; Jesus, sim. E, na Sua autoridade de Filho, faz isso ao ensinar-nos o Pai-Nosso. Não formando-nos a dizê-lo por nós mesmos, segundo as nossas próprias forças ou conforme o intelecto humano, mas movidos pelo Espírito Santo, que, além de rezar em nós como convém (cf. Rm 8,26), nos insere na intimidade filial para com Deus, porque, redimidos pelo Cristo, somos filhos pelo Filho; “E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm 8,17).
Em relação ao Espírito Santo e à oração, o Catecismo da Igreja Católica afirma: “O Espírito Santo, que assim recorda Cristo à sua Igreja orante, também a conduz para a verdade integral e suscita formulações novas que exprimirão o insondável mistério de Cristo operante na vida, sacramentos e missão da Igreja” (n. 2625). A oração sendo ação do Espírito Santo em nós, faz com que, emprestando o nosso ser à Igreja, com ela e em seu favor, elevemos as nossas preces ao Altíssimo, inspirando-nos as diversas formas de oração como normativas à espiritualidade cristã.
De maneira catequética, apresento-lhe, caro leitor, as formas de dirigir-nos a Deus, “conectando-nos” com Ele. Para tanto, continuo a me valer do Catecismo da Igreja Católica.
Em referência à oração de bênção e adoração, o Catecismo – em seu Compêndio – apresenta-nos que “a bênção é a resposta do homem aos dons de Deus: nós bendizemos o Onipotente que primeiramente nos abençoa e enche dos seus dons” (n. 551; cf. CIC, n. 2626), enquanto a adoração “é a prostração do homem que se reconhece criatura diante do seu Criador três vezes santo” (n. 552; cf. CIC 2628). Em todas as celebrações eucarísticas, a Igreja realiza a oração de bênção, de maneira mais estreita na Apresentação dos dons, no que chamamos ofertório. Em relação ao pão e ao vinho: “Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão [pelo vinho] que recebemos de vossa bondade…”. E a adoração, quando, diante do grande mistério eucarístico, reconhecendo o Senhor sob o véu do Santíssimo Sacramento, curvamos os nossos joelhos e, absortos, O adoramos com o nosso silêncio e com nosso “Amém!”. Ou mesmo com aquele que é o primeiro pedido da Oração Dominical (do Pai-Nosso): “Santificado seja o teu nome” (Lc 11,2).
Falo-lhe, agora, sobre a oração de petição, que pode consistir num “pedido de perdão ou mesmo uma súplica humilde e confiante em relação a todas as nossas necessidades espirituais ou materiais. Mas a primeira realidade a desejar é a vinda do Reino” (Compêndio, n. 553; cf. CIC, nn. 2629-2633; 2646), tal como nos inspira o Pai-Nosso no seu segundo pedido (cf. Lc 11,2); ou ainda quando dizemos: “Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação” (Lc 11,3-4).
Temos o terceiro tipo de oração: a de intercessão, que é o “pedir em favor de outro. Ela conforma-nos e une-nos à oração de Jesus que intercede junto do Pai por todos os homens, em especial pelos pecadores. A intercessão deve estender-se também aos inimigos” (Compêndio, n. 554; cf. CIC, nn. 2634-2636; 2647). Clarividente está, por exemplo, esta forma de rezar quando, na Sagrada Escritura, Abraão, insistentemente, faz uma intercessão propiciatória, apelando às misericórdia e justiça divinas em nome dos poucos justos que, porventura, haveriam em Sodoma e Gomorra (cf. Gn 18,20-32). Também faço recordar as intercessões das orações eucarísticas pela Igreja, pelos vivos e defuntos.
A oração de ação de graças é, como afirma o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, o agradecimento incessante a Deus, de maneira que “todos os acontecimentos se convertem para o cristão em motivo de ação de graças” (n. 555; cf. CIC, nn. 2637-2638; 2648). O termo grego “eucaristia” designa justamente isso; pois, é nesta oração máxima da Igreja de Cristo, em que celebramos o Mistério Pascal do Senhor, que isto se realiza. Diga-se de passagem, é no Santo Sacrifício da Missa que vemos Cristo que faz a Igreja participar na Sua ação de graças ao Pai (Ibidem).
Por fim, teçamos brevemente sobre o louvor como tipo de oração cristã. “O louvor é a forma de oração que mais imediatamente reconhece que Deus é Deus. É completamente desinteressada: canta Deus por Ele ser quem é e glorifica-O porque Ele é” (Compêndio, n. 556; CIC, nn. 2639-2643; 2649). O louvor é integrante das outras formas de oração, estando contida nelas. Como exemplificação, apresento-lhes o que está contido na Oração Eucarística IV: “[…] só vós sois o Deus verdadeiro que existis antes de todo o tempo e permaneceis para sempre, habitando em luz inacessível. Mas, porque sois o Deus de bondade e a fonte da vida, fizestes todas as coisas para cobrir de bênçãos as vossas criaturas e a muitos alegrar com a vossa luz”.
Toda Missa “contém e exprime todas as formas de oração: é ‘a oblação pura’ de todo o corpo de Cristo ‘para glória do seu nome’; é, segundo as tradições do Oriente e do Ocidente, ´o sacrifício de louvor’ (CIC n. 2643). Logo, somente a Missa possui quatro finalidades: a latrêutica (de adoração), eucarística (de ação de graças); propiciatória (de perdão dos pecados) e a impetratória (de petição). E, tudo isto, porque Deus sabe dar coisas boas aos filhos, por isso dá-nos o Espírito Santo, grande artífice de nossa oração (cf. Lc 11,13) e daquela mais sublime: o Sacrifício de Cristo.
Imploremos, pois, ao Espírito Santo que sempre nos mova a Deus, que sempre escuta o nosso grito, a nossa voz, para que a nossa oração nos modele e, conscientes da nossa redenção, nos conforme cada vez mais a Cristo.