ARACAJU/SE, 3 de maio de 2024 , 17:37:24

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De mendigos, cães e gatos

 

Mendigos nas principais ruas do comércio no centro histórico de Lisboa não é novidade alguma. O inusitado é a presença de cães a se transformar em principal pedinte. Ou seja, não é o mendigo que pede para ele próprio, mas para o cão. Dê comida ao meu cão, escrito em papelão. Ao lado do pedinte, um ou dois cães, bem disciplinados em meio dos molambos que constituem o patrimônio ambulante do dono. Ou, então, o cão no colo do dono. A esmola se volta para o bem estar do animal que, afinal, não tem culpa se o seu proprietário se sujeita a ir à rua suplicar por um refrigério, via moeda, através de anúncios em modestos papelões.  

Em andanças anteriores, vi, aos pés do elevador de Santa Justa, hippies com cães amarrados no meio de seus pertences. Os hippies, dois ou três, não pediam ajuda, e, se pediam, nada vi a respeito que possa testemunhar. Os cães não se revelavam amistosos. Latiam muito, para outros cães que passavam e para as pessoas. Em outra viagem, lá para trás, vi um pedinte  a suplicar por moeda, na defesa da alimentação, e, para não estar mentindo ou escondendo, esclarecia: para seu uísque também. Ninguém é de ferro. Se fosse, o uísque seria excelente lubrificante.  

Indo mais a fundo, vi um pedinte, cego, ao seu lado, parado, um cão, grande, quieto, como se fosse um soldado a porta de quartel, sem se preocupar em olhar para um lado e para outro. Era só companhia, ou, mais do que isso, guarda do dono, indiferente as pessoas que por ali trafegavam. Na sua pose, a indiferença para o turismo em Lisboa. Em Roma, avistei um, sentado no chão, o cão enorme, todo branco – devia ter alguma linhagem -, e o dono a espera de uma esmola.  Bastava a aparência para atrair a ajuda. O cão seria também destinatário dos euros recebidos. Em contrapartida, as ruas se enchem de pessoas passeando com seus cães, na evidente demonstração da desigualdade até mesmo entre os animais.   

No Porto, no centro, uma senhora pedia esmola, o gato em almofada, chapéu e traje de crochê, quieto como um soldado de guarda. A vasilha no chão para receber a moeda. E, por falar em gato, um, Frajola, foi no mesmo voo meu do Recife a Lisboa. Aposto como não gostou das três horas, no aeroporto, fila para o carimbo no passaporte, fruto de greve. Nem ele, nem ninguém.