ARACAJU/SE, 26 de abril de 2024 , 9:44:48

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Para o pastor, cansaço é descanso

Quando do nosso Batismo, imediatamente após o banho da regeneração que nos fez filhos de Deus, a Igreja ungiu-nos com o Santo Óleo da Crisma, configurando-nos a Cristo Rei, Profeta e Sacerdote. A partir de então, possuímos o dado da realeza, já que reinamos com o Senhor; profetizamos com a Profecia mesma de Jesus; como, também, possuímos um sacerdócio, já que, como o Senhor, deveremos oferecer a Deus a nossa vida como um agradável sacrifício de louvor, elevando-Lhe efusivas preces e intercessões. Reis, profetas e sacerdotes em Cristo, fazendo valer a prerrogativa de sermos cristãos, possuindo, inclusive, os mesmos sentimentos do Senhor.

 

Na leitura das páginas do Evangelho segundo Mateus, temos: “Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). Creio que tal ternura do Senhor deverá se estampar em nós, imprimindo-nos pastores segundo o coração de Deus (cf. Jr 3,15). Pastores cujos sentimentos não expressem as nossas fraquezas, cansaços, debilidades ou interesses, apascentando a nós mesmos. Mas, uma expressão da profunda preocupação do próprio Jesus ao ver pessoas que, possivelmente, estejam mais oprimidas, cansadas e abatidas do que nós, do que nossa medida subjetiva, por vezes tão equivocadamente medíocre.

 

Sim, somos um povo sacerdotal, “um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19,6a), tal como o Senhor conceituou a Moisés. E quando digo isto, não me refiro apenas àqueles que, pelo Sacramento da Ordem Sacerdotal, fomos constituídos curas de almas. – Também nós! Principalmente nós! – Aludo, igualmente, a todos os quais, seja pelo encargo familiar ou pelos que estão numa posição de destaque ou de liderança, devem nutrir sentimentos pastorais no ambiente que lhes foi confiado pelo próprio Deus.

 

Para configurar-nos realmente à compaixão de Cristo, por primeiro, é necessário que contemplemos a pedagogia de salvação exercida por Nosso Senhor. Exemplos são bastantes, principalmente se tivermos presentes os paradigmas de palavras e atitudes dados por Jesus, Face misericordiosa do Pai, tais como as parábolas da ovelha perdida (cf. Lc 15,1-7) e do Bom Pastor (cf. Jo 10,11-20), do resgate de tantas vidas emporcalhadas pelo pecado ou mesmo o mistério de Sua Cruz Salvadora. Pois, como afirma São Paulo: “Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,6-8).

 

Em segundo lugar, para termos um sentimento compassivo ao do próprio Deus, é preciso que ouçamos a Sua voz e guardemos a Sua aliança. Instruídos pelo que ordena e exemplifica o próprio Deus Todo-poderoso, que, em Sua sempiterna misericórdia, redime, resgata e salva, nunca nos cansaremos, tampouco acharemos que nos excederemos em ternura, em nossa ação de resgate e de condução daqueles que nos são confiados: filhos, subalternos, funcionários, enfim, todos os que, de certa maneira, dependem de nós e da nossa preocupação, inclusive. Isto é guardar a aliança de Deus.

 

Contemplar e escutar Deus, repetir-Lhe as atitudes para salvar a tantos, a muitos e a todos: eis a “ambição” daquele que, em Cristo, deseja apascentar, imolando-se, reconhecendo não apenas os próprios limites, como, antes, compreendendo os dos outros. Eis os passos árduos que deveremos percorrer. Que os nossos humanos cansaços sirvam de descanso aos outros; descanso que interiormente restaura e dá vida.