ARACAJU/SE, 5 de maio de 2024 , 19:34:00

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Entenda como começaram os embates entre Prigozhin e Putin

 

Chame de motim, marcha patriótica, facada nas costas ou traição, mas os embates entre Yevgeny Prigozhin e o presidente Vladimir Putin começaram a se desenhar há oito meses, quando o chefe do grupo de mercenários Wagner expressou publicamente o descontentamento em relação às diretrizes do Ministério da Defesa.

“Todos esses canalhas do Exército russo deveriam ser enviados para a linha de frente com armas e pés descalços”, manifestou-se Prigozhin, em outubro passado, numa crítica aberta ao ministro Sergei Shoigu pela retirada das forças russas dos territórios ocupados.

Desde então, Prigozhin fez circular a frustração crescente em relação à morosidade das forças russas em Bakhmut e Soledar, à burocracia militar e à falta de munições para o seu exército de renegados.

No mês passado, cercado de corpos de soldados mortos, o chefe do grupo paramilitar ameaçou retirar-se de Bakhmut, alegando estar sem armas e suprimentos. Foi acusado de traição pelo ministro Shoigu, a quem renovou suas críticas por planejar mal a invasão e embaraçar os militares russos.

O impasse aparentemente se converteu em ruptura nesta sexta-feira (23), quando Prigozhin fez duros ataques à liderança militar russa, por estar “atolada em corrupção, mentiras e burocracia”.

Anunciou também ter tomado o controle de Rostov, o centro de comando crucial para a guerra que o Kremlin empreende há 16 meses na Ucrânia, e prometeu marchar em direção a Moscou.

Agora alvo direto do chefe do grupo paramilitar, Putin reagiu, horas mais tarde, descrevendo as forças mercenárias como traidoras e convocando os soldados a abandonarem seu comandante. “Somos patriotas de nossa pátria”, reagiu Prigozhin.

Prigozhin acabou recuando, após um acordo com Moscou intermediado pelo governo de Belarus. O líder dos mercenários desistiu do avanço sobre a capital russa e retirou suas tropas de Rostov.

Ainda que fracasse em seus objetivos, Prigozhin já promoveu estragos: expôs a dura realidade da frente militar russa, que Putin tentou ocultar da população.

Um dos rostos mais proeminentes da guerra e muito longe de ser um pacifista, o chefe do Wagner se dirigiu diretamente aos russos, assegurando que o número de mortos é de três a quatro vezes maiores do que o relatado pelo Kremlin, assim como as perdas de território.

Como especificou o historiador britânico Lawrence Freedman, do Instituto de Guerra do King’s College, Prigozhin tem reconhecimento entre a população, além de comandar 25 mil homens no palco da guerra.

No seu entender, ele não articula um golpe contra Putin, mas quer remover Shoigu do cargo e mudar as estratégias da guerra. “De qualquer forma, após o discurso de Putin, Prigozhin está em confronto direto com o presidente russo. Um deles será perdedor”, analisa.

Nesse embate, não há inocentes, mas duas poderosas máquinas de propaganda em ação.

“As principais fontes de informação são um Exército que mente sobre tudo; um senhor da guerra dono de uma infame fábrica de trolls e que mentiu sobre ela por anos; e o Kremlin. E a Rússia destruiu a mídia; então, não há boas fontes independentes”, resumiu o jornalista Max Seddon, chefe do escritório do jornal “Financial Times” em Moscou.

Fonte: G1

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