ARACAJU/SE, 20 de abril de 2024 , 9:48:36

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Sobre O Carvalho, por outro Carvalho

Se pela asa que deixa cair, se mede o tamanho da águia, na frase de Tobias Barreto, acrescento eu, pelo texto que produz se conhece o seu autor. É o caso de Jorge Carvalho, ah, sim, Jorge Carvalho do Nascimento, quando, pela vez primeira, abre as portas de sua vida para contar episódios vividos, desde os verdes anos, na casa de vovó Petrina até um curso na Alemanha. Escalando O Carvalho, em sua inteireza, a conclusão a que se chega é de ser o autor um homem plenamente feliz, papo agradável, o riso aflorando a boca. Nada igual ao homem feliz que escreve.

Não há amargura em nenhuma de suas páginas. A vida na casa da avó Petrina só lhe deixou boas recordações, que expõe, da galinha sacrificada para o almoço, do cordão que colocava nas roupas que a avó costurava, do entusiasmo de ter uma geladeira em casa, de ir a uma sessão do Cine Palace, etc. e etc., tudo é alegria. Se alguma tristeza viveu, jogou no aparelho sanitário e a água levou-a para onde o olho humano não penetra. Daí, além de homem feliz, também um escritor de mão cheia, aterrissando em aeroportos de diversos matizes. Exemplo do autêntico polivalente.

Dos vinte e quatro textos que formam O Carvalho, a maioria imensa enfoca episódios perpassados na trajetória de sua vida, sempre marcados por uma conclusão chistosa. Essa, a meu ver, a melhor parte do livro, e a que mais se encaixa no título dado, e, a propósito, ora, ora, O Carvalho é ele próprio, o homem e o autor. O mais, variou entre três narrativas, entre o conto e a história, – não contei mais nenhum – e alguns causos políticos [o termo é esse, causos, no plural, nascido em Itabaiana, matéria para outra conversa], inspirado em histórias colhidas no mar da política provinciana, nos quais duas figuras em especial tomam conta: Antonio Tavares, o Totonho [eu o conhecia pelo sobrenome Tavares], em todos eles, e, em um deles, Cosme Fonseca de Oliveira, meu conterrâneo.

Aí começa a parte d´O Carvalho que não consegui harmonizar com o título do livro. De um lado, contos/histórias, que reclamam mais embocadura do autor no ramo para não confundir simples sopro num trombone com o que se intitula de música, e, de outro, os causos,  não carregando os dois a seiva d´O Carvalho nas veias, nem se relacionam com a história de vida do seu autor. Entretanto, no que diz respeito aos últimos, ao lado de  tantos  outros causos tão freqüentes na vida política sergipana, mereciam uma publicação autônoma, com o cuidado para não incidir em equívoco histórico: Pedro Dias Gonçalves não foi Secretário da Fazenda no governo de Seixas Dorea. Faleceu muito antes. Foi secretario, sim, do governo de Leandro Maciel.

Outro ponto que não gostei  – o que não significa que a minha opinião carregue a força de lei, afinal cada um faz da manga o que lhe apraz, uns cortando-a, outros fazendo um buraco para absorvê-la como se fosse um suco,  – é o excesso de manifestação acerca do livro e do autor. Ao todo, cinco, entre a orelha, a apresentação, o prefácio, um texto outro depois do prefácio, e, por fim, o posfácio, sem se falar na nota introdutória do próprio autor. Uma fatura desnecessária. Eu deixaria só a orelha e a nota introdutória. O mais, excluiria, independentemente do bom conteúdo de todos eles.

No conjunto, vale a pena ler O Carvalho, na certeza de a tez do autor ser mera casca, valendo o miolo, e, nesse, Jorge Carvalho, eita, Jorge Carvalho do Nascimento, mostra a sua essência numa vida de muitas lutas e de gratificantes vitórias. Aguardemos outros voos na mesma área, desta vez, quiçá, com o título O Nascimento.