ARACAJU/SE, 26 de abril de 2024 , 18:15:46

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Corações ao Alto!

A Quaresma, como tempo que nos prepara para a Páscoa, faz-nos recordar a vida, que nos prepara para a posse dos bens celestes. Assim, Liturgia e vida se congregam e se harmonizam para fazer-nos entrever a glória de Deus, principalmente pelo Santo Sacrifício da Missa, onde o tempo e o espaço são rasgados pelo fulgor da eternidade de Cristo, que nos convida à contemplação Daquele a quem os anjos adoram sem cessar, a Quem os nossos corações já se elevam. Por isso, em todos os anos, no Segundo Domingo da Quaresma, refletindo as páginas que falam da transfiguração do Senhor, a Igreja vive melhor este tempo de conversão.
Após ter revelado aos discípulos acerca dos sofrimentos e da ressurreição que Lhe aguardavam (cf. Mt 16,21), para que não ficassem escandalizados pela predição, o Senhor escolheu Pedro, Tiago e João para, diante deles, transfigurar-Se. Também para nós, para afugentar-nos as trevas do desânimo causadas pelos sofrimentos da nossa existência ou mesmo para focar-nos diante das distrações causadas pelas euforias da vida, o Senhor continua a transfigurar-Se, nunca nos privando de contemplar a Sua glória, que, como Filho único, recebe do Pai eternamente (cf. Jo 1,14). “E [Jesus] foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz” (Mt 17,2). Como o Senhor, continuamente, revela-Se a nós? Como transfigura-Se? Na pessoa do sofredor, a quem Ele Se associa ou mesmo nos nossos próprios e diários “calvários”; mas, de maneira sublime, na Eucaristia, onde há a transubstanciação. É preciso que o reconheçamos, que escutemos Sua voz (cf. Mt 17,5)!
“Senhor, é bom ficarmos aqui” (Mt 17,4), eis a exclamação de Pedro. “Detenhamo-nos também a considerar um pouco a beleza do paraíso e raciocinemos assim: São Pedro e os seus felizes companheiros provaram apenas uma só gota da doçura celestial. Nem assim puderam conter-se que não rogassem a Jesus, lhes fosse concedido permanecerem sempre naquele lugar. Que será de nós, quando o Senhor ‘saciar os seus escolhidos da abundância de sua casa e os fizer beber na torrente de suas delícias? (Sl 35,9)’”, como interroga Santo Afonso Maria de Ligório. Com um raio da divindade de Jesus, que resplandeceu a Sua humanidade, o que poderíamos ter em conta de mais superior e caro do que a herança celeste, de maneira a descuidar-nos de nossa salvação, que nos eleva ao paraíso?
Ver Deus como Ele é e sermos-Lhe Seus semelhantes (cf. 1Jo 3,2): eis a nossa vocação, o coroamento da nossa vida; a certeza que nos fará avaliar com Deus que o nosso viver valeu a pena. Essa realidade é tão profunda que, embora ainda não estejamos a vivê-la plenamente, o seu antegozo no tempo e no espaço, ainda que sob véus de mistério que se entrelaçam com os mistérios da nossa existência, tal como experimentamos na Missa, faz-nos prostrar diante de Jesus, jubilosos e perplexos, tal como os discípulos, “que ficaram assustados e caíam com o rosto em terra” (Mt 17,6); uma alegria que nos faz desejar o céu imediatamente, tal como ansiavam os santos.
Animados com a glória de Deus, à qual seremos associados, focados nesta vocação, cruzemos a vida, com os seus desafios e entretenimentos, rumo à imortalidade. “Animemo-nos, portanto, e procuremos sofrer com paciências tribulações que Deus nos envia, oferecendo-as ao Senhor em união com as penas que Jesus Cristo sofreu por nosso amor. Quando as cruzes nos afligirem, levantemos os olhos ao céu e consolemo-nos com a esperança do paraíso. Tudo é pouco ou, antes, nada para merecermos o Reino dos Céus” (Santo Afonso Maria de Ligório), nossa alegria já sentida, já vivida.
Com a Igreja, que ruma à Páscoa do Cristo, Seu Senhor e Esposo, permitamo-nos ser iluminados pela glória de Deus, escutando sempre a voz do Filho muito amado, elevando para Ele os nossos corações.