ARACAJU/SE, 18 de maio de 2024 , 12:21:43

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Disputas insanas

Qual a razão de tantas disputas insanas, nos meios de comunicação social, por parte de alguns líderes religiosos? Dentre os protestantes, alguns disputam fatias de seus próprios fiéis, chegando mesmo, nalguns casos, a haver um confronto duríssimo entre certas denominações. Outros disputam para saber quem ataca mais os católicos. Alguns que se dizem rabinos deram para atacar os cristãos e massacrar Jesus Cristo, chegando ao ponto de negar-Lhe a existência, ou chamando-O de impostor. É óbvio que para estes, na sua teologia, o Messias jamais poderia ser o próprio Deus encarnado, como nós cristãos acreditamos e proclamamos. Já para o Alcorão, Jesus é um profeta.

Se não estamos mais nos tempos das guerras de religião entre católicos e protestantes, quando tantos males foram causados a muitas pessoas, ou não estamos mais no tempo das Cruzadas, que também muitos malefícios causaram de lado a lado, a cristãos e mulçumanos, vivemos tempos de uma guerra insana, de julgamentos banais, de pregações ridículas que chegam ao ponto de haver um determinado atrelamento religioso-político, como jamais vimos antes.

Por outro lado, não o negamos, dentro da própria Igreja Católica há uma disputa acirrada por parte de padres, bispos, freis, freiras, que na internet e nos últimos anos, se soltam e soltam, por vezes, algumas barbaridades teológicas, mas agregando católicos incautos, leigos e leigas, que se deixam iludir por certos delírios devocionais desses tais pregadores, que se apegam ao mais extremo conservadorismo, nalguns casos, inclusive, em constante embate contra o Papa Francisco, um homem de Deus que se tem colocado como, no meu entendimento, tem que ser qualquer cristão, Papa ou não, voltando-se para a pureza do Evangelho, que acolhe a todos, na conformidade do que disse Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Há, aliás, no catolicismo brasileiro, um engajamento doutrinal que veio de fora, mais de perto, da Espanha, cuja Igreja Católica ali assentada tem sido significativamente conservadora, desde os tempos da ditadura de Franco, um líder sanguinário, que dividiu a Espanha, inclusive com a participação da famigerada aviação militar de Adolf Hitler, na Guerra Civil Espanhola, na década de 1930, e cuja barbaridade restou registrada no famoso quadro de Picasso, intitulado “Guernica”, pintado em 1937, e que é uma declaração de guerra contra a guerra e um manifesto contra a violência. A cúpula da Igreja apoiou Franco e suas atrocidades, em nome do combate ao comunismo. Foi o que se alegou, então.

Sob o ponto de vista político, há, hoje, um fortíssimo engajamento de certas denominações protestantes, que conduzem os seus rebanhos para determinado alinhamento com estruturas bizarras e conservadoras, mitificando pessoas, e chegando, por vezes, ao extremoso de combate a instituições republicanas, mas em nome do “republicanismo” delirante que eles entendem ser o “correto”. E disso também participam muitos católicos. É a extrema-direita eclodindo desde a antepenúltima eleição presidencial. Do mesmo modo, alinhamentos de católicos deram guarida à esquerda, ainda que este segmento tenha, no seu imo, propostas que vão de encontro a certos princípios cristãos, mas, por outro lado, asseguram princípios outros, que se assentam dentro do pensamento centrado nos Evangelhos. É uma luta!

Tempo houve em que a Igreja Católica se instrumentalizou politicamente, quando foi criada a Liga Eleitoral Católica. Parlamentares católicos foram eleitos, a partir da Constituinte Nacional de 1934. Em Sergipe, foi eleito para a Constituinte Estadual de 1935 o Cônego Miguel Monteiro Barbosa, como para a Constituinte estadual de 1947 foi eleito o Cônego Edgar Brito. Todavia, com o militarismo de 1964, a Igreja Católica abandonou a atividade política institucional. E viu alguns dos seus prelados, bispos e padres, serem ferozmente perseguidos pelo novo regime, a exemplo, só para citar alguns bispos, de Dom Távora, Dom Hélder, Dom Adriano Hipólito, Dom Paulo Evaristo Arns e tantos outros. Estes foram tidos como comunistas. Que absurdo! Lutar pelos pobres e com os pobres era comunismo. Ainda hoje, no conservadorismo católico estes e tantos outros são chamados de comunistas. Enquanto isso, os protestantes tomaram o lugar, grosso modo falando, que, antes, os católicos ocuparam na atividade político-partidária. E o têm feito com sucesso e estardalhaço, muito além do que os católicos fizeram.

A disputa insana, em muitos arraiais religiosos, internos ou externos, há de continuar, especialmente com a instrumentalização política, para cá ou para lá, ou seja, à direita ou à esquerda. Mas, há muito de hipocrisia em alguns desses arraiais religiosos. Para lá ou para cá. Para finalizar, por enquanto, um líder religioso protestante chegou ao cúmulo de taxar o Papa Francisco de “hipócrita”, e que este estava envergonhando os católicos. Com certeza, a hipocrisia mora noutro lugar. Francisco não me envergonha.

Por aqui, na nossa Arquidiocese, estamos há sete meses sem o novo arcebispo. O que está havendo? Precisamos do novo timoneiro, este ou aquele. Precisamos ver o clero unido. Precisamos nos imbuir da necessidade de uma profunda revisão individual (de alguns) e coletiva, em vários aspectos: pastorais, morais e administrativos. Que venha logo, o novo arcebispo. E que venha com coragem, firmeza, discernimento e fraternidade. Com o Evangelho no coração e na mente.