ARACAJU/SE, 2 de maio de 2024 , 8:36:10

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Na fila do caixa em supermercado

Na minha frente uma mulher, que revela ter pressa, e sendo atendido, um senhor, já de idade avançada, a pagar suas compras com o cartão de crédito, se arrastando na sua busca na carteira, a mulher, atrás, a gesticular seu inconformismo, fazendo moganguice, mexendo a cabeça para um lado e para outro. O senhor termina encontrando o cartão, dedilha números e se retira, voltando em seguida com um carrinho para pegar as compras. O drama continua. Ele para no caixa anterior e começa a colocar as compras alheias no carrinho, até ser alertado do equívoco, recolocando as compras no lugar devido e avançando para pegar as suas. Coisas da faixa etária, devo ter pensado, imaginando como vou me comportar quando atingir a mesma idade.  Acredito ter ouvido do anjo, que me acompanha, um asserto: Se chegar lá. Me quedo. Se eu chegar lá… Tudo bem.  

A mulher à frente é atendida, chega a minha vez, criando coragem para perguntar a caixa quem escolheu seu nome, na cara que é inventado, junção de algumas silabas do nome do pai com algumas sílabas do nome da mãe, gerando algo bem horroroso, desses que se pronunciado em frente a uma roseira branca, a roseira murcha em menos de dez minutos. A caixa ri, discorre sobre a história do seu nome, cita o das duas irmãs, mais feios ainda, não demonstrando nenhum trauma. Muito bem. A esta altura, uma senhora, que vem depois de mim, interrompe a conversa, exibindo um pacote de pescoços de galinha, para proclamar seu gosto, tanto a mim, que fico só a lhe fitar, demonstrando meu total e silencioso desinteresse, – pescoço de galinha não me atrai – o que ela não capta, diferente da caixa, que presta atenção, perguntando-lhe como prepara, e então, a troca de experiências culinárias de uma e da outra domina a conversa, eu alijado do debate, recolhendo minhas compras e me retirando, as mãos cheias de pacote, ora, ora, não há preparo que torne pescoço de galinha atrativo, nem ouvir o diálogo travado me sacode a gulodice.

Contudo, nas compras, há algo que se repete e, ao que parece, como o sapato que se adapta ao calo, ou o calo ao sapato, não chama mais a atenção, a gente já acostumado, apesar de doer no bolso. O aumento dos preços, os números correndo velozmente como ocorre nas bombas de posto de gasolina, quando se abastece o veículo. É suplício que não há como evitar. Infelizmente.  

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras