ARACAJU/SE, 3 de maio de 2024 , 19:25:27

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Da praia as azeitonas encrespadas

Praia de S. Margherita Ligure, 25 junho. Espaço curto, solo cinzento, pedras distribuídas por toda a área de areia que os banhistas ocupam, as ondas indo e vindo, às vezes tomando banho de sol, outras, mastigando frutas, se banhando, depois, de água doce numa torneira de metal.  Uma variedade de atitudes. Praia com leve descida, dando condições do banhista, mesmo alienígena, de ficar dançando com o avanço das ondas, sem reclamar do frio, água esverdeada, como se fosse um pedaço perdido do paraíso. Os meus dançavam com o vai e vem das ondas. Eu, no calçadão, em um banco, embaixo de uma oliveira – eram várias elas e os bancos -, a me proteger do sol, observava, o olhar girando para todos os lados, na tentativa de captar os movimentos, dos que passavam a minha frente e dos que se deliciavam no banho de sol e no balançar das ondas.

De tudo, o espanto de estenderem toalhas ou tecidos apropriados, em forma retangular, no chão – marcado por pedras, não vamos esquecer – para o banho de sol. Não o chão exclusivamente de areia. Nada disso. Não era meu corpo, nem perco meu respeito pelo sol. Os banhistas que se deitavam na areia eram unicamente mulheres, brancas e loiras, jovens e maduras, bonitas e feias, sem se incomodarem com a aspereza das pedras servirem de leito. E então, de barriga para baixo, formavam um mar de bundas de diversas dimensões e tonalidades, me lembrando o poema de Alberto Carvalho – ah! a praia não tinha dunas/mas duas apareceram/quando deitaste de bunda p´ro céu –  a se espremerem no espaço pequeno, porque a água se estende até bem próximo ao calçadão, deixando apenas um tantinho de praia, aliás, bem aproveitado.

Assistia de certa distância o banho e a mulherada a se estender nas pedras, as pessoas, no calçadão, passando para lá e para cá, eu, acoutado na sombra da oliveira de folhas pequenas e escuras, a esconder azeitonas ainda minúsculas, o calorão me motivando a pensar se aquelas azeitonas, de casca encrespada, teriam futuro, até concluir que não era problema meu, as oliveiras não me pertenciam, minha presença ali era transitória, ou seja,  não tinha nada a haver com o porvir das azeitonas, e então, fiquei a esperar os meus para o almoço ali perto, e, depois,  pegar o trem de volta a Genova. E as azeitonas encrespadas? Apenas uma página virada…

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras