ARACAJU/SE, 27 de abril de 2024 , 1:05:54

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A porta do Evangelho

O Papa São Paulo VI, na sua Encíclica Evangelii Nuntiandi, diz-nos que “a Igreja existe para evangelizar” (n. 14). Mas, o que é  evangelização?

Evangelizar é a responsável atitude legada por Jesus à Sua Igreja para anunciar a Boa-Nova de Sua Pessoa, e, com base neste anúncio, denunciar, provocando a conversão dos corações dos que recebem o Evangelho, na transformação de vidas, modelando-as à aparência do Coração mesmo de Jesus.

Subindo ao Céus, o Senhor ordena aos Apóstolos: “Proclamai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 15,16). Esta proclamação, muito mais do que a de uma palavra dura e sem vida, embute em si a propagação do amor sempiterno e fiel de Deus. A Igreja anuncia este amor para que, oportuna ou inoportumente, nas diversas situações da sua história, o homem, redimido e convertido, cante louvores ao seu Deus; Ele, que nos elege em Seu amor, deseja-nos para Si.

Diante da pergunta que fizeram a Jesus: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23), não temos uma resposta direta, porque, quando de Sua Cruz, o Cristo veio para salvar a todos, pois todos estávamos perdidos. E aquilo que São Paulo nos elucida acerca do desejo de Deus, de Sua ‘sede’ de almas, procede diante desta deixa de Jesus no Evangelho. E diz São Paulo: “Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm2,4). A verdade é critério de salvação, porque isto nos garantiu Jesus, que, no Evangelho de São João, identifica-Se como verdade: “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém chega ao Pai senão por mim” (Jo 14,6); ou seja: ninguém se salva se não opta por Deus e vive, radicalmente, de acordo com esta opção. Daí, é que o Senhor Se utiliza da imagem da porta estreita para falar desta radicalidade: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13,24).

Quem são os que, em vão, tentam entrar pela porta acanhada? São os que ouvem, descomprometidamente, o Evangelho, mas não se esmeram em pautar as suas vidas por aquilo que escutaram para a sua libertação; são os que perdem a oportunidade de agir de acordo com aquilo que a Palavra de Deus os alcançou; são os que acham que conhecem Deus, mas O traem por descumprir o que é vontade divina. Serão estes que, no final de suas trajetórias por este mundo de passagem, dirão, em vão: “Senhor, abre-nos a porta! […] Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!” (Lc 13,25.26); e ouvirão a negativa do Senhor: “Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!” (Lc 13,28). Muitos que acham que têm intimidade com Deus porque O procuram sazonalmente, de tempos em tempos esporádicos e de qualquer maneira, poderão não se salvar, e herdarão a negativa do Senhor: “Não sei quem sois”. Cuidado! Não basta saber quem é Deus (até o demônio sabe quem Ele é!), é preciso viver de acordo com as responsabilidade e radicalidade do Evangelho a nós anunciado. Seremos cobrados pelo que escutamos, independentemente se o acolhemos e vivemos ou não.

A Carta aos Hebreus faz uma exortação provocativa: “No momento mesmo, nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados. Portanto, ‘firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai os passos dos vossos pés’, para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado” (12,11-13). A porta estreita do Evangelho deve corrigir as nossas imperfeicões. Seja o Evangelho de Jesus o nosso pedagogo, o nosso disciplinador, o nosso corretivo, “porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” (Mt 7,13).

Sejam os anunciadores da Boa-Nova de Jesus, os Pastores da Santa Igreja Católica e todos os demais comprometidos com a evangelização, os enviados para anunciar, para trazer corações e vidas a Deus para o restauro, para a conversão, para a vida, para que, mesmo na instabilidade deste mundo e dos tempos, estejam os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias, no Céu, desde já, desde agora, exercitando-nos em realizar a vontade de Deus, que nos concede a felicidade, a nossa salvação.