ARACAJU/SE, 19 de abril de 2024 , 19:51:40

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Para estar no Reino

Na continuidade da reflexão iniciada na semana passada, caro leitor, acerca do capítulo treze do Evangelho de São Mateus, desejo refletir consigo o último trecho do “sermão das parábolas do Reino” (cf. Mt 13,44-52), apoiando-nos nas quatro imagens distintas utilizadas por Jesus, comparativas de como ansiar o Reino.

Ao tratar o Reino como um tesouro e como as pérolas (cf. Mt 13,44-46), percebemos que Jesus faz uma analogia entre a realidade do Reino e algo valioso, que apetece os olhos. No mesmo Evangelho de Mateus, no Sermão da Montanha, temos Jesus que afirma: “Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração” (Mt 6,21). Logo, ao fazer esta afirmação, induzimos que o Senhor alude que, quando temos como tesouro o Reino dos Céus, nosso coração estará nele. Prova disto temos: “Ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” (Mt 13,44). Assim, para conseguirmos os tesouros do Reino, que já podem ser encontrados no hoje da Igreja, precisamos nos desfazer de muita coisa que ocupa a nossa disponibilidade para aceitar o Reino com toda a sua inteireza; devemos optar pelo caminho da renúncia, do “vender tudo”, inclusive as pseudo-seguranças que possuímos. Trocando em miúdos: a figura do homem somos nós; o tesouro e as pérolas são o Reino e tudo o que ele embute; o campo é o mundo. O tesouro e as pérolas já estão no mundo, basta procurarmo-las. E, quando as encontrarmos, tenhamos a coragem de nos privar de todos os outros bens para conseguirmos aquelas preciosidades. Quem age desta forma não perde, mas lucra imensamente.

Em um terceiro momento, Jesus afirma que “o Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo o tipo” (Mt 13, 47). Ora, todos são chamados à participação do Reino do Senhor, tal como uma rede varredeira que, em si, não seleciona os peixes que os pescadores querem fisgar. Ao tirar a rede (o Reino) do mar (o mundo), os pescadores (os anjos), na orla do mar (o fim dos tempos), separarão os peixes bons (as pessoas justas, que esmeradamente buscam o Reino) colocando-os em cestos (a consumação do Reino, o Céu) e jogarão (mandar para o inferno) os que não servirão (as pessoas que se comprazem em praticar o mal, não procurando, com toda a sua possibilidade, o Reino). Estamos nesta rede, fomos convidados para a realidade do Reino, do “já” e do “ainda não”, pois o Reino de Deus é a Igreja! Neste sentido, afirma São Gregório Magno: “Se compara a Igreja Santa a uma rede porque tem sido entregue a uns pescadores, e todos mediante ela são arrastados as orlas da vida presente ao reino eterno, a fim de que pereçam submergidos no abismo da morte eterna. Esta Igreja reúne toda classe de peixes, porque chama para perdoá-los a todos os homens, aos sábios e aos insensatos, aos livres e aos escravos, aos ricos e aos pobres, aos fortes e aos débeis. Estará completamente cheia a rede, isto é, a Igreja quando ao fim dos tempos estiver terminado o destino do gênero humano. Por isso segue: ‘A qual quando está cheia’, etc., porque assim como o mar representa o mundo, assim também a beira do mar figura o fim do mundo, e é neste momento quando são escolhidos e guardados em cestos os bons, e os maus são lançados fora. Quer dizer, os eleitos serão recebidos nos tabernáculos eternos, e os maus, depois de terem perdido a luz que iluminava o interior do reino, serão levados às trevas exteriores” (Homiliae in Evangelia, 11,4).

Por fim, Jesus questiona: “Compreendestes tudo isso?” (Mt 13,51). Ao fazer tal indagação, ele acena que as parábolas, traduções figurativas daquilo que é o Reino dos Céus, devem ser entendidas. Para compreendê-las, bem como para vivê-las, faz-se imprescindível a sabedoria, não a insana proveniente do mundo e das suas maquinações, mas uma pura sabedoria. A revelação dos mistérios do Reino aos pequeninos é a manifestação de que a sabedoria é importantíssima para a compreensão do Reino, inclusive, para a busca incondicional deste em nossas vidas.

Os discípulos são obrigados a entender porque ensinarão estes mistérios com palavras corajosas (parresia) e, acima de tudo, com o seu testemunho (martyria). E o Senhor, a Sabedoria eterna, continua: “Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52). Ser seguidor do Senhor é assumir esta atitude de, a partir de um encontro com Ele, fazer uma acurada seleção do que é proveitoso para a participação do Reino e consequente salvação, daquilo que é quinquilharia, obstáculo para o Verdadeiro Bem: Deus.

Com os sentimentos de pertença ao Reino, desde já, busquemos constantemente alcançá-lo. Tenazmente, desfaçamo-nos de tudo o que nos impede de ascender ao Reino, que não exclui, mas congrega os eleitos, os que foram salvos pelo sangue de Jesus e, a partir disto, se esforçam para viver como filhos da luz (cf. 1Ts 5,5), neste mundo que, não raras vezes, é de trevas.