ARACAJU/SE, 23 de abril de 2024 , 23:33:45

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Pelas almas do purgatório

Se, no dia 01 de novembro, celebra-se os Santos e a Igreja triunfante, no dia 02, comemoramos os fiéis defuntos e a Igreja padecente, o purgatório. Se se fala da importância da devoção aos Santos, falemos, nesta ocasião, da devoção que devemos ter às almas do purgatório, que consiste em recomendá-las a Deus para que lhes alivie as grandes penas que padecem e as chame em breve para a Sua glória.

Tal devota aplicação de rezar pelas almas do purgatório é muito agradável ao Senhor e utilíssima àquele que a pratica, tal como nos inspira a Sagrada Escritura, com o exemplo de Judas Macabeu, ainda no Antigo Testamento (cf. 2Mc 12,43-46). Por quê?  Porque assim como nos ama, o Senhor Jesus Cristo, imensamente, ama tais filhas que purgam; e o Seu poder redentor quer chegar a todos os que passam pelo estágio de purificação, para que, límpidas, alcançando a misericórdia divina, tais almas cumpram toda a justiça que as penas dos seus pecados exigiram, antes de serem admitidas ao convívio dos santos de Deus, diante de Quem nada deve estar impuro ou contaminado (cf. Ap 21,27).

Jesus anseia, profundamente, por essas almas, suspirando pelo momento em que as poderá apertar contra o Seu peito, num abraço eterno de ternura, coroando-as rainhas do Seu Reino bem-aventurado essas suas amantes. Isto ainda compõe o belíssimo artigo de Fé Católica, que nos faz professar: “Creio na comunhão dos santos”; quer dizer uma comunicação mútua de bens entre nós, que estamos na Igreja militante, peregrina, e as Igrejas que estão no triunfo da glória indizível e na purificação do amor de Deus. Somos uma só e mesma Igreja, a Católica, em três dimensões que se comunicam e trocam dons e favores. Somos chamados ao preceito de praticarmos o bem para com todos os defuntos, tal como o livro do Eclesiástico nos orienta: “Dá de boa vontade a todos os vivos, não recuses esse benefício aos mortos” (7,37).

Esta obra de misericórdia espiritual não ficará sem a devida recompensa ao que a praticar, pois as santas almas do purgatório serão gratas àquele que lhes obtém o livramento daquele cárcere ou ao menos algum alívio das penas, e nunca mais se esquecerão daquele que por elas intercedeu. Com piedade, creiamos que Deus lh’as revele as nossas orações, porque, também elas, rogam por nós. Sim, as almas do purgatório não podem rezar em benefício próprio, porque se acham condenadas naquele lugar de purificação, satisfazendo as penas das culpas dos pecados que cometeram. Mas, porque, mesmo condenadas, são muito amadas por Deus, podem orar por nós e obter-nos muitas graças.

Dentre os santos que tiveram devoção às almas do purgatório, destacamos Santa Catarina de Bolonha (séc. XV), que lhes recorria para obtenção de alguma graça que desejava; ao que logo se via atendida. Catarina chegou até a afirmar que através das almas do purgatório alcançou diversas graças que não tinha alcançado pela intercessão dos santos canonizados. Na história da Igreja, muitas são as declarações de obtenção de graças através de tão nobre amizade às almas que estão na Igreja padecente.

Pensemos bem: se as almas do purgatório já se mostram agradecidas aos seus devotos, mesmo quando elas estão penando naquele cárcere, serão muito mais gratas depois de admitidas ao Céu; assinalarão para os seus benfeitores favores igualmente grandes e, especialmente, a salvação eterna. Tenhamos por certo de que uma alma, livre do purgatório pelos sufrágios de algum fiel devoto que lh’as socorreu, uma vez entrando no Céu, não deixará de dizer a Deus: “Senhor, não permitais que se perca aquele que me livrou do cárcere do purgatório e me fez entrar mais depressa na alegria do vosso Reino!”. Sim, rezar pelas almas do purgatório é um sério ato de amor e de intercâmbio, de troca de favores.

Avivemos, pois, a nossa devoção para com estas prisioneiras, sobretudo durante este mês em que a Igreja celebra a sua comemoração. Apliquemos, em favor delas, a nossa oração e boas obras, inclusive neste período, estendido a 30 dias por causa da pandemia, em que a nossa Mãe-Igreja, a Imaculada Esposa do Senhor, abre o seu cofre de indulgências em favor dos defuntos, para que consigamos para eles o perdão das penas do purgatório. Inspirados no que diz São Jerônimo – “cada Missa devotamente celebrada faz sair várias almas do purgatório”; e ainda: “As almas que penam no purgatório, pelas quais o sacerdote ora durante a celebração da Missa, não sentem as penas enquanto durar a celebração” -, neste mês de novembro ao menos, ouçamos por elas, o mais possível, a Santa Missa, e se as nossas condições permitirem, mandemos celebrar alguma Eucaristia em sufrágio dessas nossas queridas irmãs sofredoras: é o que lhes podemos oferecer de melhor e mais sublime, pois as associamos ao Sacrifício do Redentor, ao Seu mistério pascal.