ARACAJU/SE, 27 de abril de 2024 , 2:39:59

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Um pouco de Zé Grande

Na caderneta de papai aparece como Papai Zezé. Talvez fosse assim que vovó Brasília, sua sobrinha, o tratava. Para o restante da população, Zé Grande, ou seja, um José cuja altura foi suficiente para ser conhecido como Zé Grande. Realmente era alto, como revela a única fotografia que me chegou as mãos. Ele, de terno, guarda-chuva a protegê-lo do sol, em uma comemoração do Sete de Setembro de 1936 ou 1937, na Praça da Matriz. Papai, também de terno, ao seu lado.

Zé Grande foi um bom moleque, deixando uma série de fatos que Álvaro [de Antônio Agostinho) contava. Um, no cinema, peça teatral com artistas unicamente da terra. Um cidadão, que, na vida pessoal, era corno, acusava a esposa (na peça) de trai-lo: E tu, amada, me trai. Zé Grande falou alto: Não mentes não, fulano. Em outra, num passeio no domingo ao sítio de um amigo, em povoado próximo, viu o anfitrião comer jaca o dia inteiro. De volta à cidade, foi a Igreja e anunciou a morte do anfitrião. O sino bateu o toque dos mortos. O defunto, que não morreu, foi a cidade indignado. Saída de Zé Grande: Pela quantidade de jaca que você comeu só podia morrer.

Deixando os fatos chistosos de lado, – que são muitos – para a casa de Zé Grande vovó Brasília foi enviada de Laranjeiras, a fim de se afastar de namoro de olho, na janela da sua casa. Vovô Zeca começou a se enxerir, Zé Grande percebeu e apressou o enlace: Sobrinha minha não namora em minha casa. Se quiser casar, escreva para o pai pedindo a mão dela. Vovô assim fez. Casou-se: cinco filhos e três filhas, além de dois que morreram com pouco tempo de nascidos.

Não ficou só aí. Em 1938, começo do ano, papai se assanhava a fim de viajar para o Rio de Janeiro, instigado pelas cartas da avó Querunbina Etelvina de Carvalho Lima. Ze Grande  foi incisivo: Isso é lá hora de ir para o Rio? Logo agora que um fazendeiro de Macambira vem morar em Itabaiana, carregado de filhas bonitas. Por a ou por b, a viagem não ocorreu. Em janeiro de 1940, papai casou com uma delas, a terceira da casa. Fui o último filho de uma penca de quatro.

Zé Grande morreu em 14 de abril de 1940. Ou seja, depois do matrimônio de papai. Não há registro de ter sido devoto de Santo Antônio, embora ocupasse a linha de frente de dois casamentos. Pena que, do segundo, não tivesse visto a árvore dar frutos. A morte não deixou.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras