ARACAJU/SE, 26 de abril de 2024 , 16:24:38

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Cristo, Cordeiro de Deus

Vislumbrar o Cristo como Cordeiro é uma prática bastante recorrente, principalmente pela Santa Missa. Percebam que o momento da Fração do Pão Eucarístico, o Divino Corpo do Salvador, é acompanhado pelo canto ou récita da doxologia “Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós! […] dai-nos a paz!”.

Na tentativa de aclarar-nos neste título tão profundo e rico de Jesus, o teólogo espanhol Frei Luís de Granada dirá o seguinte: “[…] a palavra Cordeiro, referida a Cristo,  significa três coisas: mansidão de condição, pureza e inocência de vida, satisfação de sacrifício e oferenda” (In: Los nombres de Cristo, Obras Completas Castellanas, BAC, Madrid, 1957, I, pág. 806). Isso quer dizer que, denominar o Senhor “Cordeiro de Deus”, tal como São João Batista (cf. Jo 1,29), é fazer justiça ao imperativo de Jesus, que nos ordena: em relação à mansidão de condição: “Aprendei de mim, que sou de coração manso e humilde” (Mt 11,29); à pureza e inocência de vida: “Bem-aventurados os puros em seu coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8), e ainda: “Deixai vir a mim as crianças; não as impeçais! Porque o Reino dos Céus são para os que forem como elas” (Mc 10,14; Mt 19,14); e ligado à satisfação de sacrifício e oferenda: “Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra” (Lc 12,50); “Tomai, todos, e comei: isto é o meu Corpo, que será entregue por vós. […] Tomai, todos, e bebei: este é o cálice do meu Sangue […], que será derramado por vós e por todos para remissão dos pecados” (Lc 22,19-20; 1Cor 11,23-26).

Porém, retornemos ao Rito Santo da Missa: como o Cristo Sacramentado é apresentado, solene e imediatamente, antes a nossa comunhão Consigo? Em palavras dirigidas a nós, como numa espécie de bem-aventurança: “Felizes os convidados para a ceia do Senhor. Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, ao que respondemos: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo!”. Sim, somos felizes se nos deixamos abrir ao acolhimento do Cristo, Cordeiro Manso, Puro e Sacrificado, em nossos corações, em nossas vidas. E o Servo do Senhor por excelência, o próprio Jesus, imolado e recebido na comunhão, será a nossa luz. Iluminados por Ele, entramos e permanecemos no mistério de Sua Salvação. É por isso mesmo que temos, da profecia de Isaías, as palavras que o Senhor dirige ao Seu Servo, ao Seu Cristo: “Não basta seres meu Servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: eu te farei luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra” (Is 49,6).

Este Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ilumina-nos porque deseja tirar-nos da escuridão do mal. Esta referência ao “pecado do mundo” diz respeito ao pecado original – que em Adão afetou toda a humanidade -, e aos pessoais de todos os homens de todos os tempos, porque no Cordeiro de Deus está a nossa esperança de salvação. E, em todas as vezes que vivificamos a nossa vida com a luz e a própria vida do Cordeiro de Deus, que Se entregou a nós na Cruz e, no Altar, continua a oferecer-Se, são alimentadas em nós as virtudes para o bem e a esperança do Céu porque somos “chamados a ser santos junto com todos que, em qualquer lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1Cor 1,2).

Nunca nos esqueçamos: o Paraíso outra realidade não é do que a eterna contemplação do Trono do Senhor, onde o Cordeiro, redivivo, está imolado,  como nos garante o Apocalipse de São João (cf. Ap 19); e, como Ele, estaremos, absortos, glorificados em Sua glória, vivificados em Sua divindade.