ARACAJU/SE, 26 de abril de 2024 , 3:47:19

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O sonho de ser bancário

A cena ocorre no Bar Brasília. Chega  um, de idade mais ou menos equivalente, com uma apostilha de matemática na mão, a alardear que ia estudar a fim de fazer o concurso para o Banco do Brasil. Eu ouvi e emurchecido fiquei. Estava fora do páreo. Não seria nunca bancário, à míngua de domínio das ciências matemáticas. Analfabeto autêntico na matéria. À época, na pequenez da aldeia, era o maior emprego que poderíamos alcançar. E eu, coitado de mim, nem concorrer podia, como se fosse um perneta disputando uma corrida com todo mundo com os dois pés. A esta altura do campeonato, o futuro estava bem distante, a gente só conseguindo vislumbrar um lugar no Banco do Brasil. O mais permanecia escondido no dia de amanhã.

Os bancários solteiros, que por lá chegavam, eram disputados, não na corda de laçar, o que seria exagero. Casar com um bancário era ter o futuro garantido, como ainda hoje relembra o dr. Luiz Carlos Andrade. Muitos se casaram por lá, décadas de cinquenta e sessenta. Quanto ganhava um bancário, não se sabia. Apenas que, trabalhando no Banco do Brasil, estava despreocupado da vida. O cargo de gerente, de tão importante, que, um deles, dos meus tempos de menino, era conhecido como o Gerente, sem necessitar de complemento do nome. Anos depois, o vi em Aracaju, de camisa de manga comprida, gravata pendurada, indo para a agência do Banco do Brasil. Me espantei. Como se, depois de ser Gerente do Banco do Brasil,  em Itabaiana, não houvesse mais outro cargo igual. Só o dilúvio, como afirmou o rei francês.

Quando o nevoeiro de nossa parca e natural visão de futuro, à época, se diluiu, trilhamos o caminho do curso médio, esquecidos do concurso para o Banco do Brasil. Foram tantos estudantes, ano a ano, que no Colégio Estadual de Sergipe, no Aracaju, era como se estivéssemos em Itabaiana. Então, as profissões foram se descortinando e sendo escolhidas, uma aqui, outra, ali, depois de termos povoado os bancos das faculdades aracajuanas e de outras cidades. De formatura, no último dia 8, completei quarenta e sete anos. De professor vivo, mais nenhum.  Tudo mudou, a começar do meu cabelo preto que se tornou branco. Só um traço não se alterou: a minha dificuldade em matemática. A calculadora, de quando em quando, me salva.