ARACAJU/SE, 26 de abril de 2024 , 4:42:02

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Reminiscências do futebol em Itabaiana

Eu fui em cima da hora para o jogo. Não vi espaço nas arquibancadas, e, então, resolvi me encostar no alambrado. A visão não era lá de todo agradável, mas era a única que, naquele exato momento, eu podia dispor. Fiquei ao lado de um ex-atleta do Itabaiana, centro-avante, de época tão remota que não me lembro de tê-lo visto atuando. Verificou-se que o ataque nosso perdia gols a três por dois, e, ele, o velho atleta, reclamava, falando alto. Eu sempre a apoiá-lo, com monossílabos, até que resolvi falar. Então, disse, para ele ouvir, que aqueles jogadores ali, atuando, eram fracos. Artilheiro o Itabaiana teve em tempos antigos. Conheci um que matava a bola no peito, avançava para o gol, não respeitava os zagueiros, e, cada chute era um gol. Ele me perguntava o nome, e, eu a dizer que ele não conhecera, não adiantava declinar o nome, e, ele insistindo, insistindo, até que revelei o nome: Valdenor. Era o próprio. Ele ficou olhando para mim, calado, algumas lágrimas caindo dos olhos. Emudeceu.

O fato ocorreu nos primeiros anos da década de oitenta, ou seja, quase quarenta anos atrás. Há alguns dias atrás soube de seu falecimento. Noventa e quatro anos. Acredito mesmo que, da sua idade, um ou outro ainda se encontre por aqui. A grande e imensa maioria já bateu perna. Cito Dutra. Na última vez em que o vi, na festa de aniversário de Zé Gentil, pelas bandas do Santo Antônio, no oitão da Igreja, perguntei-lhe sobre o sistema de jogo de seu tempo, a ele, que foi campeão da zona centro em 1959. Sua resposta foi rápida: não havia sistema de nada. Era bola para a frente, quem quiser que a dominasse e avançasse.

 Não me era novidade. Antônio Oliveira já batia nessa tecla. Não se passava a bola, ou seja, não se saia jogando da defesa para o meio de campo e deste para o ataque. E, aí, apontava Euclides barraca como o primeiro jogador que ele viu, em Itabaiana, passando a bola. E mais ninguém. Digo, o segundo foi ele mesmo, Antônio Oliveira, a receber a bola no meio de campo e sair procurando um companheiro na troca de passes, evitando o chutão para a frente, traduzido na bola subindo e descendo como se fosse um balão de São João.

A gente, menino, via, sem entender de nada, uma partida entre o Itabaiana e o Cantagalo. Achava o máximo. Ainda hoje há quem se refira a Dinda como o melhor goleiro que já passou por lá – era do Cantagalo. A cidade se dividia para ver o encontro dos dois. Parecia a final de uma copa do mundo. Nas fotos dos dois times, os jogadores, disciplinadamente arrumados, a defesa em pé, de braços cruzados, o ataque, acocorado, um deles segurando a solitária bola, couraça, então, como se denominava. Os times treinavam na terça e na quinta. Treinos, se entenda, uma pelada entre titulares e reservas. Depois, aprenderam a fazer exercícios físicos, correndo pelas ruas da cidade. Nos jogos em outras urbes, perambulava um de porta em porta para acordar os demais.

Muito ouvi dos mais velhos. Da metade de cinquenta para cá e até certa época, em alguma quantidade, vi. Hoje me limito a relembrar.