ARACAJU/SE, 26 de abril de 2024 , 0:11:53

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De discursos, prefácios e cartas

Finalmente, depois de anúncios de quase todo mundo presente – porque tudo era autoridade -, foi dada a palavra ao orador encarregado de saudar a nova diretoria. Não teve outra: após as saudações de praxe, excelentíssimo senhor fulano de tal, excelentíssimo senhor fulano de tal, etc. e etc., lendo as fichas que o cerimonial lhe passara, iniciou sua peroração: Convidado para saudar a nova diretoria… Paciência. Eu não tive conversa. Me retirei, facilitado por me encontrar em sessão virtual. Ora, meu Santo Antonio dos Pobres, padroeiro de minha terra, quem poderia saudar a nova diretoria se não tivesse sido convidado para tanto?

Esse mesmo vício ocorre em livros, sobretudo de tese de doutorado. Convidado para prefaciar o seu livro… e tome asneiras. A mesma indagação faço: quem pode prefaciar um livro sem ser convidado? Se está prefaciando é porque, para tanto, foi convidado. Quem não é convidado, não prefacia. Obvio. Afinal, não há prefaciador penetra. Pode se oferecer, claro.

Contudo, como se fosse um vírus – termo que os tempos hodiernos tornaram tão comum, incomodo e letal -, continua se propagando, pelo menos nos livros que consigo folheá-los. Lê-los, já é exigir muito, porque, em termos de arrumação da matéria, parece um bolachão, ou seja, tudo igual, como se fosse parido numa forma de assar pão, até nas palavras chaves, apontadas no início. Se misturar todas, no escuro, o autor não vai saber qual é o seu.

Como só me contento quando desço ao fundo do poço, considero a introdução de tais discursos ou o início dos aludidos prefácios como um vírus antigo, a sofrer mutação empreendida pelos tempos. E a origem – eis lá minha grande e extraordinária descoberta – nasceu da carta de tempos passados, quando, aliás, cartas eram escritas. Havia um carimbo que era colocado em todas elas, no início. Assim: Ao pegar nesta pena tenho a finalidade de dar minhas notícias e ao mesmo tempo de saber das suas. Como vai você? Eu vou assim e assado. Era exatamente dessa forma. Com a mutação, o vírus diminuiu, mostrando a cara  em discursos e em prefácios, na reiteração do óbvio. O que continua faltando é a vacina para sua exterminação. E em vacina, no caso, ninguém fala. Pudera! A ninguém causa mal, apenas uma minoria é que lê. Esclareça-se.