Após quarenta dias de Sua gloriosa Ressurreição, o Senhor Jesus Cristo, manifestando a Sua vitória, visível e familiarmente, instruindo os Seus discípulos acerca do Reino e do Paráclito, permaneceu no mundo sob os traços de uma humanidade comum, até o momento em que, pela última vez, aparece para entrar, irreversivelmente, em Sua glória sempiterna, levando Consigo a nossa humanidade, sentando-Se à direita de Deus (cf. Mc 16,19; At 2,33; 7.56; Sl 110,1). Por isso, a ascensão de Cristo já é nossa vitória; e, da Sua glória, na esperança, respondemos à participação da Sua glória.
Estar à direita de Deus: eis o que, costumeiramente, amparados pela Sagrada Escritura e pela fé da Igreja, professamos acerca do Cristo que subiu. São João Damasceno, na Exposição da Fé, auxiliar-nos-á sobre o que isto significa: “Por direita do Pai entendemos a glória e a honra da divindade, onde aquele que existia como Filho de Deus, antes de todos os séculos, como Deus e consubstancial ao Pai, sentou corporalmente, depois de encarnar-se e de sua carne ser glorificada” (De fide Orthodoxa 4,2). Isto de que o Cristo, que subiu com o Seu próprio poder para a Sua glória de sempre e para sempre, traz-nos a mensagem de que, poderoso, tem tudo em Suas mãos. Com tal pensamento, o Cardeal Robert Sarah escreveu: “A Ascensão de Cristo significa que Ele não pertence mais ao mundo de corrupção e morte que condiciona nossa vida. Significa que Ele pertence totalmente a Deus”.
Observemos também a narrativa que São Lucas, nos Atos dos Apóstolos, faz da subida do Senhor, e o breve diálogo entre os discípulos e Aquele que estava para apartar-Se dos Seus: “Senhor, é agora que vais restaurar o Reino em Israel?” (At 1,6); ao que lhes responde: “Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade” (At 1,7). O que significam tais palavras? Por que Jesus lhes dá tal resposta? Muito embora o Senhor ascenda, o Reino não está consumado; não chegou à sua finalidade. O Senhor, que, na Sua Ascensão, levou Consigo a nossa natureza humana, deixou-nos em nossa companhia o Seu Espírito a partir de Pentecostes – muito embora O tenha prometido solenemente quando de Sua subida (cf. At 1,8; Lc 24,49) -, para contribuirmos com Ele no labor do Reino.
O Catecismo da Igreja Católica esclarece-nos que “‘Sentar-se à direita do Pai’ significa a inauguração do reino do Messias” (n. 664), e que, “a partir desse momento, os Apóstolos se tornaram testemunhas do ‘Reino que não terá fim'” (Ibidem). Logo, o Senhor sobe para que, fortalecidos com Espírito Santo que nos será derramado, executemos a nossa missão cristã de pôr tudo sob os Seus pés, colaborando com a obra do Pai. Isso nos faz entender que o Pai “manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda a autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa mencionar não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal” (Ef 1,20-23).
O Senhor subiu à direita do Pai para, como Pontífice da nossa fé, exercer a plenitude do Seu Sacerdócio, único e universal, ligando-nos a Deus; Ele, o Sacerdote da Nova e Eterna Aliança. E, em mais uma vez, o Catecismo da Igreja Católica nos ensinar: “No céu, Cristo exerce, em caráter permanente, seu sacerdócio, ‘por isso, ele tem poder ilimitado para salvar aqueles que, por seu intermédio, se aproximam de Deus, já que está sempre vivo para interceder por eles’ (Hb 7,25). Como ‘sumo sacerdote dos bens futuros’ (Hb 9,11), ele é o centro, é o ator principal da liturgia que honra o Pai nos céus (cf. Ap 4,6-11)” (n. 662).
Com trombetas e aclamações o Senhor subiu (cf. Sl 46,6). Aquele que Se abaixou no silêncio da encarnação humana, festivamente nos conduz à Sua divindade. Adoremo-lo! Não fiquemos, boquiabertos, esperando Ele voltar! Antes, descruzemos os braços do nosso comodismo, arregacemos as mangas da nossa coragem, e O testemunhemos na tenacidade do Espírito Santo que nos concederá em Pentecostes, submetendo ao poder Daquele que Se assentou à destra do Todo-poderoso os nossos corações e, a partir deles, tudo quanto existe, porque o Cristo triunfou.
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru)